Star Wars Kinect - Análise
Dominar a força, tu conseguirás.
Logo à partida, a ideia por trás de Kinect Star Wars tinha várias vantagens. Se viveram neste planeta nos últimos trinta anos, então é provável que a certa altura tenham sonhado manobrar um lightsaber com as próprias mãos, ora isto será o mais próximo que conseguirão. Aliás, se pensarmos um pouco nisso, mecânicas clássicas de Star Wars como utilizar a força ou manobrar um Lightsaber, em teoria ajustam-se perfeitamente ao controlo por movimentos, e neste sentido seria apenas uma questão de tempo até vermos um casamento entre o Kinect e o universo Star Wars.
Outra vantagem está no enquadramento dos eventos do jogo e no facto de serem "oficialmente" reconhecidos pela Lucas Arts. Passado nos anos seguintes aos eventos narrados em "A ameaça fantasma". Depois do reconhecimento de que forças do lado negro da força estavam em movimento nos bastidores, o conselho Jedi decide cerrar fileiras e criar postos avançados de treino para instruir uma nova geração de Padawans. É exatamente aqui que nós entramos.
C-3PO e R2-D2 introduzem-nos aos arquivos Jedi, onde podemos navegar pelos vários modos do jogo começando exatamente por "Dark Side Rising", um género de campanha onde começamos como um simples Padawan, até embarcarmos em inúmeras aventuras em defesa da República. A ideia de base é "standard" numa história de Star Wars, a ascensão é que me pareceu demasiado rápida, num minuto estamos a aprender a manobrar um Lightsaber com outros aprendizes, e no minuto seguinte estamos a combater um exército de droids em Kashyyyk, lado a lado com o mestre Yoda. Rapidamente, aprendemos nós.
A determinada altura dei por mim a desfrutar dos vários controlos e manobras que o jogo possibilita, ao ponto de parar para considerar se eles eram mesmo divertidos, ou se era eu que já colocava a expectativa demasiado baixa para este género de interação. Claro que à medida que os desafios apertaram, a fraca conexão entre o que queremos fazer e o que o Kinect deteta vai-se acentuando, e rapidamente sofremos dos momentos de frustração clássica nos jogos de aventura que utilizam o periférico da Xbox 360.
A mão direita fica responsável pelo Lightsaber, e a esquerda pela utilização da força. Com o Lightsaber podemos bloquear em várias direções, repelir tiros de blaster, e claro, efetuar ataques em múltiplas direções. A força permite-nos fazer coisas como levantar e atirar objetos, carregar e atirar uma onda de força ou até intercetar projéteis inimigos. Também é possível dar um pontapé ou uma cabeçada nos adversários e entrar em duelos que funcionam de uma forma peculiar onde temos de bloquear várias vezes até poder atacar. Isto é tudo divertido, e apesar de por vezes o jogo insistir em não fazer o que nós queremos, até aqui tudo bem.
Depois temos que juntar a estas mecânicas o fator navegação num ambiente 3D. Inclinando os braços e corpo para a frente efetuamos uma espécie de "dash" a grande velocidade, um método simples para a personagem se movimentar, mas bem melhor do que ter que abanar os braços indefinidamente. Inclinando o corpo para os lados fazemos um salto lateral que evita os ataques inimigos, manobra que é necessária em várias batalhas mais exigentes, mas que consegue ser irritante devido ao lag entre o momento em que decidimos nos desviar, o momento em que nos inclinamos, e finalmente o momento em que o Kinect deteta que estamos inclinados.
A esta ação variada juntam-se os obstáculos clássicos que nos obrigam a baixar, desviar ou saltar enquanto combatemos (detesto saltar!). A ação é sempre frenética, algo repetitiva e como sempre, desgastante. Para compensar isto, tudo funciona muito "on rails" e de modo pré-determinado. O nosso Padawan enquadra-se automaticamente com os inimigos, ao ponto em que nem vale a pena tentar rodar o corpo à procura de um alvo específico, safei-me muito melhor quando aprendi a aceitar o adversário que o jogo escolhia para mim.
