Star Wars Battlefront 2 - Análise
Executa a Ordem 66.
Quando foi anunciado que a Electronic Arts havia adquirido os direitos para desenvolver videojogos baseado na licença Star Wars, os fãs ficaram intrigados. Quando soubemos que a responsabilidade seria entregue à DICE, ficamos entusiasmados. Conhecida pela sua espectacular tecnologia Frostbite, responsável por alguns dos mais belos jogos da geração, a DICE pegou nos moldes da série Battlefield, procurou o que de melhor serviria para converter o universo Star Wars, e apresentou-nos a renovada face de Battlefront. No entanto, o original ficou marcado por várias falhas que comprometeram a experiência. A vida é difícil para um fã de Star Wars e de videojogos. São cada vez mais raros os jogos, e perante um universo tão rico em possibilidades, ficamos todos a pedir uma campanha cinematográfica e um gameplay rico em conteúdos. A sequela chega com uma campanha, melhorias no gameplay e claro, toda a controvérsia que já conheces.
A ausência de uma campanha e o foco exclusivo no multi-jogador em Star Wars: Battlefront em 2015 prejudicaram a experiência, não sendo de estranhar que Star Wars: Battlefront 2 se cole mais a Battlefield 1, o sensacional épico de 2016 no qual a DICE estabeleceu as principais bases para o futuro da série. Apostou numa campanha, curta, mas intensa, e cinematográfica, implementou novos modos multi-jogador de maior envergadura, como o Operations que se tornou na estrela da companhia, e conseguiu criar uma boa sensação de entrega e recompensa. As diferentes classes com habilidades específicas permitem um gameplay mais variado e profundo, enquanto o jogador joga para se divertir com novas melhorias sempre em vista. É essa a sensação que Battlefront 2 deixa: a DICE pegou no primeiro, e aplicou-lhe as novidades de Battlefield 1 que se enquadram na sua experiência e que a tornam melhor. O resultado pode ser tão divertido que torna o que está em volta ainda mais irritante. Sim, o controverso sistema de progressão e o acesso bloqueado aos icónicos personagens de Star Wars.
Como referido, a DICE ouviu as críticas e apresenta uma campanha além dos modos multi-jogador. A campanha, promovida como uma fatia inédita na cronologia Star Wars, cumpre o seu propósito em pleno. Pegando nos moldes que apresentou em Battlefield 1, mas focada numa só personagem, a DICE coloca-te numa campanha que se assemelha a um tutorial de 4 horas, onde os mapas multi-jogador são adaptados para servir este propósito. Umas cutscenes pelo meio, uns diálogos aqui e ali e está feito. Resultou melhor em Battlefield 1, onde a intensidade das situações e as diferentes possibilidades do gameplay combinavam melhor com uma campanha que ensinava ao jogador como jogar. Em Battlefront 2, focada exclusivamente em Versio, era preciso mais, como um tom mais cinematográfico, e um design de níveis aprimorado. É pena que não tenha acontecido. No papel de Iden Versio, a comandante do Esquadrão Inferno que luta em nome do Império, viajarás por icónicos locais e jogarás até com alguns personagens já conhecidos, numa campanha com ligações à trilogia mais recente, que colocará o próximo filme em Dezembro nos cinemas.
"A campanha mantém a mesma a sensação de mapas multi-jogador em forma de tutorial, mas a história de Iden Versio fascinará qualquer fã de Star Wars.
É essa possibilidade de interagir com os diferentes mundos e personagens de Star Wars que dá o pequeno encanto à breve campanha. A partir daí, o multi-jogador é novamente o foco de Battlefront 2. O modo principal é inevitavelmente o Ataque Galáctico, que expande sobre o que foi feito em Walker Assault no primeiro. Combinando Walker Assault com Operations de Battlefield 1, tens agora mapas de escala variável com diferentes objectivos (contextualizados com o momento capturado e à qual trilogia pertence). Seja capturar ou defender objectivos, um lado terá de lutar para objectivo a objectivo conquistar o acesso a uma nova parte do confronto, enquanto a outra tentará impedir esse avanço. O primeiro Battlefront da DICE pecava pela sua excessiva casualidade no gameplay e pela ausência de mecânicas que aprofundassem os seus sistemas. A tua habilidade era irrelevante e todos os personagens praticamente iguais, pois as recompensas surgiam ao subir de nível, e o acesso a heróis ou veículos era aleatório.
