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The King of Fighters - Round 1

Mais de 20 anos depois, voltamos ao original: KoF 94, quando tudo começou.

É já no próximo dia 26 de Agosto que chega ao nosso mercado a próxima iteração da série mítica SNK: King of Fighters. KoF 14 representa por um lado a intenção da editora em trazer a SNK de volta aos bons velhos tempos, perpetuados em memórias dos saudosos salões arcade e das edições domésticas da antiga plataforma Neo Geo AES, a Rolls Royce que praticamente cobriu todos os lançamentos desde a origem da empresa até bem para lá da sua refundação como SNK Playmore. Por outro lado, KoF 14 é um jogo substancialmente diferente das anteriores edições. Ausente do grafismo 2D com "sprites" desenhados à mão, destaca-se pela estética tridimensional dos cenários e lutadores, à boa moda de Street Fighter IV e V, assentando na perspectiva 2D em termos de acompanhamento. Trata-se de uma evolução significativa face aos dois jogos lançados nas plataformas domésticas (e nas arcadas) da geração anterior. KoF XIII foi bem melhor que koF XII, mas até que ponto a nova edição poderá superá-lo, só por via de um contacto mais profundo é que poderemos avaliar melhor, algo que a demonstração entretanto disponível ainda não nos permitiu.

Uma história recheada de sucessos

Aproveitamos por isso a ocasião para evocar uma das mais gloriosas e bem sucedidas séries de luta. Não há um fã de "fighting games" que não conheça um jogo da série. "Fighting games" e KoF sintonizam-se, ligam-se na história e produziram inegáveis sucessos. Assim, ao longo dos próximos dias e até à próxima sexta-feira, vamos recuperar um percurso único, cravado pelos artistas e programadores da SNK, desde a sua origem em 1994 até ao presente, aproveitando para procurar perceber com isso o que mudou, para o bem e para o mal, após as alterações da companhia, o que também nos levará à evolução da indústria em mais de duas décadas.

Os jogadores podiam seleccionar lutadores de diferentes séries da SNK e em equipas de 3 membros.

The King of Fighters 94 - a origem de uma série mítica

Em termos históricos o pontapé de partida nos "fighting games" foi dado pela Capcom, quando implementou um engenhoso sistema de luta entre duas personagens numa arena, em Street Fighter. Curiosamente, SNK e Capcom acabam por estar muito relacionadas e próximas nestas produções. Mais até a SNK, através do seu mítico fundador, Eikichi Kawasaki, um inveterado fã de combates. Isso ajuda a explicar porque a SNK, após a sua fundação e dedicação aos videojogos, começou por desenvolver jogos de luta. Um dos primeiros jogos é precisamente Fatal Fury (1989), curiosamente desenhado por Takashi Nishiama, que pouco tempo antes trabalhara no original Street Fighter e visava na sua nova casa superar a produção da Capcom (que nessa altura já estava bem ocupada em Street Fighter II). Em 1992 a SNK lançou Art of Fighting e em 1993 o incrível Samurai Shodown, abrindo caminho a uma série de auspiciosas produções, congregando imediatamente um estatuto ímpar na cena arcade e doméstica.

A lista de movimentos da versão arcade. O manual de instruções do cartucho para a Neo Geo AES inclui a mesma lista (cliquem na imagem para ver em tamanho maior).

É nesta ocasião que a SNK começa a pensar nos "crossovers". Actualmente é quase um dado adquirido a ligação entre séries e mundos provenientes de diferentes editoras, através de confrontos muito solicitados pelos fãs, mas em 1993 era pouco plausível algo do género, tanto que Capcom e SNK estreitavam a sua rivalidade cada vez mais. Inicialmente, a SNK chegou a desenvolver a ideia do "crossover" com Survivor, tomando como protagonistas Robert Garcia e Terry Bogart. No entanto, o projecto foi descartado e em seu lugar nasceu um outro, que hoje conhecemos como KoF. Antecipando a ideia de futuras actualizações, imediatamente a SNK baptizou o jogo como KoF 94, tendo sido lançado nas arcadas e na plataforma domestica AES nesse ano, no dia 24 de Agosto.

KoF 94 obteve sucesso imediato nos salões, transformando-se num dos títulos mais importantes da companhia e mais uma boa fonte de lucro, abrindo boas perspectivas para as sequelas. Embora mantendo muitas características típicas de um "fighting game" daquela época, mereceu destaque por introduzir combates por equipas de três jogadores. Os três membros das equipas, estando ligados pelo vínculo da nacionalidade e proveniência, não podiam ser separados, pelo que teriam de jogar com os mesmos lutadores após seleccionarem uma equipa. A ordem pela qual lutavam era personalizável, sendo que cada lutador disputava um round, passando ao round seguinte caso fosse vencedor (tendo como bónus um pequeno incremento da barra de saúde) ou saísse de cena após perder a ronda (os derrotados ficavam destroçados a seguir o combate do colega enquanto que os que aguardavam pela vez apoiavam).

As equipas, para lá da nacionalidade, tinham um outro critério: a proveniência. Para muitos jogadores a escolha dos lutadores provenientes de Fatal Fury era mais óbvia (Terry Bogard, Joe Higashi e Andy Bogard), enquanto que outros preferiam os combos dos lutadores de Art of Fighting (Ryo Sakazaki, Robert Garcia e Takuma Sakazaki). A SNK juntou mulheres ao combate e ainda mais equipas provenientes de outros jogos de luta como o "team" Ikari Warriors e Psycho Soldier, não faltando os norte-americanos provenientes de Street Hoop e Touchdown Fever.

A arte do jogo é toda Ikeno, um traço característico da SNK que se manteria por muitos e bons anos.

Embora as histórias não sejam o prato forte num jogo de luta, a SNK não quis deixar de presentear os fãs com uma componente narrativa, na qual eram divisados como heróis os lutadores japoneses o emblemático Kyo Kusanagi, Benimaru Nikaidu e Goro Daimon. Estes lutadores formaram a capa do jogo e tornaram-se admirados e mais utilizados por muitos jogadores, especialmente os mais novos, atraídos pela novidade. No outro lado da barricada, nos vilões, a SNK não vacilou. Sendo conhecida por apresentar "bosses" temíveis, Rugal Bernstein, quem convidou todas as personagens para o torneio, transformou-se num dos mais implacáveis e respeitados vilões. Para lá do seu aspecto colossal e do seu corpo altamente musculado, esta personagem detém imensos golpes o que torna especial o grau de dificuldade. Para alimentar a sede de vingança pelos heróis, Rugal era o responsável pela morte do pai de Kyo.

KoF 94 foi um sucesso nas arcadas, replicando o mesmo desfecho na plataforma doméstica, a Neo Geo AES, como produto capital no Japão mas também por todo o mundo, especialmente no mercado norte-americano. A novidade dos combates entre 3 lutadores e toda a estética, sprites e animações altamente fluidas, resultaram numa produção muito consistente e uma das mais queridas dos fãs. Ainda no actual momento, muitos dos cenários concebidos para a edição 94 apresentam inegável qualidade, comoVeneza ou a selva na Amazónia. A temporada de 94 trouxe um começo auspicioso e nos anos seguintes a SNK provou ser capaz de dar o melhor seguimento ao talento da sua equipa de produção, que logrou naquele primeiro jogo um avanço muito importante, para lá de uma sólida referência, baluarte histórico nos "fighting games".

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