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Terra do Sol Nascente - Ascenção da Nintendo 3DS

Olhar à performance da PlayStation Vita e comparação.

Muito se tem falado sobre como a Nintendo 3DS imprime dinheiro e como é um sucesso no Japão. Tal é inegável mas nem sempre assim foi pois houve uma altura em que também a mais recente portátil Nintendo enfrentou sérios problemas. Por vezes é fácil esquecer o passado mas quanto mais se olha para o futuro mais pertinente parece relembrar o que passou. Atualmente temos novas consolas a chegar ao mercado e é com alguma curiosidade que penso nos desafios que terão que enfrentar. Nomeadamente sobre como vão os consumidores reagir à sua chegada e se existem lições a aprender nos lançamentos que já ocorreram. Quanto mais olhamos para o que aconteceu no passado mais percebemos que são verdadeiramente os jogos que fazem a diferença, mas existe toda uma conjuntura de fatores intervenientes.

Mas voltando ao tema principal, se a 3DS é passados dois anos um caso de sucesso, foram precisas medidas para lá chegar. Desde então alguns aclamam a Nintendo por ter sabido reagir às vontades dos mercados mas outros acreditam que foram feitas apostas ou riscos calculados. Terá sido humildade da Nintendo ou simplesmente uma jogada para a qual teve o luxo do dinheiro e do tempo? Há dois anos atrás a guerra começava e nada era tão certo quanto se pensou e muitas surpresas surgiram.

Tinhamos que colocar.

Enquanto caminhamos a rápido passo para uma nova "guerra" no entretenimento caseiro, a mais recente foi/está a ser feita por portáteis. Quer isto dizer que temos a PlayStation Vita da Sony do outro lado que procura o seu espaço e o seu momento. As coisas não têm sido fáceis para a Sony e rapidamente percebemos que existe, ou existiu, muito em comum com as duas. Talvez tenha existido quase tudo em comum à exceção de uma coisa muito importante, a postura de cada uma das suas fabricantes. A relação entre companhia e consumidor é altamente importante na transmissão de confiança e fiabilidade.

Será que ao olharmos para a jornada Japonesa inicial da Nintendo 3DS teremos respostas para como solucionar uma crise? Será que são os jogos ou o preço do sistema que ditam o ritmo de vendas? Para tentarmos descobrir uma qualquer espécie de relação entre picos de interesse e picos de vendas, partimos para uma análise a números e estatísticas para encontrar uma resposta que nos possa mostrar como os tão importantes seis meses foram geridos pela Nintendo e Sony.

Antes de recuarmos no tempo para encontrar os números, convém referir que o mercado Japonês foi usado para este artigo pois é o único que apresenta dados semanais oficiais. É também o mercado que mais portáteis vende e que tradicionalmente serve como plataforma de lançamento para estes sistemas. Nas plataformas caseiras a realidade transformou-se mas no entretenimento portátil o Japão ainda continua a ditar as andanças. Vamos então recuar no tempo.

Estamos a 26 de Fevereiro de 2011 , dia em que a Nintendo lançou a Nintendo 3DS no Japão. Como alguns se devem lembrar, tivemos filas e falta de consolas, portanto estava preparado o palco para mais um estrondoso sucesso Nintendo. Nintendogs + Cats, Professor Layton and the Mask of Miracle e Super Street Fighter IV 3D Edition foram os principais destaques do lançamento. A jornada de Layton foi o jogo que mais vendeu, com 117.589 unidades, mas no geral a nova portátil tomou conta da tabela dos jogos mais vendidos.

Olhar para a primeira tabela de vendas após o lançamento da Nintendo 3DS revela alguns factos interessantes que exemplificam bem o panorama Japonês: 11 dos 20 jogos mais vendidos pertencem a portáteis e 6 deles à Nintendo 3DS. Foram vendidas 374.764 consolas Nintendo 3DS e pelo menos 316.006 jogos para esta plataforma. O público aderiu à nova portátil da Nintendo e tudo parecia risonho. Foi um estrondoso fim de semana para a companhia de Quioto.

Nintendo 3DS vs PS Vita

Primeiro mês de vendas da Nintendo 3DS no Japão:

  • Semana de 26/02 a 27/02 - 374,764
  • Semana de 28/02 a 06/03 - 209,463
  • Semana de 07/03 a 13/03 - 96,463
  • Semana de 14/03 a 20/03 - 61,394

Primeiro mês de vendas da Vita no Japão:

  • Semana de 17/12 a 18/12 - 321.407
  • Semana de 19/12 a 25/02 - 72.479
  • Semana de 26/12 a 01/01 - 42.648
  • Semana de 02/01 a 08/01 - 42.915

Quer isto dizer, assim muito simplificado, que em Fevereiro e Março de 2011 a Nintendo 3DS conseguiu vender no Japão tanto quanto 742,084 unidades contra 479.449 unidades da PlayStation Vita em Dezembro desse mesmo ano. Uma diferença de 262.635 unidades entre as duas portáteis a favorecer a da Nintendo. A explicação não pode ser o preço dos sistemas já que foram lançados com valores similares mas também não podem ser os jogos pois ambas foram lançadas com produtos que não satisfizeram em pleno (apesar de acompanhadas por séries de renome).

