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Street Fighter V - Balanço do final da Primeira Temporada

Urien, Desafios Diários, e valentes ajustes.

Recordando a análise de Fevereiro deste ano, Street Fighter V é um jogo que ficou marcado por duas ideias principais. Por muito que sejam fãs acérrimos e devotos apaixonados pela obra da Capcom, este mais recente capítulo deixou a sensação de se ter tornado numa nova referência no género mas cujo esplendoroso gameplay não afasta a ideia de um Early Access. Mesmo após largas semanas, Street Fighter V teimava em não afastar a sensação que é brilhante quando estás dentro dos combates mas fora, as coisas não são tão robustas. Mesmo passados vários meses, a Capcom parecia totalmente perdida e sem saber valorizar a sua obra como merecia.

Graças ao novo leque de personagens como Laura, Necalli, ou Rashid, Street Fighter V conseguiu sentir-se fresco, dinâmico e altamente entusiasmante. O jogador sentia que estava em território familiar mas ao mesmo tempo tinha muito para descobrir em termos de manuseamento de personagens. Sem muitas das referências icónicas, Yoshinori Ono preferiu injectar sangue novo e apelar a toda uma nova era de jogadores, e sem se prender à nostalgia, Street Fighter entrava numa nova era de consolas com muita energia. Sem esquecer que o cruzamento da história com o magistral Street Fighter III assegurava a possibilidade de vários dos seus personagens existirem neste quinto capítulo, o que tornava o futuro promissor.

Olhando para Fevereiro de 2016, é fácil perceber as incríveis fragilidades de Street Fighter V, mas o pior é ver que o jogo foi denegrido pela falta de aptidão da Capcom em solidificar o modelo de negócio adoptado. Street Fighter V foi descaradamente lançado como um título incompleto. Por muito que as novas mecânicas como a V-Skill e V-System tenham tornado fantásticos os combates e elevado este equilibrado gameplay a um patamar no qual se assimila a uma magistral coreografia estudada com incrível precisão matemática, o jogo não motivava o jogador. Focada em colocar o jogo o mais cedo possível nas mãos dos jogadores que teriam de treinar para as competições profissionais, a Capcom foi atropelada por si própria. Permitiu que a sua falta de preparação fosse altamente prejudicial.

O fenomenal conceito de Street Fighter sempre encorajou o jogador a assumir a sua própria postura. Cada personagem é uma espécie de forma de expressão que declara desde logo o tipo de jogador que somos. Neste fino e equilibrado bailado, cada lutador é uma interpretação do sistema de combate, que nos permite diferentes comportamentos e exibir a nossa forma de estar neste universo. Tudo isto estava lá em Fevereiro, talvez mais do que em nenhum outro. No entanto, o estatuto always online, a escassez de conteúdos, o lastimável estado dos servidores, e a dificuldade em ganhar Fight Money, necessário para desbloquear novidades, fizeram deste Street Fighter V uma experiência demasiado arriscada para o gosto dos fãs. Ao enveredar por sistemas monetários in-game, a Capcom precisava de certeza plena e equilíbrio no que estava a fazer, algo que não existiu

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"Um brilhante trabalho sofreu pela incompetência em sectores considerados fulcrais nos dias de hoje. Street Fighter V foi ouro debaixo de uma montanha de lixo."

Tudo o que os fãs pediam era um Arcade Mode como manda a lei: uma cena de introdução, determinado número de lutas, uma boss fight comum a todos, um final e está feito. Modos secundários como Time Trial ou Sobrevivência, presente aqui mas obscenamente desequilibrado com picos de dificuldade injustos, seriam adereços. O débil estado de Street Fighter V nos seus primeiros meses, mesmo após várias actualizações, demonstrava a incapacidade da Capcom em corrigir um problema que ela própria criou. A nova era dos videojogos não foi nada saudável para a série icónica.

A Capcom arriscou mas não conseguiu conquistar o respeito dos fãs devido às falhas técnicas, mais do que pela escassez de conteúdos. Receber um jogo escasso em conteúdos não é inédito e os jogadores já demonstraram que o aceitam, e a Capcom até tinha um mapa de conteúdos e actualizações para manter os jogadores envolvidos. O problema foi tolerar graves falhas na ligação aos servidores, partidas online em servidores que davam vontade de rir, e a perda de progresso porque os servidores falhavam na hora da comunicação com o jogo. Águas passadas mas que ainda assim tiraram qualquer respeito que a Capcom pudesse envergar na hora de propor uma nova interpretação na apresentação de conteúdos.

