Tales of Berseria - Análise
O melhor da série em largos anos.
Apesar da série "Tales of" da Bandai Namco ter nascido em 1995, na SNES, foi somente em 2008 que tive o prazer de conhecer esta série de JRPGs. A chegada de Tales of Vesperia à Xbox 360 deu-me uma referência na série mas até fez mais do que isso, deu-me também uma referência dentro do género e tornou-se num dos meus JRPGs favoritos. A jornada de Yuri Lowell ao lado de um grupo personagens que adorei conhecer, os visuais que se aproximavam de uma anime, e o prazer que foi conhecer a acção permitida pelo Linear Motion Battle System nos combates, fizeram de Vesperia um jogo fantástico. Vesperia é altamente importante pois estabeleceu o molde para os jogos que surgiram ao longo destes nove anos, e o mais satisfatório é descobrir que Tales of Berseria consegue ser o jogo que, finalmente, está à altura desse clássico que joguei há tantos anos atrás.
Ao longo dos diversos jogos apresentados na série, a Bandai Namco criou sempre numa nova temática principal, a partir da qual construiu o enredo e os personagens que protagonizam estas cruzadas. Além do enredo, também as constantes ramificações e variantes do Linear Motion Battle System ajudaram a conferir singularidade a cada nova entrada na série "Tales of". Para Berseria, a Bandai Namco aposta no que chama de Liberation Linear Motion Battle System, e a palavra mais importante é mesmo a primeira, Liberation. Após sucessivos ajustes, alterações, adaptações contextualizadas com o enredo (como as fusões em Zestiria), a Bandai Namco parece ter conseguido o melhor sistema de combate depois de Vesperia, sem a momento algum deixar de ser um LMBS. Depois de algum desânimo com os títulos mais recentes, foi com grande prazer que assisti ao regresso da série à boa forma, mesmo que algumas coisas teimem em persistir e não sejam exactamente benéficas.
Berseria coloca-te em Holy Midgand Empire, uma terra que num futuro distante irá ser palco para os acontecimentos de Zestiria, no papel de Velvet Crowe. A protagonista de Berseria, uma grande responsabilidade para a primeira mulher a desempenhar esse papel, transporta-te para uma pacata aldeia rodeada por uma bela floresta em tons de Outono. Ao contrário do que a calma na aldeia sugere, o mundo vive debaixo do terror da doença Daemonblight, que tira a racionalidade aos humanos e transforma-os em Deamons, como quem diz demónios mesmo. Após eventos trágicos, que não vou revelar aqui, a sua vida muda completamente. Não só transforma por completo a sua personalidade, tornando-a amarga e revoltada, como muda por completo todo o mundo em seu redor.
Através destes eventos trágicos, Velvet torna-se no principal meio condutor para o tema central de Tales of Berseria, "Emoção vs. Razão". Pelos olhos de Velvet, vais conhecer um novo conjunto de personagens, que cumprem inevitavelmente os clichés a que a Bandai Namco te habituou nesta série (com os skits a seguir por tons já esperados), mas terás ainda a oportunidade de assistir a eventos que fazem com que a história seja verdadeiramente interessante. Mais do que qualquer outro jogo da série nos últimos anos, Berseria apresenta uma história que te agarra precisamente pela força e carisma de Velvet enquanto protagonista. Velvet é diferente dos heróis de tom pateta em que a Bandai Namco teima em apostar. Velvet não é a típica heroína benfeitora, assume-se quase como uma anti-heroína, com uma incrível sede de vingança e sem tempo para perder. Desta forma, torna-se totalmente diferente do que vemos habitualmente na figura de um protagonista e dá muito valor a esta temática que brinca com o jogo das emoções perante os que se cingem a ver o mundo apenas através da razão.
