Super Mario Odyssey - Análise
Quem salta seus males espanta.
Diz-se que uma consola da Nintendo nunca está completa sem um Super Mario, e embora a Nintendo Switch já tenha recebido dois títulos em que o célebre canalizador de bigode participa, nomeadamente Mario Kart 8 Deluxe e Mario + Rabbids: Kingdom Battle, faltava um título como Super Mario Odyssey para complementar a consola. The Legend of Zelda: Breath of the Wild, que foi lançado juntamente com a Nintendo Switch em Março, ajudou imenso à adesão inicial, mas para muitos, principalmente para as massas, a Nintendo continua a ser sinónimo de Super Mario. Este novo título acarreta deste modo uma grande responsabilidade, o de catapultar a Nintendo Switch para uma audiência ainda maior.
É impossível não gostar de Super Mario e o seu historial é uma prova viva disso. Com mais de 30 anos em cima, é uma das franquias mais populares dos videojogos. Embora no Reino dos Cogumelos ninguém envelheça, se formos a contar os anos desde a sua estreia, Super Mario é mais velho do que eu. É curioso, até porque o primeiro contacto que tive com os videojogos foi precisamente com um título desta saga. Se a memória não me falha, o primeiro videojogo com o qual tive contacto, com cerca de 3 ou 4 anos de idade, foi Super Mario Land para o Gameboy "Tijolo", que um primo tinha recebido como prenda de aniversário. Fiquei fascinado e a partir daí os videojogos começaram a fazer parte da minha vida, até hoje.
Só uns anos mais tarde, quando tive um Gameboy (já era a versão Color), é que conheci a fundo um título desta longa série com Super Mario Bros. Deluxe. Era uma versão melhorada e recheada de novos conteúdos com base no original da NES. Perdi conta às horas que passei a jogar nos intervalos e nas horas livres. Depois dos níveis principais, havia imenso para fazer, desde as corridas dos fantasmas até um novo conjunto de níveis desafiantes que eram simbolizados no menu principal com a cara do Luigi.
Pegar em Super Mario Odyssey é um espelho desta experiência. De um lado temos um novo jogo igualmente apetrechado de conteúdos, e do outro uma nova portátil da Nintendo que dá um salto qualitativo nos “jogos de bolso”. O novo jogo é representativo máximo da filosofia da Nintendo, preservando os elementos tradicionais que todos conhecem enquanto são introduzidas novidades. Não é um jogo que arrisca nem dá um passo maior do que a perna, mas tem momentos momentos genuínos de encanto e diversão.
"O novo jogo é representativo máximo da filosofia da Nintendo, preservando os elementos tradicionais que todos conhecem enquanto são introduzidas novidades"
A palavra-chave é “Cappy”, o companheiro em forma de chapéu que vai acompanhar Mario ao longo desta odisseia pelo planeta. Cappy tem um poder muito especial, o de “possuir” os vários inimigos que vão aparecendo. É uma ideia que, apesar de parecer relativamente simples, resulta maravilhosamente na prática. Era disto que a série estava a precisar para escapar a monotonia. Obviamente que Mario continua a ser a personagem central, mas a possibilidade de controlar outras personagens deste universo traz diversidade e desafios criativos.
Cappy não é a única grande novidade. Super Mario Odyssey é como se fosse uma aventura, quebrando os moldes dos seus antecessores. As plataformas e os saltos controlados continuam a ser uma parte essencial da experiência, mas cada zona visitada tem mais personalidade e parece “mais viva”. A área que transmite melhor esta sensação é New Donk City, uma cidade claramente inspirada em Nova Iorque. Há carros nas ruas e personagens com falas simples mas bem humoradas, um grande passo em frente face aos mundos praticamente estéreis de jogos anteriores.
Se já alguma vez jogaram um Super Mario, já sabem qual é a história. O temível Bowser raptou, novamente, a princesa e desta vez quer dar o nó de vez ao casar-se com ela. Isto é a desculpa para a odisseia, que na verdade é mais uma perseguição. Bowser vai passar por vários reinos para planear o casamento perfeito e espalhar o caos pelo caminho. Em cada reino há algo importante para o casamento, como flores lindíssimas ou um bolo divinal. Enquanto Bowser deixa um caminho de destruição, Mario passará por cada um destes reinos seguindo o rasto e salvando o dia.
