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The Amazing Spider-Man - Análise

Balançar de teia em teia nunca soube tão bem.

The Amazing Spider-Man é facilmente o melhor videojogo adaptado de um filme dos últimos anos. Os videojogos da Marvel, aqueles que acompanham o lançamento dos filmes, criaram o hábito de deixar um sabor amargo. Iron Man 2, Thor e Captain America são perfeitos exemplos que a adaptação dos cinemas para as consolas pode correr mal. As adaptações estão sempre em desvantagem com os demais videojogos, a criatividade está limitada, o tempo de desenvolvimento é curto e o estúdio escolhido para o trabalho nem sempre é o melhor.

No caso de The Amazing Spider-Man, pelo menos um destes parâmetros é cumprido. O desenvolvimento esteve a cargo da Beenox, o estúdio responsável pelo aranhiço nos videojogos desde 2010 com Shattered Dimensions. Spider-Man: Edge of Time não foi tão surpreendente e satisfatório como o seu antecessor, mas tal como o filme, The Amazing Spider-Man é uma oportunidade para começar de novo e encaminhar a série na direção certa.

The Amazing Spider-Man é uma adaptação do filme, mas não segue os seus eventos. Em vez disso, é uma continuação do filme. O início tem lugar alguns meses depois do final do filme, já com o Lagarto (Dr. Connor) atrás das grades. Uma nova ameaça para a pequena ilha de Manhattan surge enquanto as experiências do Dr. Connor, as cross-species, ainda armazenadas na Oscorp, eram despojadas. Estas perigosas experiências acabam por escapar e espalham um terrível vírus pela cidade, e cabe mais uma vez a Spider-Man salvar o dia.

O que torna Amazing Spider-Man bastante distinto dos jogos antecessores da Beenox é o facto de ser um mundo aberto. Balançar de teia em teia entre os arranha céus de Manhattan é uma sensação fantástica e contagiante que nem Shattered Dimensions nem Edge of Time conseguiram oferecer. Cair em queda livre e esperar pelo último segundo antes de soltar uma teia e subir novamente a grandes altitudes faz-nos desejar poder ser o aranhiço.

Enquanto passeia por Manhattan bem acima dos cidadãos, o aranhiço vigia atentamente o que está a acontecer em baixo nas ruas e poder descer ao solo para apanhar assaltantes, ajudar a polícia em perseguições ou ajudar cidadãos doentes (contagiados pelo vírus mencionado acima) a chegar aos locais de ajuda. O que é descrito aqui são apenas pequenas missões secundárias com poderão entreter o jogador em The Amazing Spider-Man.

As missões da estória trocam o mundo aberto por ambientes fechados. Para iniciar estas missões o cabeça de teia desloca-se a um ponto assinalado do mapa e entra no local, mas não antes de um ecrã de loading. Sendo assim, The Amazing Spider-Man é melhor descrito como um mundo aberto em tempo parcial. Dentro de quatro paredes a sensação de ser o aranhiço é preservada. Andar pelas paredes ou pelo teto é coisa fácil e uma vantagem para apanhar sorrateiramente os inimigos. Graças ao Web Rush, uma habilidade que permite selecionar minuciosamente para onde queremos que o homem aranha se desloque, a navegação é bastante fácil e rápida.

O combate é inspirado no já conhecido free-flow de Batman: Arkham Asylum e Batman: Arkham City, mas não consegue apresentar o mesmo nível de qualidade e polimento. Não deixa, no entanto, de ser espetacular. Piruetas no ar e ataques altamente atléticos são comuns para este super-herói, e com o seu sensor-aranha, consegue sempre saber quando um golpe dos inimigos está iminente. Para se esquivar basta apenas carregar no triângulo no momento certo.

Há ocasiões em que The Amazing Spider-Man consegue ser verdadeiramente fantástico, não sendo nada exagerado o "Amazing" no seu título, porém, este efeito desvanece quando apreciamos a vista do arranha-céu mais alto de Manhattan. A cidade parece toda pintada da mesma cor, e as cores que se destacam entre a imensidão de cinzento são baças. No horizonte o jogo não consegue esconder o aliasing (efeito escada) nas linhas dos edifícios.