É graças aos personagens e ao enredo que Tales of Berseria te vai cativar, mas o seu sistema de combate também é um dos seus maiores trunfos. O Linear Motion Battle System desde sempre permitiu combates rápidos, frenéticos, com uma acção intensa que dá gosto jogar. Berseria leva isso mais longe com o elemento Liberation, que torna este sistema muito mais solto, mais livre, e ainda mais veloz. Os combates com Velvet ganham ainda mais energia, e apesar de toda a simplicidade dos controlos existem boas camadas para uma profundidade respeitável. Quase assumindo o tom de um beat' em up, os combates em Berseria são baseados em combos que podes alternar à tua vontade através da ordem pela qual pressionas os botões. Ao invés de um botão específico que pressionas sistematicamente para atacar, em Berseria todos os quatro botões principais representam um movimento diferente. Dependendo da ordem pela qual pressionas cada botão, Velvet desencadeia combos e mais parece que estás a jogar um fighting game.
O movimento livre pela zona de combate, este sistema de combos livres (podes personalizar a ordem dos movimentos, atribuir novos a cada botão e escolher a sua ordem em cada botão) em conjunto com a possibilidade de trocar de personagens a qualquer momento, fazem com que este seja o mais divertido sistema de combate que já vi na série "Tales of". Claro que o imponente braço demoníaco de Velvet também acrescenta à dinâmica dos combates, oferecendo mais variedade nos combos. Ao utilizar o braço, Velvet troca o número máximo de movimentos que pode encadear por um pequeno surto de poder que culmina com um golpe espectacular. O dinamismo que este sistema de combos livres introduz no gameplay não pode ser menosprezado, e fica aqui uma referência futura para a série. Especialmente pela sua liberdade e dinamismo.
Pelo outro lado, enquanto os combates se tornam incrivelmente divertidos, por mais simples que sejam, a Bandai Namco não revela o mesmo nível de avanços, ou melhorias se preferires, no design e estrutura do jogo. Pegando nos moldes que têm sido aplicados à série nos tempos recentes, Berseria coloca-te em masmorras básicas que consistem na sua maioria em corredores estreitos tal como temos visto ao longo de 10 anos. Talvez demasiado simples e sem mostrar grandes diferenças sobre o que já foi feito na série, as diferentes masmorras parecem demasiado iguais entre si. A cor é o principal elemento diferenciador. Isto não significa que Berseria não tenha melhorias e novidades que o tornem satisfatório. Existem meios para percorrermos facilmente os cenários, existem atalhos e existe uma clara vontade em melhorar. No entanto, é fácil ver que a estrutura e base da série continua presa na anterior geração.
Também na vertente técnica, a série "Tales of" teima em não dar o salto que varra de vez a sensação que estamos presos com um jogo feito para a anterior geração. É fácil olhar para Tales of Berseria, e por entre todos os seus diversos locais de bela fantasia, perceber que é um jogo feito para duas gerações. Apesar de não ter sido lançada na Europa e Américas, a versão PS3 foi apresentada no Japão, e ao olhar para o jogo, mais parece um remaster. Apenas em alguns elementos ficarás com a ideia de um jogo de actual geração, e em quase todo o seu departamento visual, Tales of Berseria parece um jogo que foi feito originalmente para a PS3, e posteriormente adaptado para as restantes plataformas. Pelo outro lado, jogo corre a 1080p e a 60 fotogramas por segundo, algo muito importante para dar o verdadeiro valor a este sistema de combate, que se torna mais gratificante por isso.
A equipa responsável por Tales of Berseria conseguiu tornar o sistema de combates ainda mais dinâmico, mais veloz, e acima de tudo tornou-o num jogo muito mais satisfatório. Isto torna toda a experiência mais apelativa. Combinado com uma história que nos cativa e nos faz sentir gosto pelos personagens, é fácil olhar para Berseria e ver que está aqui o melhor jogo da série desde Tales of Vesperia. No entanto, isso poderia significar muito mais. Berseria mostra a série "Tales of" no seu melhor, mas ainda assim facilmente ficas com a sensação que é um jogo perdido no meio de duas gerações. Ficaram indicações muito boas para o futuro, mas agora a Bandai Namco terá de ir mais longe e assentar de vez a série em evoluções firmes. O molde estabelecido há quase 10 anos atrás não mais pode permanecer sem evoluções significativas. Seja de que forma for, olhando para a experiência no todo, pensando no presente e olhando para o que Berseria consegue, o que faz de bom é claramente superior ao que faz menos bem.