Surgeon Simulator Touch - Análise
Até vão ficar com medo de ir ao médico.
Estamos oficialmente na era dourada dos simuladores, ao ponto que em breve teremos um Goat Simulator e até um Bear Simulator, que já aprovado no Kickstarter. A palavra Simulator (simulador em português) está associada à realidade, mais propriamente a algo que procura retratar de modo mais ou menos fiel, dentro dos possíveis, a realidade. Há exemplos de jogos que usam a palavra neste sentido, como os simuladores de aviação, que são usados por pilotos reais para treinar as técnicas e para aprendizagem. Mas recentemente, a palavra Simulator também tem sido usada para a paródia, como é o caso de Surgeon Simulator, primeiro lançado para PC e agora com direito a uma versão tátil para iPad.
Surgeon Simulator está longe de ser um simulador puro e duro. É mais uma versão humorística do que se passa nas salas de operações, mas que ainda respeita algumas regras básicas do corpo humano. A perda de sangue e o ritmo cardíaco serão sempre duas variáveis que terão de respeitar, ou caso contrário o paciente morrerá e terão de recomeçar de novo. Se isso acontecer, não se preocupem, o paciente é uma cobaia e está na maca para que se possam divertir e experimentar as técnicas mais absurdas de operação com os instrumentos menos apropriados. Em Surgeon Simulator não há negligência médica, por isso sinta-se à vontade.
No total existem quatro tipos de operação nesta versão Touch: transplante de coração, transplante de rins, transplante de olhos e transplante de dentes. O grau de dificuldade está em sentido crescente, por esta razão é que o transplante de coração é a primeira operação que vão realizar e terão de forçosamente chegar ao fim (com o paciente vivo, é claro) para desbloquear o transplante seguinte. As instruções e instrumentos para cada tipo de operação podem ser consultadas, mas parece-me que se assim o fizerem, o jogo perde grande da sua piada, que é aprender e explorar as utilidades das ferramentas e quais os procedimentos necessários para terminar a operação.
Cada uma das operações apresenta diferentes obstáculos. No transplante de coração têm que partir a armação das costelas sem que o paciente entre em paragem cardíaca ou perca demasiado sangue. Passando para os rins, têm que descobrir como cortar o intestino grosso no sítio mais ou menos certo e depois usar uma ferramenta específica para cortar os rins. Na troca de olhos têm que descobrir como removê-los da sua cavidade, o que pode implicar várias tentativas mas vão acabar por chegar lá. A operação dentária é a mais óbvia mas também a mais difícil por requerer um nível de precisão que muitas das vezes o jogo não consegue dar. Neste procedimento temos que remover os dentes podres e substituí-los por dentes novos. Parece simples certo? O entrave está na parte de remover, em que torna-se frustrante acertar no dente podre e acabamos por destruir os dentes bons que estão à volta.
"Surgeon Simulator está longe de ser um simulador. É uma versão humorística do que se passa nas salas de operações, mas ainda respeita algumas regras básicas do corpo humano."
Concluídas estas operações, provavelmente só depois de várias tentativas, vão desbloquear o modo corredor, em que podem repetir cada uma delas numa maca em andamento pelo corredor do hospital. Os instrumentos não estão sempre ao vosso alcance, vão e vêm num tabuleiro andante. Num momento crucial, em que o paciente está entre a vida e a morte, é essencial ter os instrumentos corretos, por exemplo, a milagrosa vacina verde que pára a perda de sangue ou a vacina azul que aumenta o batimento cardíaco. O melhor a fazer é agarrarem no que puderem e atirar tudo para cima da maca e esperar que nada caia ao chão entre as falhas das proteções laterais.
Baseado no tempo e na condição do paciente no final da operação, serão classificados de A a E, sendo a primeira a melhor classificação que podem obter. Depois de assimilarem o que têm de fazer em cada operação, Surgeon Simulator torna-se bastante simples. Obter uma melhor pontuação mas diferentes operações, e conquistar as muitas conquistas do GameCenter (algumas têm bastante piada), é o que resta a fazer.
Também há que louvar a inclusão de um modo multijogador, abrindo uma competição os aspirantes a cirurgiões do todo o mundo. O primeiro a acabar a operação ganha. Era engraçado se pudéssemos ver a operação do nosso rival, mas não conseguimos ver nada além do estado do seu paciente. Importa sublinhar que o multijogador de Surgeon Simulator resulta melhor a nível local com um grupo de amigos do que online com um estranho, tornado-se muito mais divertido na primeira situação, principalmente se houver à mistura estreantes em Surgeon Simulator, que provavelmente vão matar o paciente numa questão de segundos e despertar risos a quem está a assistir.
Uma funcionalidade novidade para a versão tátil é a gravação de vídeos de gameplay. Há um modo dedicado para este efeito que em nada difere do jogo normal. A única diferença é que no final aparece a opção de fazer upload do vídeo e em seguida partilhar no Youtube, Facebook e email. Mais uma vez Surgeon Simulator dá evidências que é um jogo muito virado para o lado social. Gravar vídeos e partilhar com os amigos ou mesmo com o resto da Internet é algo que muitos jogadores desejam, e visto que gravar vídeos gameplay no iPad requer aplicações pagas ou métodos complexos, é de louvar que o Bossa Studios tenha incluído este modo que simplifica o processo.
Para um jogo que nasceu no PC, com a precisão do rato e teclado, Surgeon Simulator está muitíssimo bem adaptado ao iPad. Excluindo os já mencionados momentos frustrantes com o transplante dentário, o jogo porta-se lindamente em todas as situações. Pegar nos instrumentos é fácil e lidar com eles também. Para apontar só têm que segurar no instrumento e com a outra mão tocar no local desejado no ecrã. A pontaria nem sempre é a melhor e pode acontecer esfaquear ou esburacar o paciente sem querer, mas estes falhanços fazem parte da diversão de Surgeon Simulator.
Surgeon Simulator consegue com sucesso tornar algo muito sério e aborrecido em algo divertido e entusiasmante. Não esperem aprender alguma coisa séria sobre o corpo humano, mas quem diria que fazer operações, ainda que a brincar, poderia ser tão fascinante? O leque de operações podia maior e mais variado. O modo Corredor ajuda a prolongar a longevidade, mas no final, as operações continuam a ser iguais, com o twist de uma dificuldade ligeiramente mais elevada. Em jeito de conclusão, Surgeon Simulator é uma boa estreia no iPad e prova que há espaço para evolução e um mercado para género dos simuladores. Perante este caso, a falta de conteúdos impede-o de brilhar.