The Last Guardian - Vimos em exclusivo mais um pouco de gameplay na E3
Fumito Ueda orquestra nova jornada sentimental.
Por esta hora já todos vocês sabem, The Last Guardian ressuscitou com toda a pompa e circunstância de um anúncio que abre a conferência da Sony numa E3. Depois de vários anos em coma (anunciado em 2009), The Last Guardian acordou e após um estranho silêncio, decidiu abandonar a PlayStation 3 para se apresentar como exclusivo PlayStation 4. Provavelmente a decisão mais sábia depois de tanta persistência para não ser cancelado. Escusado será dizer que a euforia varreu a sala da conferência e foi um dos momentos mais apoteóticos.
Os aplausos em pé, os gritos de euforia são um claro contraste com a postura reservada de Fumito Ueda, o criador de The Last Guardian, que parece não querer de forma alguma que as pessoas continuem a insistir em relembrar o seu jogo apenas pela controvérsia. O desenvolvimento demorado, o possível cancelamento, os constantes rumores, o prolongado silêncio e o desejo de títulos singulares por parte dos membros da família PlayStation vestiram esta produção com um manto de responsabilidade extremo.
Depois do gameplay que vimos na conferência de imprensa, Ueda San esteve presente no LA Convention Center para uma apresentação de The Last Guardian que nos permitiu conhecer um pouco mais do estado em que se encontrar. Adicionalmente, este momento permitiu que fosse possível ouvir do próprio Ueda alguns detalhes sobre a experiência e porque é que temos agora uma produção exclusiva PlayStation 4.
Fumito Ueda, director do jogo, conduziu uma demonstração em directo que começou uns minutos antes do que vimos na conferência da Sony e terminou no mesmo ponto. Foi uma forma de ver um pouco mais deste título de acção e aventura sobre um rapaz que foi estranhamente raptado para aquele misterioso local que vimos na demo. Faz lembrar Ico não faz? Como vamos descrever mais tarde não é por acaso. Ueda descreve-o como uma "incrível jornada do pequeno rapaz e da criatura Trico que encontrara numas ruínas antigas."
Antes da demo em directo arrancar, foi primeiro explicado que o jogo está a ser desenvolvido em conjunto pela Sony Japan Studios, liderada por Ueda como director criativo, e pelo GenDesign. Esta segunda parte é dedicada à criação de videojogos e é composta principalmente por talento que trabalhou em Ico e Shadow of the Colossus. Quer isto dizer que Ueda colocou a trabalhar consigo pessoas que respeita, que o conhecem e que anteriormente o ajudaram a realizar produções consagradas e acalmadas.
Os detalhes sobre a história ficaram de lado, o foco foi colocado na demo em directo a correr numa PlayStation 4, portanto se queriam descobrir mais, ficam já desanimados. O efeito surpresa e o prazer de descobrir passo a passo estas ruínas será recompensador, acreditamos nós. A demo começa com Trico, o monstro, deitado num local das ruínas do qual não consegue sair. Preso por umas estacas, o pequeno rapaz socorre-o e após os inevitáveis gritos de dor, Trico já consegue caminhar livremente.
É então o primeiro momento em que vemos a dupla pronta para trabalhar em conjunto, como sabem os que já viram a demo apresentada na abertura da conferência da Sony. É fácil perceber, principalmente para os fãs da Team Ico de Ueda e dos seus jogos, que o jogo procura incutir várias emoções no jogador, ao apaixoná-lo passo a passo pelos dois protagonistas de The Last Guardian, para depois nos fazer sorrir com os seus sucessos e amargurar com as suas desventuras.
"A demo começa com Trico, o monstro, deitado num local das ruínas do qual não consegue sair. Preso por umas estacas, o pequeno rapaz socorre-o"
Daí ser tão importante estabelecer laços com os dois e Ueda começa por falar sobre o personagem Trico. Este animal nasceu de um estudo a vários animais, seja cão, gato ou ave e foi gerado um híbrido (que não existe na vida real, brincou o intérprete Tsubasa) que apesar de ser alvo de imensa imaginação e fantasia, não deixa de ser credível e com o qual nos conseguimos relacionar. Preso naquela sala relativamente pequena para o seu porte, Trico procura espreitar pelos postigos altos e temos um vislumbre mais firme das bases do gameplay.
Esta aventura será realizada com um foco na relação entre os dois membros, mas isso vai além do enredo, aplica-se ao gameplay e à experiência de jogo no todo. Trico não consegue sair dali mas ao esticar-se permite que o rapaz trepe pelo seu pêlo para chegar ao outro lado. Assim, pode gritar para o grande Trico e chamá-lo na sua direção. Agora existe uma porta entre os dois e quando chamado, Trico investe contra o portão. Sem sorte, grita de dor e não evitamos sentir pena do animal.