Torna-se evidente que a Beenox apressou o jogo, e há mesmo partes em que parece inacabado. Atribuir as culpas ao estúdio é errado. The Amazing Spider-Man sofreu claramente pressão para que fosse lançado juntamente com o filme para os cinemas. Para terem noção da velocidade com que o jogo teve que ser desenvolvido, relembro que Spider-Man: Edge of Time foi lançado em outubro do ano passado, o que dá apenas um período de oito meses de desenvolvimento para The Amazing Spider-Man, isto se especularmos que não estava em produção ao mesmo tempo. O jogo sente-se inacabado, faltando algo parecendo apressado tendo sempre em vista a estreia do filme que leva o mesmo nome.

O jogo tem, sem dúvida, o que é necessário para rivalizar com os jogos do homem morcego desenvolvidos pela Rocksteady, mas para que isso aconteça, a Activision, companhia à qual a Beenox pertence, tem que permitir um ciclo de desenvolvimento maior, pelo menos dois anos. Desde 2010 até agora tem havido um jogo do homem-aranha todos os anos, o que acaba por desgastar o super-herói e impedir a realização de boas ideias devido à falta de tempo.

Enquanto que em Batman: Arkham City temos um elenco de personagens de sonho, com quase todos os grandes vilões a aparecerem no jogo, em The Amazing Spider-Man temos apenas Lizard / Dr. Connors, Black Cat/Felicia Hardy, Rhino e Scorpion. Sendo uma adaptação do filme, não houve liberdade para muito mais, mas não consigo parar de imaginar como seria um Spider-Man em mundo aberto como este com a participação do Green Goblin, Doctor Octopus, Venom, Sandman, só para mencionar alguns.

" O jogo sente-se inacabado, faltando algo parecendo apressado tendo sempre em vista a estreia do filme que leva o mesmo nome."

Para aumentar a desilusão, os encontros com Black Cat/Felicia Hardy, Rhino e Scorpion deixam a desejar. Os combates com estes vilões são repetitivos e nada surpreendentes. O melhor embate com um boss ao longo do jogo acaba por ser com um robô gigante que nos persegue pelos aranha-céus de Manhattan. As missões secundárias, embora por momentos divertidas, são insuficientes para complementar estória fraca e as missões pouco entusiasmantes. Espalhar teias por Manhattan é bem mais divertido que embarcar nas missões que The Amazing Spider-Man oferece.

Para preencher o enorme vazio deixado pela campanha, The Amazing Spider-Man enche a ilha de Manhattan com 750 páginas de livros de banda desenhada para apanhar (que desbloqueiam livros de banda desenhada do aranhiço), fotos para tirar e coisas supérfluas como pegar em malucos que fugiram do asilo e levá-los ao sítio onde pertencem. Ser o espetacular homem-aranha, que perde assim a sua espetacularidade, torna-se algo aborrecido e inglório.

Depois de terminar a estória, as pequenas missões secundárias, e apanhar os colecionáveis já mencionados, é tudo o que há para fazer. Qual a recompensa por embarcar nesta tarefa aborrecida? Nenhuma. No final da estória já deverão ter todos as habilidades e melhorias disponíveis para o aranhiço, pelo que a experiência ganha por completar as missões secundárias de nada servirá.

The Amazing Spider-Man pode ser o melhor videojogo adaptado de um filme dos últimos anos, mas a realidade é que a fasquia nestes jogos não é elevada. Há que reconhecer que com pouco tempo de produção, o que a Beenox conseguiu criar é quase inacreditável, e se são fãs do aranhiço, The Amazing Spider-Man entreter-vos-á durante algumas horas. No geral, acaba por fazer mais coisas bem do que mal, mas ao mesmo tempo, não deixa de passar a sensação que não passa de uma demonstração do que poderia realmente ser se houvesse mais tempo para desenvolver melhor aspetos como a cidade, combate, missões e enredo. O que é deixando bem claro por The Amazing Spider-Man é que o mundo aberto é o caminho a seguir no futuro. As bases já estão estabelecidas. Agora falta o resto.

6 / 10

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