The Banner Saga - Análise
A combinação perfeita entre história, escolhas e estratégia.
As decisões morais aparecem com frequência nas viagens. Podemos encontrar pequenos grupos de pessoas desesperadas. Será que podemos confiar nelas? Ser bondoso nem sempre compensa. Volta e meia, as pessoas que tentamos ajudar, desaparecem um dia ou dois depois juntamente com uma boa percentagem dos mantimentos. Será que é justificável roubar ou forçar quem encontramos a dar-nos os seus alimentos para sustentar o nosso exército? Estes são alguns dos dilemas morais de The Banner Saga, que mostra a realidade dura e fria da guerra e das suas vítimas.
A parte da narrativa e das decisões é apenas uma das facetas de The Banner Saga. A outra está nos combates que exigem um pensamento estratégico apurado e um bom entendimento das regras. Perder uma batalha nem sempre significa que terão de tentar outra vez até vencerem. Nas batalhas menos importantes, aquelas que acontecem nas viagens, podem perder e continuar a jogar, só que as vossas unidades vão ficar lesionadas.
Uma lesão em The Banner Saga é equivalente a menos força em combate, que por sua vez está ligada directamente aos pontos de vida. Pontos de vida e força de ataque são a mesma coisa. Se perdem pontos de vida perdem força de ataque. Além da força de vida, as unidades começam os combates com um determinado número de defesa. Quando atacam, têm que escolher atacar os pontos de vida ou de defesa. Às unidades com grande defesa só conseguimos causar um ponto de dano de cada vez, pelo que é recomendável diminuir a defesa antes de atacar.
O campo de batalha está dividido por quadrículas e cada unidade pode avançar um determinado número de casas por jogado. Os pontos especiais são um factor a levar em conta, que podem ser usados para andar casas adicionais. Mas estes pontos também podem ser usados para aumentar o dano causado ou para ativar as habilidades especiais das unidades, o que implica uma boa gestão. A jogabilidade parece extremamente simples, mas as aparências enganam e há muita estratégia escondida. O próprio campo quadriculado pode ser usado para fins estratégicos. Usando as unidades que ocupam mais quadrículas, nomeadamente os gigantes Varl, é possível proteger, bloqueando o caminho, as unidades mais fracas como os arqueiros.
O pensamento estratégico é vital para ganhar começa antes do início dos combates, quando o jogo nos deixa escolher qual a ordem de turnos das nossas unidades e qual a sua disposição no campo quadriculado. A minha única queixa, é que nesta fase pré-combate, não é possível visualizar as estatísticas de cada unidade, o que é frustrante e condiciona a estratégia que vamos usar, a não ser que estejam dispostos a decorá-las a todas.
Conforme as unidades vão derrotando inimigos, ganham estrelas até que estão preparadas para subir de nível. Subir de nível pode não ser uma decisão fácil, porque a moeda usada para tal, é a mesma moeda usada para comprar alimentos, e quando temos um exército a passar fome, gastar dinheiro para subir o nível das unidades talvez não seja a melhor opção. Ao subir de nível podemos aumentar as estatísticas das unidades, mas quando maior for o nível, mais temos que pagar. Além do que já foi referido, também podemos comprar e equipar itens às unidades para lhes dar vantagens nos combates.
Embora a curva de aprendizagem seja longa (mesmo em modo normal o jogo consegue ser desafiante), é recompensador. Quando vencemos uma batalha ficamos orgulhosos, e quando perdemos ficamos desiludidos e com a esperança de aprender a lição e fazer melhor da próxima vez. Em princípio devem terminá-lo pela primeira vez em cerca de 10 horas, como já referido, mas é uma experiência que vão querer repetir, não só para tomar decisões diferentes na história como para dominar melhor a componente estratégica.
"(...)é uma experiência que vão querer repetir"
Para completar aquilo que já é um jogo muito bem conseguido, temos o visual desenhado à mão que é comparável à magia que observamos nos filmes e desenhos animados da Disney. Simplista, mas esteticamente belo é uma forma de descrever The Banner Saga. Seria fantástico se tivesse cinemáticas animadas em vez de slides 2D, mas provavelmente o orçamento de $723 mil não dava para mais. Continua a ser impressionante, apesar disto.
A maior limitação está nas vozes, ou melhor, na ausência delas. Ler e imaginar as vozes durante os diálogos é o que terão de fazer. O narrador, o único com voz, intervém pouquíssimas vezes. Estranhamente durante estas intervenções não há legendas. A banda sonora faz justiça ao jogo épico que na qual está inserida.
Perante o resultado final, as suas pequenas falhas tornam-se insignificantes. The Banner Saga é uma pequena perola que merece a atenção de quem é adepto de jogos de estratégia e que ao mesmo tempo não dispensa de uma boa história, que tem a vantagem de deixar o jogador participar no rumo que segue.