Sword Art Online: Lost Song - Análise
O MMO que é na verdade um RPG de acção.
Sword Art Online começou como um título para a PSP, lançado em exclusivo no Japão em 2013, de seu nome Sword Art Online: Infinity Moment inspirado na fascinante obra de Reki Kawahara. Em Agosto de 2014, a Europa recebeu então Sword Art Online: Hollow Fragment para a PlayStation Vita que além de novos conteúdos e história, inclui tudo o que foi inserido em Infinity Moment da PSP. Um ano mais tarde, Sword Art Online Re: Hollow Fragment chegou à PlayStation 4 como a versão em alta definição do jogo da portátil e permitia à consola caseira ter todos os conteúdos necessários em preparação para o terceiro jogo. Agora, Sword Art Online: Lost Song está finalmente disponível e através da versão PlayStation 4, tivemos a oportunidade de descobrir o que está a ser feito neste mundo virtual dentro de um mundo virtual.
A obra de Kawahara, da qual SAO nasceu, é intrigante. Em 2022, Akihiko Kayaba desenvolveu um Virtual Reality Massively Multiplayer Online Role-Playing Game (chamado Sword Art Online) que usa um capacete chamado NerveGear. Temo então a realidade virtual elevada a um nível que permite que o jogador esteja mesmo dentro daquele mundo, usufruindo de uma interface que recorre a todos os cinco sentidos. Kazuto "Kirito" Kirigaya é o nosso protagonista e é um dos infelizes a descobrir que foi vítima de uma armadilha. Quando já dentro de Sword Art Online, Kirito descobre que o criador desenvolveu a experiência de forma a que quem morrer dentro do jogo também morrerá na vida real. Fica montada uma caça ao homem dentro do videojogo de realidade virtual e Kirito terá que o encontrar para o derrotar.
Isto deixa-nos perante o arranque de Lost Song, quando Kirito e companhia, que entretanto conheceu e ajudou em Hollow Fragment, está a superar o trauma mas sem largar a realidade virtual. Graças a um novo jogo, Alfheim Online, o grupo vai-se reunir e o objectivo é simples, desfrutar de uma experiência na qual não colocam a vida em risco e navegar pelo continente flutuante. Pelo caminho, Kirito irá conhecer a Shamrock, uma guild rival que está no topo de ALO, e desvendar os segredos por detrás de Seven, a cientista Russa que além de vários progressos no campo da realidade virtual, é ainda a líder da Shamrock.
Quando comecei a jogar Sword Art Online RE: Hollow Fragment em Agosto de 2015, senti-me completamente perdido. Estava perante um JRPG que me fazia lembrar a espaços o saudoso Phantasy Star Online da Dreamcast mas mais parecia um MMORPG. A ideia de Sword Art Online é precisamente essa, a de inserir o jogador num ambiente MMO mesmo que esteja a jogar a solo. É algo que pode ser estranho de explicar mas que acaba por resultar pois aborda as posturas, mentalidades, tarefas, e agendas que uma guild num verdadeiro MMO tem que gerir. Até os dilemas do dia-a-dia de um grupo de indivíduos que tenta gerir o seu tempo na vida real com o tempo no jogo. A procura por emoções e aventuras acaba por falar mais alto mas o interessante é verificar como isso molda o gameplay e estrutura do jogo.
Apesar de estarmos dentro de um MMORPG, Lost Song comporta-se mais como um JRPG de acção, no qual vemos os inimigos no ecrã e podemos desde logo começar a atacar sem qualquer interrupção. Não existe divisória entre o caminhar pelos cenários e palcos de combate mas a forma de combater é toda ela tradicional JRPG de acção. Acompanhados de mais duas personagens, combatemos em tempo real até chegar ao boss da masmorra para continuar a progredir em direcção ao objectivo da guild. É possível atribuir algumas ordens aos nossos companheiros de luta mas o maior gosto que tive em Lost Song foi fora de qualquer masmorra, a navegar pelos enormes campos de Alfheim. Neles podemos enfrentar monstros enormes, voar livremente pelos céus, alternar entre voo e combate sem quaisquer interrupções, lutar no ar até, encontrar missões opcionais ou descobrir armas para verificar o seu nome e equipar.
