Terá o Japão perdido a vitalidade na indústria?
Como alguns produtores modificam o cenário de terror e apostam na criatividade.
Já passou mais de um ano desde que Keiji Inafune proferiu na TGS uma série de comentários preocupantes e depreciativos com respeito à situação da indústria japonesa, um mercado, no seu entender, manifestamente incapaz de encontrar soluções para competir com a dimensão das editoras ocidentais. Na perspectiva do "pai" de Mega Man, a força motriz japonesa perdera boa parte do significado que tinha averbado noutras décadas, pelo menos a avaliar pelas obras que desfilavam no certame, que as classificou como "vergonhosas". No final de contas, a indústria japonesa marcava passo em cinco anos por comparação com o ocidente. Como representante máximo da Capcom, uma das mais pujantes companhias nipónicas, cuja preponderância além-fronteiras ainda é insofismável, o peso dessas palavras acabou (ironia do destino) por assumir um desfecho decisivo (trágico) no cargo que detinha.
Para o ex-chefe da Capcom, afigurava-se decisivo que os produtores japoneses atentassem na forma de trabalhar dos homólogos ocidentais e seguissem de perto as fórmulas e instrumentos nas suas produções. Só assim ganhavam a adesão dos fãs. Um ano depois e com um misto de lucros e perdas no balanço fiscal da Capcom, Inafune abandonou a posição privilegiada que detinha na estrutura. Apercebendo-se que aquilo que apregoara não tivera directos resultados no papel, saiu de cena, abandonando a demanda, como que desaparecendo na areia movediça.
Mas enquanto os ecos destas palavras eivadas de desgraça e pessimismo atravessavam fronteiras e ajudavam a colonizar parágrafos nas revistas e sítios da especialidade, muitos colegas e compatriotas de Inafune trabalhavam afincadamente nos seus escritórios, desenvolvendo e preparando projectos à margem do espectro, cuja ambição, na busca de novas soluções adequadas para os mercados europeu e americano, nunca foi segredo.
Na verdade, há anos que o fazem, com propostas únicas, nem sempre máquinas de imprimir dinheiro, mas uma inequívoca demonstração da prova de vitalidade das sinergias nipónicas, um risco nesta fase de acesa disputa, revelando que, afinal de contas, no Japão a fonte criativa está longe de secar.
Junto dos produtores estabelecidos vingam sobretudo as sequelas de séries ancoradas na tradição e na familiaridade do produto. Miyamoto e Kojima são dois exemplos de produtores nipónicos que actuam dentro de uma base de risco menor. Por detrás de séries como Mario ou Metal Gear Solid, o apoio das suas editoras é fundamental, suporte indispensável para garantir uma margem de manobra quando alguns projectos mais arriscados não atingem os objectivos mínimos.
De todo o modo e apesar do quadro negro traçado por Inafune, alguns produtores japoneses deram a volta ao texto, mostrando que é possível erguer novos títulos; conteúdos originais que obtiveram o reconhecimento imediato do ocidente. Basta salientar o efeito provocado por Bayonetta, Madworld e de Vanquish. Em todos, há um traço comum; produções saídas da pena da Platinum Games, estúdio japonês apoiado pela Sega e aglutinador de produtores distintos como Hideki Kamiya, Atsushi Inaba e Shinji Mikami, curiosamente todos ex-criativos da Capcom.