Tengami - Análise
O significado das flores de cerejeira.
Oriundo da Nyamyam, uma pequena produtora independente sedeada no Reino Unido, Tengami é mais um jogo com périplo iniciado nos tablets e smartphones antes de amarar em plena eShop, a coberto dessa peculiar forma de interacção através do ecrã táctil inserido no Gamepad. Tengami é uma aventura especial, algo evocativa dos antigos jogos "point'n click" mas com uma ênfase muito grande no design e ambiente, muito próximo do Japão feudal com as suas deslumbrantes paisagens cobertas de flor de cerejeira. Com uma interacção muito simples, os puzzles perfilam-se como sérios obstáculos e barreiras à progressão, mas com pouca narrativa, relevando a boa banda sonora de David Wise e uma atmosfera muito forte.
Como curiosidade, o jogo derivou de uma longa gestação, aproximadamente três anos e é produto saído da mente de pessoas que em tempos celebraram outros festins visuais e interactivos, enquanto membros da saudosa Rare, marcada pela passagem do 2D para o 3D. De certa maneira, Tengami parece encontrar um paralelo nessa transição. Ainda que em cenários totalmente tridimensionais, certas passagens confundem-se com uma espécie de "scroll horizontal". O design assemelha-se bastante ao de um quadro, uma pintura, ao desenho de um livro, do qual ao virarmos uma folha somos surpreendidos com uma construção em papel tridimensional que nos dá acesso a mais um prolongamento e um novo puzzle.
Até algum momento, Tengami encontra algumas semelhanças com um dos últimos grandes sucessos da Media Molecule: Tearaway, no meio daqueles desdobramentos. Mas enquanto que a interactividade deste é muito mais natural, à luz dos jogos de acção e plataformas e plenamente adaptado às funcionalidades da PS Vita, Tengami oferece um sistema de controlo do samurai pouco adequado a um modelo de jogo que incentiva à exploração e deslocação. Desde logo não controlamos a personagem manualmente. Em vez disso a personagem anda a pé (vagarosamente) sempre que tocamos num ponto do cenário, avançando nessa direcção.
A arte, música e ambiente são extraordinários, e quando recolhemos as flores das cerejeiras, povoando uma árvore inicialmente despida, ainda temos ânimo para prosseguir neste sistema estranho mas aceitável. No entanto, é sol de pouca duração. Não tarda até as deslocações se tornarem penosas, especialmente quando os puzzles apertam. Pena que as suas mecânicas não sejam mais diversificadas. A maior parte das vezes temos que deslocar a personagem de um lado para o outro até organizarmos a escadaria que nos leva a um ponto superior, num processo de tentativa e erro pouco entusiasmante.
Em contraponto, o jogo não fornece pistas, indicadores ou outras soluções sobre como seguir em frente, pelo que a exploração é mais natural e quase sempre nos obriga a pensar fora das regras. Alguns puzzles resolvem-se com facilidade e lógica, rodando certos mecanismos, enquanto que outros consomem mais tempo, não prescindindo nunca do ecrã táctil para os resolver.
Por outro lado, esta não é uma aventura particularmente longa. Os mais rápidos a resolver tudo poderão acabar o jogo durante o serão. Só a complexidade de alguns puzzles atrasará a chegada ao final, e pouco mais sobra que possa justificar a sua repetição. A transição entre cenários e localizações é interessante, mas exceptuando o maravilhoso conceito artístico, sobram mecânicas algo rudimentares e uma longevidade pouco usual. Talvez por isso o jogo encontre mais algum significado diante dos utilizadores de tablets ou smartphones (habituados a experiências passageiras), mas numa plataforma dedicada como a Wii U, Tengami é um título que nos deixa um travo amargo por ter potencial para ir muito longe, dando a sensação que só por receio os produtores não optaram por algo mais incrível e entusiasmante.