Além deste modo Ataque Galáctico, tens ainda Ataque Com Caças Estelares, outro modo que regressa do primeiro e agora permite as tão desejadas lutas no espaço. É um dos mais divertidos e característicos modos de Battlefront, engrandecido com dois novos factores: o acesso às três gerações de confrontos e os combates no espaço. Adicionalmente, tens ainda Heróis vs Vilões, que regressa do primeiro e permite a um jogador de uma equipa de quatro ser um vilão ou herói de Star Wars. Para quem procura mapas mais pequenos ou confrontos com menos caos, os modos "Ataque" e "Batalha" permitem isso mesmo, confrontos mais directos. Estes são os modos onde vais passar o teu tempo e todos eles beneficiam com a implementação das diferentes classes, algo que já existia na série Battlefield e que finalmente chega a Battlefront 2. Permite que a experiência fique menos casual e se torne mais pessoal.
Cada classe tem a sua arma, habilidades específicas e é aqui que o sistema de Star Cards se torna mais importante. Podes adquirir cartas específicas que melhoram uma classe com a qual nem jogas, sentindo assim mais vontade em experimentá-la. Pelo outro lado, procurarás as cartas que queres e que beneficiam a tua classe favorita, reforçando a tua forma de jogar. Outra novidade que procura dar mais valor à tua prestação são os pontos que ganhas ao jogar. Quanto melhor jogares, mais pontos de batalha ganhas. Estes podem ser usados para obter acesso a veículos, novas personagens especiais ou os heróis/vilões de Star Wars. Quem jogar melhor, consegue mais pontos e será recompensado com a possibilidade de jogar com Chewbaca, Yoda, Kylo Ren, Rey ou outro dos icónicos nomes da saga Star Wars.
Desta forma, a DICE tenta separar os jogadores que mais se dedicam aos objectivos (o verdadeiro valor do jogo) e matam adversários, dos que apenas andam ali a passear. Os que melhor jogam, mais recompensados são e mais benefícios recolhem. Claro que isto significa que eventualmente poderás ter uma equipa com dois ou três heróis ao mesmo tempo, desequilibrando o confronto, mas nem isso garante a vitória. Battlefront 2 ganha mais diversão e profundidade com este sistema de pontos de recompensa nas batalhas e com as diferentes classes. Adiciona uma camada extra de profundidade e até estratégia que não existia sequer no primeiro. No entanto, o problema está em toda a economia do jogo e como afecta os sistemas de progressão. A forma como obtens Star Cards com novas habilidades e te tornas mais forte, sem esquecer o acesso aos heróis/vilões. É aí que está o verdadeiro problema de Battlefront 2 e nem todos os recuos da EA vão disfarçar uma experiência que foi pensada para investires mais euros.
Tal como o primeiro, Battlefront 2 sente-se como uma oportunidade perdida, mas por motivos diferentes. Agora temos uma campanha, e por mais pequena que seja, consegue transportar-te para o universo de Star Wars. Não temos um passe de temporada que custa tanto quanto o jogo e até temos um gameplay mais profundo. Pelo outro lado, tens toda esta controvérsia justificada que reagiu contra uma experiência que parece pegar nas mecânicas dos free2play mobile para as inserir num jogo de 70€. O sistema de progressão de Star Wars Battlefront 2 está melhor que o do original e permite maior personalização, favorecendo quem mais investe nele. No entanto, rapidamente perceberás que esse investimento é em tempo ou dinheiro extra. Apesar de menos intensa ou evidente, os planos da EA ainda são visíveis (como a prestação de Hayden Christensen, não consegues dizer bem o quê, mas percebes que algo não está bem). Para implementar as ideias praticadas em Battlefield 1 e tornar o jogo menos casual, a DICE introduz um esquema de progressão confuso, que bloqueia desnecessariamente personagens e te força a comprar coisas que deviam estar desbloqueadas desde logo.
É quase impossível jogar Battlefront 2 e não sentir que está estruturado para favorecer quem investisse mais dinheiro nele. O que é pena, mancha o que poderia ser um jogo altamente divertido. Todos os dias e ao executar tarefas específicas, ganhas caixas de loot que podes abrir. Estas podem conter créditos, peças de entulho que podem ser usadas para criar uma Star Card, ou até uma habilidade especial (dependendo da caixa). Esta é uma forma de obter novas Star Cards ou armas no jogo, basicamente, uma forma de melhorar. Mas também podes comprar heróis icónicos ou Star Cards com melhores atributos com dinheiro. Alternativamente, poderias usar os Cristais, mas estão desactivados por enquanto. Esta estrutura permite uma maior personalização, especialmente ligada às diferentes classes, mas torna tudo mais confuso do que deveria.