Professor Layton na sua jornada em 3D foi o título que mais cativou os Japoneses e provavelmente o efeito 3D sem óculos deu à portátil um ímpeto bem-vindo. Podemos ainda acreditar que o lançamento em Fevereiro, tradicionalmente mais parado, favoreceu a Nintendo. Já a Sony lançou a Vita na época mais movimentada do ano e isso serviu como um pau de dois bicos. Por um lado sabia que as pessoas tinham mais dinheiro para gastar em novidades tecnológicas mas pelo outro esse dinheiro provavelmente foi para outros sistemas com mais jogos, mais baratos e sem compras adicionais forçadas (já falaremos disto em maior detalhe).

Na semana de lançamento da 3DS no Japão, quem reinava nas tabelas de jogos mais vendidos eram dois jogos PSP: Phantasy Star Portable 2 Infinity e SD Gundam G Generation World, o primeiro foi acimada das 200.000 unidades vendidas. Tal continuou nas semanas seguintes em que jogos como Dissidia: 012 (Duodecim) Final Fantasy para a PSP vendiam mais que os jogos da 3DS. Num país claramente liderado pelas portáteis, esta era uma clara mensagem que os jogos não estavam a convencer.

Sabemos ainda que no primeiro mês à venda, a Nintendo 3DS conseguiu vender pelo menos 402.244 jogos, mas este número não consegue ser muito preciso devido à falta de alguns dados nalgumas semanas. Sobre a PlayStation Vita o caso fica mais complicado e simplesmente não conseguimos estabelecer uma comparação. Isto porque a Media Create só cobre os vinte jogos mais vendidos, tabela onde nenhum jogo da Vita conseguiu entrar. No entanto aconteceu exatamente o mesmo que na 3DS, mas aqui foi a 3DS com o seu Mario Kart 7 a causar estragos na estreia da Sony.

Então, analisado o mês de lançamento e antes de passarmos já para potenciais causas e explicações para estes resultados tão divergentes que partilham pontos tão similares, vamos olhar para os números dos primeiros seis meses. O interesse aqui é escolher um período sensível e tentar perceber se as companhias reagiram e se sim qual a eficácia das suas medidas. Também porque pode ajudar-nos a ter uma ideia ainda melhor de como as companhias responderam a esses lançamentos abaixo do desejado e tentar descortinar se é o preço da plataforma ou se são os jogos que têm mais peso.

Vendas da Nintendo 3DS ao longo dos primeiros 6 meses:

  • Primeiro mês - 742.084
  • Segundo mês - 154.851
  • Terceiro mês - 122.974
  • Quarto mês - 122.417
  • Quinto mês - 131.639
  • Sexto mês- 322.263

Vendas da PlayStation Vita ao longo dos primeiros 6 meses:

  • Primeiro mês - 479.449
  • Segundo mês - 69.663
  • Terceiro mês - 47.475
  • Quarto mês - 39.588
  • Quinto mês - 35.570
  • Sexto mês - 68.982

No total temos tanto quanto 1.596.288 unidades vendidas em seis meses no Japão para a Nintendo 3DS enquanto no mesmo tempo a PlayStation Vita conseguiu 740.727, ou seja, vendeu praticamente metade do que a portátil de Quioto vendeu no mesmo tempo. A questão aqui é, se enfrentaram desafios tão similares e surgiram com características tão similares, o que explica a diferença nos valores e no interesse dos jogadores? O que aconteceu para diferenciar os valores e as separar? É mais do que esperado que quando um novo sistema chega ao mercado este enfrente uma mão cheia de outros sistemas de preço inferior, maior número de jogos, e uma base instalada de jogadores largamente superior.

O fator novidade e o avanço tecnológico apenas podem fazer um tanto por si só. Com o tempo o sistema pode crescer mas como tentam as fabricantes construir os seus impérios a curto prazo e passar a mensagem que uma plataforma merece ser comprada? O Japão é o perfeito exemplo de respostas diferentes que encontram reações diferentes e atualmente tudo vai muito mais além do que a simples relação preço e qualidade. Existem outros fatores tão ou mais importantes que o preço e são as máquinas existentes que ditam parcialmente como serão recebidas as novas. Pode até existir uma certa canibalização entre as próprias.