Tales of Arise Review - o merecido revitalizar da série
Finalmente temos o tão desejado jogo que catapulta Tales of para um novo patamar.
Depois de anos a receber críticas de estagnação e a ver as vendas a cair de jogo para jogo, a Bandai Namco decidiu dar finalmente à série Tales of um novo rumo e utilizou Arise para esse efeito. Depois de lançar 8 jogos em 10 anos, a série Tales of começou a apresentar sinais de desgaste, especialmente nos seus visuais datados e personagens que conquistavam ou irritavam profundamente. Berseria deu sinais de melhorias e ostentou uma qualidade muito interessante, mas há muito que paira algo sobre a série Tales of que parecia não a deixar ir mais além, fossem os visuais, as personagens ou simplesmente a sensação que pouco mudava de jogo para jogo. Com o intuito de reavaliar e evoluir a série Tales, a equipa recebeu sangue fresco e teve mais tempo para desenvolver Arise, que chega mais de 5 anos depois de Berseria.
O resultado mais do que recompensou esta aposta num projeto de maior ambição. Ansiosa por refrescar a imagem da série, a Bandai Namco reconheceu o potencial para colocar o nome Tales ao lado dos JRPGs mais elogiados e até dos mais mainstream. Pensado como um projeto de maior qualidade e com fortes ambições tecnológicas, em conjunto com as artísticas, posso dizer com todo o gosto que Tales of Arise é o jogo pelo qual tanto esperaste. Se muitos novatos estão a ser atraídos para este jogo graças aos visuais ou sistema de combate, os veteranos podem sorrir pois este é o jogo que desejavam e que lhes dará um grande ânimo por terem permanecido fieis à série. Especialmente porque é percetível a ambição do projeto e o maior tempo para o desenvolver.
Tales of Arise é um jogo extremamente bem polido, equilibrado e afinado, algo que facilmente sentes no gameplay. A Bandai Namco cortou imensas das artificialidades que pareciam padrão nos JRPGs para tornar a experiência muito mais dinâmica. Usou também o Unreal Engine 4 para visuais gloriosos e trabalhou num elenco que torna a narrativa ainda mais apelativa. Ao conquistar mais tempo para desenvolver Arise, apostar em maior ambição e equilibrar a equipa com sangue novo, a Bandai Namco poderá ter encontrado a fórmula para eletrizar a série Tales of.
Uma nova era na série Tales
Apesar de brilhar com um novo esplendor, Arise mantém muita da identidade da série Tales of, mas é precisamente este misturar de elementos clássicos com traços novos que o eleva acima do que foi feito na última década, onde a série estagnou. A estrutura permanece muito linear e agora nem mapa mundo tens. As áreas de maior escala são muito similares ao que viste na demo, mas isso parece ter sido o preço a pagar por visuais de grande qualidade, uma fluidez incrível de movimentos, batalhas estimulantes, e ainda uma história fácil de acompanhar e interessante de seguir suportada por boas personagens. É verdadeiramente uma nova era para Tales of. Existe um antes e depois de Arise.
Arise é basicamente uma história sobre a perseguição da liberdade, na qual os escravizados Dahnans tentam libertar o seu planeta da opressão dos Renans. Tudo começa com Alphen, um escravo sem memórias que trabalha nas minas em Legalia, uma das cinco regiões do planeta Dhana, onde no seu céu está o planeta Rena. No entanto, quando um dia se depara com Shionne, uma Renan perseguida por Renans, a sua vida muda por completo e dará por si no meio da rebelião contra os cinco Lordes Renan. Descobrir as intenções de Shionne, as memórias de Alphen e o porquê de todo o planeta Dhana estar a ser escravizado pelos Renans - mais avançados tecnologicamente - são forças constantes que te fazem sentir prazer em jogar mais, avançar nas masmorras lineares, e enfrentar bosses para saber mais da narrativa.
Tales of Arise removeu muitos dos clichés dos jogos anteriores e não aposta nos maus hábitos que parecem assombrar os JRPGs de outrora. Não existem aqui personagens acrianças ou temáticas patetas, todas as personagens têm estilo e substância. De uma forma ou outra, todas sofreram horrores com a escravização e, mesmo Shionne, uma Renan no meio de um grupo de rebeldes Dahnans, tem os seus propósitos contra o próprio povo. São personagens que dão gosto descobrir e uma trama que se desenrola a ritmo satisfatório.
A qualidade dos personagens e da narrativa, em conjunto com os visuais renovados e o sistema de combate eletrizante, já fazem com que o jogo se erga acima da esmagadora maioria do que veio antes, mas é o tom épico de todos os seus quadrantes a funcionar em uníssono que realmente impressiona. Os visuais são incríveis e, quando as batalhas alcança uma qualidade quase anime, é impossível não ficar impressionado - especialmente nas boss fights, com diversos especiais a acontecer e com o motor de jogo a permitir cinemáticas espetaculares.
