Strider - Análise
Hear You!
A primeira vez que conheci Strider não foi quando os originais foram lançados, infelizmente não tive essa oportunidade. A primeira vez que conheci Strider Hiryu foi por volta de 2000 quando a Capcom e a Marvel colocaram pela primeira vez os seus personagens ao soco. Desde logo fiquei encantado com esta personagem da empresa Japonesa, com todo o seu estilo e com os seus golpes sensacionais. O desejo que a Capcom ressuscitasse o personagem durou quase 15 anos, até à chegada deste Strider, esforço conjunto entre o Double Helix Games e o Capcom Osaka Studio. Membros que trabalharam no original desenvolveram o jogo em conjunto com o estúdio Norte Americano, que recentemente lançou Killer Instinct para a Xbox One, sendo um dos mais interessantes pontos ver como resultou essa parceria.
Não há muito que enganar, Strider pertence a um dos géneros mais populares dos anos 80/90, plataformas em side-scroll no qual o jogador se movimenta num plano a duas dimensões, aqui é num plano 2.5D. Nesta jornada pelo bem somos transportados para uma Kazakh City mergulhada no comando cruel de Grandmaster Meio e um dos principais focos é a tentativa de transportar para a atualidade uma série de culto da Capcom. É fácil encontrar elementos que lembram o espantoso Shadow Complex e é fácil perceber que na tentativa de encontrar um ritmo e molde mais mainstream a Capcom se tenha livrado da dificuldade exagerada.
Mas vamos por partes. Strider Hiryu tem a missão de se infiltrar na cidade e destruir os planos de Meio. Para tal embarca numa jornada pelo centro da cidade até aos arredores, passando por bases militares e submundos. A sensação que Strider me deu foi a de um jogo que retém toda a uma forma de pensar de outros tempos mas implementada por mãos que sabiam como a transportar para a atualidade. É precisamente essa combinação de sensação/tom retro com gameplay atual e dinâmica que resulta especialmente bem.
Enquanto muitos side-scrollers preferem centrar-se na ação e relegam a exploração, Striker investe no molde Metroidvania no qual o jogador avança no enredo chegando ao final do nível, derrotando o boss e acedendo a um outro nível. Pelo caminho, terá a oportunidade de desbloquear novidades e melhorias que lhe vão permitir aceder a outras melhorias através de novos caminhos anteriormente não acessíveis. Assim se encaixam os três principais condimentos desta experiência: a exploração, a ação veloz, e a estrutura por plataformas pela qual progredimos.
Uma das coisas que rapidamente descobrem é que Strider é um ninja especial mas não propriamente imbatível. Apesar da dificuldade em Normal ser relativamente acessível (contem repetir alguns bosses), é na maneira como é gerida a conquista de power-ups que Strider copia de forma excelente os melhores do género. A cada novo nível vamos desbloqueando habilidades especiais que tanto têm relevo na progressão como no combate (ambos em sintonia constituem a exploração). Para evitar clichés, Strider começa o jogo no seu mais básico possível, depois vai a pouco e pouco aumentando a sua barra de saúde, e a dos ataques especiais.
A dada altura, Strider eleva a profundidade dos seus combates quando atribui à Cypher, a espada de plasma que o ninja enverga, diferentes elementos como gelo, fogo ou cinética. Tal como a versão normal, cada uma ostenta uma capacidade única (como refletir tiros ou queimar os inimigos) e consoante o jogo progride mais será exigido ao jogador para intercalar em tempo real entre os diferentes tipos. Cada um representa mais eficácia para certos inimigos. Acompanhado dos seus fiéis Kunais que também eles beneficiam destes 4 diferentes tipos de energia para moldar a gameplay, Strider mostra vislumbres do que poderia ser e é aí que o jogador começa a estranhar.
