Star Trek - Análise
PEW PEW PEW SPOCK!
O Digital Extremes é um estúdio Canadiano que no seu currículo conta com Dark Sector de 2008 e apesar de The Darkness II de 2012 ser o seu ponto mais alto, é o jogo de 2008 que mais relembro neste momento. Este jogo de ação na terceira pessoa estava carregado de empréstimos vindos de campeões como Resident Evil e Gears of War mas tal não impediu que tivesse o seu próprio toque e uma certa atração em quem procurava mais do mesmo mas ligeiramente diferente. Com mecânicas de jogo interessantes e patrocinado pelo motor interno de seu nome Evolution, Dark Sector foi um trabalho mais do que cativante e assim sendo ficaram boas perspetivas para o que estavam a preparar para este videojogo baseado na mais recente visão do universo Star Trek.
Um estúdio que apesar de não muito popular conta com jogos de ação como Dark Sector e The Darkness II no seu currículo em sintonia com um motor próprio que já deu cartas anteriormente, seria perfeitamente normal acreditar que aliar tudo isto ao poderoso universo de James Kirk e Spock seria uma experiência fascinante. No entanto, isto apenas torna mais inacreditável a sensação com que ficámos após contacto com o jogo pois nada nos prepara para este resultado. Nem vale a pena pensar em algo mau ou perspetivar algo bom, nada nos prepara para isto, especialmente vindo de um estúdio com historial de alto perfil.
"O maior e principal elogio que posso dar ao jogo é mesmo à história e como nos faz verdadeiramente sentir que estamos inseridos no universo aqui representado"
O videojogo decorre após os eventos vistos no filme Star Trek de 2009 mas antes dos eventos do filme que chegou este ano às salas de cinema, Star Trek: Além da Escuridão. Se são fãs ou mesmo meros curiosos desta nova geração Star Trek, se viram os filmes então sabem bem o que vão encontrar aqui. Versões mais jovens dos populares personagens deste aclamado mundo, um estilo mais atual e uma forte componente de ação, com um foco específico nos tiroteios e no uso de pontos de cobertura como se tornou tão popular desde 2006 neste ramo específico dos videojogos. A questão aqui é se Kirk e Spock "encaixam" tão bem no papel de durões quanto Marco Fenix ou Nathan Drake.
O maior e principal elogio que posso dar ao jogo é mesmo à história e como nos faz verdadeiramente sentir que estamos inseridos no universo aqui representado, nesta versão mais actual claro. Escrita em conjunto com os produtores do filme e desenhada para ser cannon, é fácil compreender como é o seu melhor aspecto. Coerente, bem estruturada e completamente Stark Trek, coloca a famosa dupla numa cruzada contra os bem conhecidos Gorn para impedir que destruam o universo. Ter em conta que o jogo não recria precisamente o mais recente filme e que houve liberdade criativa para criar algo com pés e cabeça, facilmente percebemos como todo este cuidado e empenho resulta no aspeto mais marcante da obra. Pena ser dos únicos no bom sentido.
Quando constatamos que Chris Pine ou Zachary Quinto estão aqui a bordo para dar voz a Kirk e Spock, respectivamente, juntamente com outros como Simon Pegg ou Zoe Saldana percebemos que pelo menos do lado dos responsáveis pela componente cinematográfico, pelo lado do talento de Hollywood, houve empenho e dedicação para com o produto. Tornam as cutscenes e as conversas in-game num verdadeiro prazer pois associamos de imediato estas vozes ao que vimos nos dois recentes filmes. Tornam tudo mais fiel e mais firme, ajudando a dar uma incrível qualidade a este elemento específico do jogo.
A partir daqui temos uma desastrosa, descuidada e até insultuosa jornada pelos mais recentes e atuais clichés desta indústria para os jogos de tiros e ação na terceira pessoa: versão Star Trek 2013. Acreditava que o Digital Extremes estaria mais do que preparado para apresentar um produto de alta qualidade envolto num contorno de acção mas tal não sucede e mais parece que esta é uma obra nascida de descuido e desinteresse. Muitos até podiam acreditar que estaria aqui uma espécie de Dark Sector II com as devidas adaptações mas Star Trek em formato videojogo é toda uma oportunidade falhada, quase toda.
Nesta jornada para salvar New Vulcan dos Gorn temos um jogo de acção na terceira pessoa com um forte foco no cooperativo. O jogador pode escolher Kirk ou Spock e enfrentar os níveis que dão seguimento à história mas quando até sair da Enterprise pode ser uma tarefa complicada, ferrenhos tiroteios com os Gorn estão longe de ser o nosso pior problema. A ideia do estúdio foi a de criar um Uncharted com cooperativo no qual jogar com Kirk e Spock se sente como uma experiência diferente. Tudo isto foi conseguido mas não com uma qualidade desejável.
O primeiro reparo vai desde logo para os gráficos, mesmo os que dão primazia ao valor da experiência, o trabalho conseguido aqui a nível visual mais parece uma viagem no tempo. Se querem voltar a 2006 e acreditar que alguns efeitos parecem futuristas e quase de 2009, então não hesitem, entrem nesta luta galáctica que mais parece um Mass Effect série-B. O nível de detalhe é pobre, texturas fracas abundam, existe toda uma falta de fidelidade e consistência gráfica que se torna verdadeiramente arrepiante. Alguns momentos, como a chegada a New Vulcan, são escrupulosamente roubados de qualquer impacto de tom épico pela incapacidade do motor oferecer uma qualidade adequada. Fica a cargo do jogador imaginar na sua cabeça como seriam aqueles locais numa outra qualidade bem mais capaz.