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Stick it to the Man - Análise

Podes ler o meu pensamento.

Um dos aspetos mais maravilhosos numa produção independente é que pode vir de qualquer lado do globo, nasce da pura vontade em criar algo e de inovar. Não existem aqui quaisquer amarras ou restrições causadas pela corrente comandada pela necessidade imperial de suceder comercialmente, existe desejo em romper barreiras, ser diferente e ir além. No entanto, nem sempre tal é gerido da melhor forma e um produto tanto pode ser estranho como pode ser adorável ou cativante. Os Suecos do Zoink! parecem saber exatamente aquilo que fazem e apesar de não conseguirem acertar em todas as frentes, conseguem cumprir com o proposto.

O estúdio encontra motivação na criação de personagens carismáticos e boas histórias combinados com um inovador design de níveis. Seria precisamente assim que descreveria Stick it to the Man, a bizarra aventura que se centra numa única e irreverente temática: será que ler mentes seria assim tão bom quanto isso? Agora, mais do que imaginar e criar uma situação fantástica quanto essa, a ideia é elevá-la a outros parâmetros e envolvê-la em comédia. Este é o mundo de Ray Doewood, um mundo de papel e autocolantes que o irá surpreender.

Ray é um verdadeiro cromo, um autocolante se preferirem, para o qual é difícil encontrar caderneta. Num dia que parecia tão banal quanto outro qualquer, vê-se envolvido num acidente que irá mudar a sua vida, não é propriamente fácil viver quando se tem um enorme braço de esparguete rosa a sair-nos da cabeça, pois não? Mais problemático ainda quando ninguém o consegue ver e quando descobrimos que temos a capacidade para ler os pensamentos dos outros.

Como se fosse um verdadeiro desenho animado da Cartoon Netwok, ao entrar neste jogo entramos numa verdadeira terra do bizarro. Tudo parece demasiado surreal, não propriamente por ser de cartão, mas porque aqui as situações são demasiado tresloucadas para serem verdade, mesmo sendo uma espécie de sátira ao que esperamos de situações "normais" do dia-a-dia. Este é um dos maiores encantos de SITTM, o seu irreverente humor que não pede desculpas a ninguém e brinca com tudo o que pode. Sem jamais ousar ser insultuoso, rasca ou fútil, o Zoink! conseguiu um fenomenal ritmo no enredo que nos apresenta sucessivas situações que de tão caricatas que são nos acabam por fascinar.

Será precisamente este elemento que nos fará continuar a jogar pois é difícil não ter vontade de seguir este trapalhão que se mete em problemas uns atrás dos outros. Ray até consegue ser prestável, ao ler os pensamentos das pessoas ele consegue descobrir os seus problemas e juntamente com o jogador irá procurar formas de os ajudar. Demasiado banais para serem verdade, bizarros demais para serem encarados com qualquer seriedade mas ainda assim fazendo sentido dentro deste mundo, os problemas a resolver envolvem explorar os níveis e encontrar os autocolantes para criar novas situações.

Num plano 2D no qual nos movimentamos quase como uma folha de cartão, Ray saltita entre plataformas tentando encontrar formas de cumprir com o seu objetivo específico naquele episódio. Pelo meio encontra pessoas que além de lhes ler os pensamentos também os vai ajudar. Ao ler os diversos pensamentos, também tem acesso a itens que os próprios elaboram na sua mente. Ocasionalmente temos partes dos próprios cenários que podemos puxar para relevar novas situações e também para obter novos itens.

O objetivo principal é apresentado de forma específica mas para o alcançar teremos que cumprir diversas etapas que nem sempre parecem tão óbvias quanto isso. Ao falar com um personagem podemos ter acesso a um item que será preciso numa outra situação completamente alheia à que já encontramos por isso a breve exploração será necessária para desenvencilhar todos os obstáculos. Ler mentes torna-se obrigatório e assim conhecemos mais deste estranho mundo ou personagens.