Embora cada mundo seja visualmente diferente e apresente novos desafios, o objectivo é sempre o mesmo. A nave de Mario é alimentada por luas, e para continuar a perseguição a Bowser, terá que encontrar luas suficientes para que a nave tenha combustível suficiente para chegar ao próximo reino. O número de luas existentes varia de reino para reino, mas há muitas mais do que pode parecer. Cada nível esconde muitos segredos e formas criativas de obter as luas (cheguei ao final, mas creio que não apanhei nem metade das luas que existem).
Cada nível tem também um boss diferente à nossa espera. Há coelhos maléficos, pássaros, dragões e outras criaturas que Mario terá que enfrentar antes de apanhar Bowser. Cada um destes confrontos tem mecânicas diferentes, mas todas elas são simples e imediatamente óbvias. Diria que Super Mario Odyssey está dividido em duas partes, e a primeira parte pode ser excessivamente fácil. É muito divertido no início, mas na recta final já estava a ficar farto da facilidade. Ainda bem que, depois do final, há novos desafios e a dificuldade aumenta. Compreendo que este é suposto ser um jogo para todas as idades e pessoas, e não quer insinuar que a dificuldade tem que ser extrema, mas tem que haver um equilíbrio. Se um jogo demasiado difícil é frustrante, um jogo demasiado fácil é aborrecido.
Se acham que os jogos de Super Mario se resumem a correr e a saltar, Odyssey vem quebrar um pouco essa tradição. Já referi a habilidade de Cappy para controlar outras personagens e criaturas, transformando de formas incríveis a jogabilidade (quando colocamos o chapéu num tanque, ficamos com um jogo de tiros), mas no modo normal Mario tem muitas subtilezas. Por exemplo, três saltos encadeados resultam num terceiro salto muito maior, e quando está parado, Mario pode fazer um mortal para trás e alcançar plataformas mais altas. Também podemos prolongar um salto com um impulso a meio do ar e colocar o chapéu a rodar em nossa volta funcionando como barreira de protecção.
A jogabilidade tem ainda mais subtilezas se jogarem com os Joy-Con separados, isto é, um em cada mão. Neste formato entram em jogo os controlos por movimentos. A Nintendo encoraja o utilizar a jogar assim, mas pessoalmente, não me senti confortável. Os Joy-Con são pequenos e desta forma não têm qualquer apoio, resultando num desconforto para chegar aos botões. Reparei que jogava muito melhor com os Joy-Con colocados nas laterais da consola ou postos no suporte que os transforma num comando tradicional.
"Visualmente, é um jogo bonito, colorido e com áreas muito imaginativas e marcantes"
A possibilidade de comprar fatos para Mario, recorrendo às moedas ou a uma moeda especial que varia conforme os níveis, é outra novidade de Odyssey. É muito engraçado comprar e vestir a personagem de diferentes formas, até porque existem muitas combinações possíveis. É uma novidade da série que já poderia ter sido implementada há muitos tempo, afinal, são inúmeros os jogos que permitem personalizar a personagem com roupas, penteados, tatuagens e acessórios. Super Mario Odyssey não vos dá liberdade a este ponto, mas já é um passo em frente.
Visualmente, é um jogo bonito, colorido e com áreas muito imaginativas e marcantes. Como muitos outros jogos da Switch, tem melhor aspecto no ecrã da consola, ainda que não fique nada mal na televisão. Neste modo, nota-se uma pequena falta de nitidez devido à resolução estar limitada a 900p, mas o facto deste ser um jogo cartonesco e sem efeitos realistas, ajuda a minimizar o efeito. Melhor ainda é a banda sonora, facilmente uma das melhores que já ouvi em 2017. São dezenas as faixas musicais que ficam gravadas na memória imediatamente, principalmente aquele tema fantástico estilo “Broadway” que se pode ouvir em New Donk City (depois do final do jogo podem alterar livremente entre as músicas).
Mesmo com pequenas irritações, como o excesso de facilidade e alguma repetitividade praticamente inevitável, que se torna mais forte nos últimos níveis, Super Mario Odyssey é um jogo encantador para a Nintendo Switch. É à primeira vista um jogo muito simples, mas quanto mais jogámos, mais nos apercebemos da atenção prestada aos pormenores Após mais de 30 anos, Mario ainda não perdeu o charme e este jogo ainda consegue roubar uns sorrisos e encher-nos de nostalgia. É de longe o Super Mario mais refrescante dos últimos anos e, a par de Zelda: Breath of the Wild, o melhor que a Nintendo Switch tem para oferecer, embora no panorama geral dos videojogos, não traga nada de novo.