Em Junho chegou a fulcral actualização com o modo história. Depois de receber dois novos personagens, Alex e Guile, a Capcom queria introduzir um modo capaz de elevar a qualidade do pacote geral. Enquanto esses dois icónicos lutadores eram mais uma forma de solidificar o que já era robusto, o gameplay e a nossa capacidade de interpretar a matemática de Street Fighter, a escassez de conteúdos tinha de ser abordada com urgência. Um fantástico modo de duas horas ajudou imenso a elevar a qualidade do jogo mas persistentes problemas técnicos não facilitavam. A chegada dos modos de Desafio, combos que o jogador tem de cumprir, foi tão importante quanto o Modo História Cinemática, pois davam variedade e conteúdo ao jogo.

Claro que o controverso estado do online, conhecido como um paraíso para os Rage Quitters banalizava as intenções da Capcom em tornar Street Fighter V num título competitivo, pelo menos fora dos torneios locais, e a sua incapacidade para resolver a situação, apenas tornava tudo mais humilhante. Era uma luta constante da companhia Japonesa: introduzir conteúdos, reforçar as infraestruturas e tentar manter os fãs interessados.

Balrog, Ibuki e Juri foram chegando, até termos finalmente Urien, que chegou hoje. De mês para mês, Street Fighter V foi dando pequenos passos, ao invés de passadas de gigante como alguns desejariam. Foi recebendo modos, foi melhorando a qualidade da vertente online, e foi recebendo conteúdos extra que tiravam proveito do conceito do Fight Money: quanto mais jogamos, mais pontos ganhamos, mais extras podemos comprar. Claro que pagar €3.99 por um fato Premium continua a ser de rir. A ideia que fica é que se a Capcom tivesse apresentado um jogo robusto na vertente técnica e sem que o jogador sentisse o Always Online de forma tão insistente, talvez o mapa de conteúdos e a escassez de modos tivesse sido melhor tolerada.

Street Fighter V é hoje o jogo que devia ter sido em Fevereiro. As seis personagens adicionais acrescentam maior variedade é certo mas até podem passar sem elas, apesar de considerar Juri como das mais fantásticas e divertidas personagens e um crime a sua ausência do leque inicial. Mas são as pequenas adições a conta-gotas, que pareciam desesperadamente escassas e lentas enquanto esperávamos um mês por mais, compõem agora um título que exibe melhor saúde. Mesmo que os servidores ainda não permitam desfrutar da fluidez e suavidade que um jogo como este merece, agora é possível pegar em Street Fighter V e passar umas boas horas sem pensar no online, a ganhar FM nos novos modos, e sentir que há sempre algum modo para jogar. Mais do que isso, agora existem extras que queremos comprar e nos motivam a acumular FM.

A chegada dos Desafios Diários, que nos convidam a cumprir com certos pedidos para ganhar mais Fight Money, o modo Missões e a História Cinemática fazem de Street Fighter V um jogo muito melhor do que era. Fazem com que seja o jogo que deveria ter sido lançado inicialmente. Provavelmente será difícil recuperar o nível de interesse e respeito que existia antes de 16 de Fevereiro, e a Capcom desperdiçou um momento de ouro na história da indústria para fazer deste Street Fighter V uma referência incontestável. Agora é levantar-se sacudir a poeira e trabalhar para um melhor futuro.

Passados sete meses desde o lançamento, e terminada agora a Primeira Temporada, a sensação que fica é a de um jogo que pode muito bem ser referido como o melhor na sua série, incrível elogio e tremenda responsabilidade, mas que falhou em momentos fulcrais. Os artistas que imaginaram Street Fighter V foram traídos pelos técnicos que deveriam tratar da vertente técnica e o que interessa é o desfecho que isso representou para quem nele investiu o seu precioso dinheiro. Pessoalmente, Street Fighter V tornou-se num favorito e só fica atrás de Street Fighter III: Third Strike. Algo que consegue graças aos novos personagens, aos cenários, e ao delicioso equilíbrio e profundidade do gameplay. Também confesso que no que diz respeito aos personagens, menos foi mais. Permitiu maior coesão e foco.

Para o futuro, fica o desejo que a Capcom resolva de uma vez por todas os problemas técnicos e que fortaleça os servidores para a máxima suavidade nas partidas. Além de novos personagens que vão dinamizar a Segunda Temporada, o modo Arcade tradicional é obrigatório e será imprescindível equilibrar o modo Sobrevivência. O futuro parece mais risonho mas agora será preciso foco na hora de preparar a Segunda Temporada.

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