No entanto, diria que é o quão refinado está que realmente te vai deixar rendido após horas e horas de jogo. Na demo facilmente percebeste um dos principais indicadores da filosofia da equipa: dinamizar ao extremo o ritmo e consequente prazer que retiras do jogo. Quando a batalha termina, não tens a habitual pausa com pose de vitória e EXP ganha, sais logo desse ecrã e a EXP é revelada de forma dinâmica e não intrusiva no lado esquerdo do ecrã. São exemplos de uma nova atitude refrescante que solidificam ainda mais o desfrutar deste Arise. Não existem os habituais entraves artificiais ao progresso ou mecânicas que terás de suportar para prolongar a longevidade. As viagens rápidas ficam disponíveis muito cedo e, em conjunto com os loadings muito rápidos, tornam a tarefa de cumprir missões secundárias muito rápida.
Um sistema de combate frenético do qual não te cansas
Se jogaste a demo de Arise sabes bem o que te espera aqui: um sistema de combate eletrizante que quase o transforma num fighting game com os seus golpes combinados e combos. Arise mantém os princípios básicos do Linear Motion Battle System, mas aposta num maior dinamismo e alternar frenético entre os botões do comando para tornar tudo mais empolgante. Existe um forte foco nas esquivas perfeitas para buffs e ataques velozes, elementos que traçam fortemente o perfil deste sistema de combate, mas diria que são as mecânicas como o Boost Strike e Combos que realmente formam a faceta mais marcante destes combates que jamais cansam.
Ao longo das mais de 45 horas necessárias para o terminar, não me cansei do sistema de combates e, apesar de ocasionalmente o grind ser demorado, foi sempre divertido derrotar mais e mais inimigos. Isto porque és incentivado a alternar entre os ataques normais e os movimentos especiais (sendo também recomendado não repetir ataques especiais, como quem diz, martelar o mesmo botão). Se conseguires atordoar o adversário (estado Break), surge um ícone à sua frente e com os teus ataques podes permitir ativar o Boost Strike. Estes são ataques nos quais duas personagens unem esforços e despoletam movimentos incríveis, dignos das melhores anime. São momentos incrivelmente explosivos e que injetam imensa eletricidade na experiência. Ao ativar o Boost Strike, o dano não se aplica somente a um adversário, mas sim a todos os que estão à volta e potencialmente, podes usar a estratégia de colocar um determinado alvo em Break, chegar ao Boost Strike e causar imenso dano de área para ceifar grande parte ou toda a vida a um adversário mais forte.
Tales of Arise deu-me mesmo a sensação de estar a jogar um Tales, mas que ao mesmo tempo consegue tornar-se em algo novo e empolgante. É um dos maiores trunfos alcançados pela equipa de desenvolvimento. Não me cansava de combater para experimentar o efeito de novas habilidades, descobrir um melhor encadeamento de habilidades para tornar mais fluídos os movimentos dos personagens e poupar nos gestos desperdiçados para assim maximizar as possibilidades de alcançar o Boost Strike devastador. Tales of Arise consegue ser apaixonante.
O poder da atual geração, gráficos excelentes e uma banda sonora maravilhosa
Tales of Arise foi jogado na PlayStation 5, onde os loadings são incrivelmente rápidos (3 a 5 segundos para ir do menu ao gameplay, por exemplo) e o modo performance a 60fps corre com incrível qualidade. Mesmo usando várias habilidades especiais com os quatro membros da equipa no ecrã e vários inimigos, o jogo não para e permanece deliciosamente fluído, como uma espécie de anime interativa. Os visuais no modo performance sofrem com algum pop-in, mas no geral temos um jogo com uma qualidade visual altamente apelativa e que está muito, mas mesmo muito acima do que foi feito anteriormente na série.
Parte dos esforços para dinamizar a série Tales of e aumentar a sua popularidade mundial entre as massas está na transição para o Unreal Engine e gráficos muito acima do aspeto datado de Berseria ou Zestiria, o que em conjunto com o design artístico e locais que percorres, resulta numa maravilhosa aventura ao longo de um mundo no qual queres permanecer. Um grande elogio também para Motoi Sakuraba, que volta a assinar mais uma deslumbrante banda sonora e demonstra que a Bandai Namco fez muito bem em manter esta aposta.
Um JRPG memorável
Com Arise, a Bandai Namco vê a série Tales of a conquistar finalmente o direito de se colocar ao lado de pesos pesados como Dragon Quest 11 ou Final Fantasy 7 Remake, JRPGs capazes de conquistar as massas. É um jogo incrivelmente refinado, polido e equilibrado, com um sistema de combate divertidíssimo, elenco e temáticas interessantes, locais belos de conhecer, e visuais de arregalar as vistas que combinam tecnologia e direção artística com grande capacidade. A sua linearidade poderá incomodar alguns, mas perante o nível de polimento e o quão equilibrados estão todos os elementos da experiência, não incomodou nem um pouco passar por áreas de movimento mais restrito para desfrutar de tamanha qualidade geral.
Prós: | Contras: |
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