Vais sentir que ganhar entre 250 a 350 pontos por partida multi-jogador, te obrigará a passar muitas horas sem o herói que queres ou sem conseguir melhorias que se adaptem ao teu estilo de jogo. Com os cristais, poderias obter muito mais rapidamente, ou imediatamente até, o que desejas. Sendo esta a sensação que mancha a experiência de jogo. Desde logo sentes que o sistema foi manipulado para te prejudicar. Os valores foram reduzidos, é verdade, mas ganhar 250 a 350 créditos por cada partida que dura entre 10 a 20 minutos, quando se quer comprar um Herói que custa 15,000 créditos, poderá tornar-se num conceito demasiado complicado e até desnecessário. Se por um lado a DICE melhorou imenso sobre o conceito do anterior (ocasionais drops espalhados pelo mapa que te permitiam transformar num herói ou pilotar um veículo), prejudicou desnecessariamente a experiência nesta tentativa de te forçar a jogar para obter recompensas. Sentirá sempre que deviam ser tuas desde o início.
Se existe elemento que não podemos de forma alguma criticar neste esforço da DICE, ajudada pela EA Motive e Criterion, é a qualidade visual. Já sabemos bem do que é capaz este Frostbite, o motor do jogo, mas Battlefront 2 não deixa de surpreender. A arquitectura, fauna e flora das três gerações de Star Wars é recriada com uma qualidade visual incrível e isso conta muito para quem quer um jogo inspirado nos filmes. Seja no espaço, em Naboo, em Jakku ou Endor, sentirás que esses locais foram recriados com grande quanlidade e precisão. Este é o maior valor deste Battlefront 2 e tendo em conta que está a recriar um universo já existente, é algo extremamente importante de conseguir. O mesmo pode ser dito a respeito do departamento sonoro, outro elemento fundamental para qualquer experiência Star Wars. Seja pelas falas dos personagens, pelos disparos das armas ou dos sons que ouves em cada planeta, tudo te remete para os filmes e sentes-te imerso nos mundos com os quais sonhaste em criança.
Será fácil olhar para Battlefront 2 como uma mera skin Star Wars colocada sobre Battlefield 1. A DICE recorre a muito do que consagrou o seu épico lançamento de 2016 como base para este novo Star Wars: Battlefront 2. A campanha de 4 horas fascinará os fãs de Star Wars, que encontrarão nas cutscenes e narrativa uma satisfação que os níveis em forma de tutorial adaptados dos mapas multi-jogador não conseguem. A DICE não procurou criar uma campanha de tom cinematográfico e com set-pieces deslumbrantes. Criou algo funcional que te mergulha no mundo de Star Wars e que através de pequenas ligações à trilogia original e à mais recente, te tenta fazer acreditar que é mais importante do que é. O multi-jogador é na mesma o foco, onde encontrarás um gameplay aprimorado e mais profundo que o do original. Menos casual, ainda mais focado nos objectivos e vítima de sistemas de progressão que fazem de tudo para pedir ao jogador para investir mais dinheiro. Mesmo que os Cristais estejam desactivados e os valores reduzidos (graças às críticas dos fãs), sentirás na mesma a experiência que te queriam apresentar e o seu peso ainda se faz sentir, não penses que não.
Star Wars: Battlefront 2 brilha pela forma como captura a essência de Star Wars e adapta esse majestoso universo para a sua fórmula Battlefield. É uma vitória por si só, especialmente para quem sente falta de videojogos Star Wars. A campanha acaba rapidamente e deixa um sabor agridoce, entregando-te mais uma vez ao multi-jogador. Energético e rápido, preocupado em permitir que qualquer jogador se possa divertir e onde a habilidade é relegada para segundo plano, Battlefront 2 é mais caótico do que deveria ser. No entanto, é aí que está a sua diversão, na forma como personalizas o teu personagem para o adaptares ao teu estilo de jogo, como lutas pelos objectivos e pelo dinamismo dos diferentes modos. Visualmente deslumbrante e uma interpretação brilhante das imagens e locais do universo Star Wars, Battlefront 2 é um jogo com pouco de novo para oferecer, mas para os fãs dessa galáxia muito muito distante, o simples facto de pilotar uma X-Wing no espaço já é um sonho concretizado.