Isto é possível graças à enorme mão rosa de esparguete que mencionei antes. Graças a ela Ray chega a partes do cenário que de outra forma não conseguiria, é desta forma que ouve os pensamentos dos outros e rouba os autocolantes em forma de objetos que eles conjuram na sua mente, ou fisicamente. Ao recolher novos itens e ouvir pensamentos vamos aprofundar a história, o mundo e as situações bizarras sucedem-se, juntamente com os bons diálogos, humor inteligente ou com toda uma panóplia de estupidez que se sente demasiado atrativa para evitar não sentir uma enorme vontade em conhecer mais.

O gameplay é fácil e até tenta aproveitar um pouco o DualShock 4. Além do interessante uso da coluna de som no comando para ouvirmos os pensamentos, temos ainda a possibilidade de usar o painel tátil para um controlo mais preciso do enorme braço de esparguete rosa que está no centro do gameplay. É importante que tudo seja intuitivo pois existem situações mais apertadas com algumas perseguições, sendo necessário que o design de jogo simples não seja afetado por comandos que não funcionam como devem. O jogo cumpre neste aspeto e torna tudo fluído e suave. Escutar pensamentos, agarrar autocolantes, fugir de perseguidores, saltitar entre plataformas torna-se tão intuitivo quanto se poderia ouvir e assim desfrutamos da história sem problemas.

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Stick it to the Man já existe para outras plataformas portanto não é propriamente uma novidade mas sempre podem dizer que esta é uma versão altamente competente. Além do gameplay ter ajuda do DualShock 4 para se tornar mais preciso e eficaz, por muito simples que seja, conta ainda com visuais a 1080p que tornam este mundo de cartão muito mais fantástico. Existem diversos filtros aplicados à imagem para dar mais ambiente e personalidade a cada local mas é o tom geral que nos conquista e afirma com toda uma graciosidade a sua personalidade.

Um competente trabalho executado por atores dão vida e firmeza a estes personagens mas é todo o mundo e a sua arte que nos conquistam de imediato. De uma certa forma o jogo consegue mesmo captar e torna-se interessante conhecer este mundo bizarro. A fluidez dos movimentos, os bizarros personagens, os seus pensamentos e como moldam o gameplay tornam este produto em algo bem peculiar, os visuais ajudam imenso. Viajar ao lado de Ray jamais terá falta de interesse e um dos principais factores que contribui para isso é a qualidade dos visuais, o design artístico e a irreverente visão na génese deste mundo.

O gameplay simples serve todo um contexto, consegue-se perdoar pois estamos centrados na trama e na forma como lemos pensamentos para encontrar itens e avançar mas o grande problema de Stick it to the Man está na sua longevidade. É fácil terminar o jogo nas calmas em meras 3 a 4 horas. Isto fará com que a sensação de simplicidade no gameplay perca algum do encanto mas ainda assim não ficaremos desiludidos com o jogo pois a viajem em si será mais do que divertida.

Antes de terminar fica ainda uma palavra para os Troféus. Completamente envolvidos na patetice do enredo e do mundo, não são do mais óbvio e podem representar uma das principais motivações para voltar a jogar o jogo. Assim que o terminam não existe praticamente nenhum interesse em repetir a experiência mas se quiserem aprofundar mais um pouco o jogo e procurarem situações opcionais mais bizarras podem desfrutar de tempo adicional.

No final da aventura de Ray, a ideia que fica é que Stick it to the Man é um jogo altamente divertido, inteligente e bem humorado que representa tudo de bom que existe nos estúdios independentes. Arrojado apesar de simples, astuto quanto baste mas ainda assim sem evitar uma enorme sensação de curta longevidade e gameplay demasiado simples. As suas ideias são boas e merecem ser conhecidas, o que ajuda imenso a reduzir o valor dos aspetos menos bem conseguidos. O Zoink! está de parabéns pelo trabalho conseguido mas fica o desejo de mais para a próxima.

7 / 10

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