O estilo global é mais semelhante à serie animada da televisão do que propriamente aos filmes. Os cenários estão longe de ser um portento de detalhe, mas são adequados ao ambiente de ficção do universo Star Wars. Já os modelos das personagens variam entre o competente e o arrepiante. O modelo do Yoda está competente, o mestre Windu está mau (e não é o Samuel L. J.) e os Padawans estão arrepiantes. Algumas expressões faciais são um verdadeiro exemplo do que é cair no "Uncanny Valley".
Os eventos da campanha desenvolvem-se rápido, e sem grandes surpresas em termos narrativos. Existem segmentos onde controlamos veículos conhecidos da série, mas a maioria do tempo é passado a abanar os braços em várias direções a combater vagas intermináveis de droids. A qualquer altura um amigo pode juntar-se a nós na aventura em ecrã dividido, o que torna as coisas mais interessantes, mas também muito mais fáceis. Mas isto não tudo o que Kinect Star Wars tem para oferecer.
Fora da campanha, e ainda através dos arquivos onde R2 e 3PO se encontram, podemos descobrir três modos de jogo completamente diferentes, e desligados até de tudo que falei até aqui. Podracing, o perigoso desporto onde controlamos um daqueles veículos super rápidos que o pequeno Anakin Skywalker celebrizou no primeiro filme da trilogia moderna, está disponível com seis corridas diferentes em cinco planetas, incluindo o seu planeta natal Tatooine. O controlo requer que estiquemos os braços para a frente para acelerar, e se quisermos manter a velocidade temos que manter os braços esticados. Considerando que algumas corridas podem demorar mais de cinco minutos, este modo é quase uma aula de musculação para os braços.
Outro modo completamente desligado da aventura principal é o Confronto Rancor, onde o objetivo é espalhar o caos e a destruição controlando um rancor. Para quem não sabe o que é, um rancor é uma daquelas criaturas gigantescas que Luke elimina no palácio de Jabba no inicio de "O Regresso de Jedi". Não há muito a dizer em relação a este modo, tudo consiste em pisar ou esmagar pessoas e destruir edifícios, ainda assim, ver o rancor a responder ao movimento de agarrar alguém e depois trazer à boca para comer é certamente hilariante, podem até comer duas pessoas ao mesmo tempo.
Finalmente, o modo que tem gerado alguma controvérsia entre os fãs, e que de alguma forma destoa do tema do jogo, o concurso galáctico de dança retirado quase a papel químico do "Dance Central". Logo à partida, é fácil adivinhar que os fãs de Star Wars mais veteranos vão detestar a própria ideia de ter algo deste género envolvido com a sua franquia favorita. Ao mesmo tempo, todos aqueles que não sofrem de qualquer tipo de preconceito com o que é feito com a série poderão adorar este modo. Como declaração de interesse digo já que me incluo no primeiro grupo, e logo à partida me fez impressão o tom de comédia com que figuras célebres como Han Solo e Leia são tratadas.
"Se viveram neste planeta nos últimos trinta anos, então é provável que a certa altura tenham sonhado manobrar um lightsaber com as próprias mãos..."
Depois juntei alguma sensatez e umas partidas na pista de dança e percebi que a forma como o jogo apresenta este modo não é de todo insultuosa. Continuo a achar que destoa do tema, é apenas uma "cookie" para alguns, mas assume-se num tom cómico declarado, e que acabou por arrancar algumas gargalhadas cá em casa. Mesmo os temas presentes têm as letras adaptadas para fazer referência a Star Wars, algumas muito engraçadas, a conhecida "YMCA" é "Empire Today" por exemplo.
Kinect Star Wars esforça-se por tentar ser uma experiência inteira da franquia, mas no final, é apenas mais uma prova da irrelevância que os controlos físicos representam para os videojogos de ação e aventura. Claro que existem momentos divertidos, controlar um lightsaber é certamente apelativo, mas rigidez das mecânicas aliadas à frustração natural de não conseguir fazer o que queremos rapidamente arruína a nossa vontade de jogar. O jogo faz um esforço para oferecer conteúdo variado, mas acaba por perder personalidade por isso. Isto aliado a uma narrativa desinteressante e pouco conexa, afasta completamente o segmento de jogadores mais dedicados e exigentes. Os tais que um dia sonharam manejar um sabre de luz, e que hoje são jovens adultos.