Spirit Camera: The Cursed Memoir - Análise
De câmara e diário na mão.
Spirit Camera é última sensação no que toca a jogos de Realidade Aumentada na Nintendo 3DS. À primeira vista, tem muito por onde captar a atenção, já que oferece uma jogabilidade tão singular. Faz uso das muitas características da 3DS e ainda incluí um pequeno livro interativo para usar em conjunto com a câmara da consola. Na verdade, o melhor será mesmo esquecer os tradicionais conceitos de livro e câmara - o Purple Diary e a Camera Obscura ocupam os seus lugares.
Spirit Camera esforça-se em fazer o jogador acreditar que assume de facto a narrativa, desde logo por estar na posse dos dois artefactos que servem de mote para toda a ação. O Purple Diary esconde uma série de mistérios que apenas poderão ser desvendados através Camara Obscura. Esse vínculo cria uma ideia de exploração que ganha força com o aparecimento de uma personagem que passa a acompanhar o jogador.
Olhando a partir da câmara, Maya estará sempre presente a nosso lado. Esta personagem feminina de indumentária branca serve de ponte a toda a narrativa, levantando questões e acrescentando pormenores no enredo. Novidades no enredo surgem geralmente pelas mãos de Maya. Rapidamente se percebe que o diário relata eventos de um misterioso ritual. O sobrenatural é o prato principal desta aventura, com espíritos a saltar do livro e a invadir a casa do jogador.
Cada página do livro esconde um mistério. É uma progressão linear. Muito frequentemente o jogador é questionado em relação a qual será a página seguinte à qual a câmara vai responder. O desafio é mínimo, já que tende a ser sempre a seguinte. Numa aventura em que se pressupõe que o jogador assuma o controlo, é irónico que acabe por ter um papel tão passivo. Não quer dizer que não existam secções em que é preciso puxar um pouco mais pela cabeça - seja através de jogos propostos e imagens no livro -, mas é impossível não sentir que o conteúdo principal é demasiado óbvio e recorrente.
A progressão dá-se quase sempre por base de uma norma tornada evidente demasiado cedo. O jogador encontra espíritos e anda pela casa a tentar perceber de que males estes padecem. Isso eventualmente dará uma pista para prosseguir e repetir o processo. Mas o meu grande problema com Spirit Camera é que é um jogo demasiado inconsequente. As ações do jogador têm pouco relevo simplesmente porque tudo está desde logo delineado. De que serve perguntar o que quero fazer a seguir se na realidade não o poderei fazer?
"As ações do jogador têm pouco relevo simplesmente porque tudo está desde logo delineado. De que serve perguntar o que quero fazer a seguir se na realidade não o poderei fazer?"
O livro oferece até ideias frescas e formas de progredir engraçadas, mas isso acaba por ser quase um bónus num jogo onde a Realidade Aumentada é recorrentemente mal utilizada. Procurar espíritos pela casa é tosco - é aquela altura em que nos levantamos porque tem que ser. O jogo ganharia caso o livro fosse alvo de todo o destaque. Existem ainda secções em que o jogador entra num mundo virtual e utiliza a consola para explorar os cantos è casa. Essa exploração teria beneficiado o jogo caso fosse utilizada mais do que as duas ou três vezes em que aparece.
Com o prolongar da aventura, alguns mistérios e novas formas de progredir vão aparecendo. Nada de muito inovador, já que a aventura também é curta. Três a quatro horas serão suficientes para a acabar, dependendo dos problemas que podem ou não ter a capturar corretamente o livro. É que a Camera Obscura não se dá bem com…o obscuro. Na sua essência, não é um jogo muito assustador. Tem um certo charme, principalmente com algumas escolhas gráficas, mas não é de causar sustos. O grande mistério que envolve a aventura revela-se pouco inspirado e surpreendente.
Terminado o enredo, ficam alguns mini-jogos utilizados com o livro, entre os quais o jogo das escondidas ou das adivinhas, para desfrutar enquanto um extra. A 3DS vira ainda uma máquina do sobrenatural ao estilo daquelas aplicações de meia categoria encontradas para telemóveis. É possível tirar fotos a ambiente de forma a ver o sobrenatural ou descobrir que espíritos atormentam os nossos amigos.
Spirit Camera é um daqueles jogos com um conceito engraçado e que, mesmo não resultando na escala esperada, acabará sempre por fomentar uma certa vontade de colocar um fim à narrativa apresentada. Em última instância, peca por não apresentar um enredo verdadeiramente interessante e consistente ou uma jogabilidade mais gratificante e representativa de um desafio. Ao mesmo tempo, também não atinge todo o seu potencial, quando até apresenta ideias engraçadas. Vale, essencialmente, pela experiência diferente do habitual que representa.