O tempo que passei nas masmorras a jogar um RPG de acção que obedece a conceitos de MMO foi o menos divertido, o que é preocupante pois é onde passam a maior parte do tempo. Nada de particularmente emocionante. O mais divertido foi passear e lutar nos enormes espaços, procurando melhores itens, melhorando o nível e desfrutando do resto da experiência. Como referido, Lost Song pode não ser um MMO mas praticamente tudo te tenta enganar a acreditar que sim. Isto quer dizer que temos que aceitar missões, existem imensas missões secundárias, para progredir no jogo e melhorar o nível da nossa guild. Toda a sua gestão é feita em locais específicos, como cidades, onde podemos descansar, comprar itens, avaliar armas e conversar com os personagens de forma a explorar uma espécie de simulador de namoro.
O jogo arrancou há pouco tempo e a nossa guild precisa progredir. Teremos que entrar em missões que nos levam a percorrer masmorras para depois voltar ao espaço comum às guilds e progredir a narrativa e seguir para mais missões. De certa forma, é este design arcaico que poderá incomodar um pouco em Sword Art Online. Frequentemente senti que se fosse possível progredir para uma nova missão sem ter que voltar necessariamente ao espaço comum, a experiência ficaria muito mais suave. A diversão pode ser cortada quando temos que ir a um ponto para meros minutos depois termos que ir precisamente onde já sabíamos que teríamos que ir.
O conceito em si funciona e bem, apenas precisa limar algumas arestas até ficar em plena forma. Lost Song está longe de ser uma experiência complicada, pelo contrário, é até bastante simples e directa, mas precisa de mecânicas que simplifiquem a experiência. A história consegue prender o jogador e faz um bom trabalho em ligar o mundo virtual e o mundo real daqueles personagens mas o design das masmorras e a estrutura do jogo em si poderá afectar alguns. No entanto, está feito para atrair quem já se rendeu a Sword Art Online e a verdade é que apesar de se mostrar arcaico nos seus designs, consegue divertir com o seu espírito.
A maior debilidade de Lost Song está mesmo na sua componente técnica. Graficamente esta versão PlayStation 4 é muito pobre e também aqui poderíamos discutir se este jogo nada mais é do que um remaster. Os enormes espaços para explorar são bem-vindos e são dos melhores momentos mas o design de masmorras é no geral fraco, em algumas podem correr por elas fora. O grande número de inimigos nos campos enormes não disfarça a fraca qualidade gráfica e em alguns momentos pode até ser assustador. De igual forma, o design dos locais e dos níveis é relativamente simples e parece que nem sequer foi feito esforço para impressionar. É provavelmente a maior debilidade de Lost Song, a qualidade gráfica, e como o design de masmorras pode falhar em desafiar o jogador.
Grande parte do carisma de Lost Song está na sua vertente online, o que lhe confere uma personalidade a relembrar levemente o que tivemos em outras eras nas consolas, em jogos como Phantasy Star Online. O conceito de uma experiência para um jogador que pode ser a qualquer momento transformada numa jornada cooperativa, é um dos principais atractivos deste Sword Art Online. Se quiserem, podem entrar em duelos contra outros jogadores, em modo PvP, mas confesso que pouca atracção representou e não foi algo que tivesse gosto em repetir. É uma curiosidade que funcionará para alguns mas não será imperativa. Pelo outro lado, a possibilidade de enfrentar missões acompanhados por mais três pessoas é um toque excelente. Especialmente porque desde logo, SAO apela a uma forte proximidade entre comunidades. A possibilidade de combaterem ao lado uns dos outros é uma opção muito bem-vinda.
O maior problema de Sword Art Online: Lost Song é ao mesmo tempo seu maior trunfo: descobrir que é uma série de nicho num género de popularidade cada vez mais reduzida, em declínio após um ligeiro pico, e cada vez mais centrada nos seus fãs. O incrível fan-service, os conceitos e ideias que são aqui aproveitadas, toda a ideia de um jogo dentro de um jogo e como isso molda as emoções e interacções entre seres humanos. Em diversos elementos Lost Song consegue ser mais do que um mero JRPG. Pena que do outro lado da moeda esteja uma componente visual e técnica muito abaixo do desejado. Se gostam de um bom JRPG de acção então nada devem ter a temer, SOA: Lost Song é um caso a investigar mas se por outro lado desejam já algo mais épico e ambicioso plenamente assente na nova geração, talvez seja melhor esperar mais um pouco.