Strider é divertido quanto baste. Os bosses são difíceis, obrigando a várias tentativas e erro para depois de aprender os padrões ser mais ágil e implacável, sendo pena que não exista um que fique propriamente na memória. Apesar de recriarem os originais, deveria ter sido feito mais para lhes dar uma sensação de maior impacto. A acção é veloz e frequentemente sentimos que estamos a ser subjugados mas a ideia que fica é que é sempre culpa nossa e jamais do produto. Sentimos que estamos a facilitar, que não estamos a procurar as melhorias já acessíveis ou que a nossa prestação nos combates não é a melhor.
Aí entra o rigoroso sistema de checkpoints e se não tiverem cuidado correm o risco de ficar a gritar com a TV. Tendo em conta alguns momentos mais irritantes ou injustos, a repetição constante de lutas contra bosses, ficam um pouco a desesperar com o jogo. Mais agravado com a sensação que o design de níveis poderia ser melhor e que a exploração por vezes não é tão divertida quanto deveria. Passam muito tempo a correr de lado para lado sem qualquer mecanismo de viagem rápida entre níveis (excepto em alguns escassos pontos específicos).
Com um esquema de controlo altamente fácil de assimilar e mais do que cumpridor, Strider apresenta-se com um visual bem interessante, completamente dentro do que temos visto no género. O motor de jogo cumpre sem grandes destaques e até fica a sensação que alguns momentos perdem espetacularidade. Não queremos que Strider seja a Bayonetta mas mais estilo não lhe fazia mal nenhum. Na versão PlayStation 4, aqui testada, o jogo corre sem quaisquer quebras, completamente suave e isso apenas faz com que o jogador se sinta premiado quando a sua relação com o comando e consequentes ações na TV são quase imediatas.
Este é um jogo divertido, já o disse, bem competente e o seu maior problema é não fazer nada propriamente de mal mas também não fazer ainda melhor. Falta-lhe um pouco de personalidade, mais estilo e mais exploração, que em alguns momentos nos deixa entusiasmado com as descobertas e nos outros nos deixa frustrados. Um enredo mais envolvente, personagens icónicas ou até quem sabe uma banda sonora de arrasar, existia muito espaço para Strider crescer e tornar-se muito mais. Como está, é um produto que entretém inserido num segmento específico que conta com elementos muito bem pré-definidos, aqui bem aproveitados diga-se.
Strider pode mesmo ser terminado em perto de 4 horas mas isto é representado através de um contador específico do jogo. O tempo de jogo que levei foi mais longo e fica sugerido que o jogo não conta o tempo quando perdemos a vida por completo. Quer isto dizer que quando morrem, regressam ao último checkpoint e o tempo que gastaram deixa de ser contado. Para chegar ao final do jogo e para amealhar todos os segredos, podem contar com perto de 7 horas de jogo. Em 6:28:25 de jogo foram conseguidos 81.9% e o jogador fica com a opção de voltar ao ponto em que estava antes de entrar no covil do boss final ou gravar e recomeçar do zero.
Os que procuram completar tudo ainda terão pela frente mais duas horas de jogo enquanto outros que vão tentar obter todos os troféus vão precisar provavelmente do dobro destas horas. Especialmente se quiserem bater o jogo em Hard. Depois temos os desafios na forma do Beacon Run e do Survival Mode. O primeiro pede ao jogador que vá do ponto A ao ponto B no menor tempo possível enquanto o segundo pede para sobreviver a sucessivas vagas de inimigos. Servem para testar a destreza do jogador num ambiente diferente e são desafios interessantes.
Feitas as contas, Strider é mais um produto interessante que apesar da sua qualidade deixa a sensação que poderia ter ido mais além. É uma homenagem a si mesmo mas uma que poderia ser ainda melhot. Apesar de divertir e agarrar o jogador, este vai ficar a pedir mais dos bosses, a pedir mais da música, mais da dificuldade, mas do enredo, mais do estilo e até um pouco mais do design de níveis. Strider consegue fazer aquilo que se pede mas quando o jogador fica a pensar que lhe vai dar ainda mais, percebe que terá que se contentar com o que tem, que não é nada mau.