É isto que Ueda pretende, que o jogador se emocione e estabeleça um laço com Trico. Um laço que nos permitirá rir mas também chorar quando o jogo nos colocar à prova. Uma segunda investida permite que o rapaz possa finalmente movimentar a alavanca e abrir o portão para que voltem novamente a juntar-se A relação entre os dois personagens e o esforço em conjunto com vista à progressão serão dois elementos em perfeita sintonia.
Ueda explicou a essência do gameplay de The Last Guardian como tendo um elemento básico: a necessidade do jogador ler a situação em que se encontra e como poderá progredir. A base de tudo será a colaboração entre os dois personagens tendo em conta as suas forças e fraquezas. Trico é grande e forte tendo ainda mais alcance enquanto o pequenote apesar de pequeno e vulnerável, é inteligente e consegue ler as situações.
"É isto que Ueda pretende, que o jogador se emocione e estabeleça um laço com Trico."
Acima de tudo não nos podemos esquecer que são uma equipa e que a grande maioria dos desafios estão preparados tendo em mente esta opção. A forma minimalista do jogo, desde a música aos efeitos sonoros (praticamente só ouvimos o vento a passar pelas ervas) passando pelos visuais, demonstra algo que nos faz pensar de imediato em Ico e Shadow of the Colossus e Ueda não tem qualquer problema em concordar. Não estivesse-mos a falar de um produto que nasceu da mesma mente.
Primeiro Ueda estabeleceu uma comparação com o elemento da altura, elemento que foi bem demonstrado na demo e que esteve presente de forma imponente em Shadow of the Colossus, mas também em Ico. O foco é mesmo a relação entre os dois personagens e a forma como o rapaz se sente protegido quando Trico está por perto. Por outro lado, existe o desejo de incutir algum medo psicológico no jogador, de sentir constante pressão pela altura e a respeitar enquanto elemento da experiência para quando ultrapassar o desafio sinta que o conseguiu com satisfação.
A altura, e o medo que nos incute, é tão importante para a experiência que a equipa de produção visitou vários locais, entre eles arranha-céus, para melhor representarem o que sentiram nesses momentos. Como visto na demo, Trico salta para o outro lado e o pequeno rapaz salta para ser apanhado a meio do salto falhado. A cooperação entre os dois é fundamental e apesar do comportamento de Trico sugerir algo muito pré-programado, Ueda explicou que poderá não ser assim tão transparente. Referindo-se ao momento em que o pequeno rapaz agarra a cauda de Trico como um momento no qual jamais perdemos o controlo do personagem.
Ueda explicou que ainda é cedo para falar sobre a história e que os eventos vistos decorrem perto do meio do jogo. Revelou ainda que iremos a passo e passo desenvolver sentimentos por estes dois personagens consoante eles próprios se vão conhecendo. Ao contrário do que poderiam esperar, Trico e o rapaz nem sempre se dão tão bem e vão aos poucos começando a criar a sua linguagem corporal para comunicarem um com o outro. Mas existe ainda outros elementos ainda por descortinar.
Como já referido, a grande maioria do que vimos em The Last Guardian relembra os dois jogos da Team Ico e tal não é por acaso. Ueda explicou que a jornada de Trico pega no que de melhor esses dois primeiros jogos apresentaram e trabalha essas ideias. Tal como e Ico, a colaboração entre dois personagens é a base do gameplay e a interação com criaturas gigantes em Shadow of the Colossus também foi utilizada para engrandecer The Last Guardian. Este esforço de colaboração entre os dois estúdios procura oferecer o que de melhor ambos têm e Ueda não se farta de agradecer a paciência dos que esperaram tantos anos.
Essa é mesmo a questão na mente da maioria. Enquanto aplaudem o facto de estar vivo, mesmo descartando a PlayStation 3, o porquê de demorar tanto tempo para ser desenvolvido (está previsto para 2016) ainda assola a mente dos jogadores. Ueda explicou que existem problemas no desenvolvimento de qualquer jogo e o desejo de migrar para a PlayStation 4 permitiu obter uma experiência superior, mas ditou adiamentos e um maior tempo de desenvolvimento.
Para o fim Ueda reservou uma ideia bastante intrigante apesar de sujeita a interpretações erradas. Apesar do conceito tradicional de jogabilidade online não encaixar na percepção do que está a ser dado sobre o que é The Last Guardian, Ueda não descartou por completo a presença desse tipo de funcionalidades. Podem esquecer um modo no qual dois jogadores controlam cada um dos personagens, até porque Trico parece difícil de apresentar enquanto elemento que poderia ser controlado, mas Ueda deixou no ar a possibilidade de integrar de alguma forma uma componente online.
Ainda assim, nada de concreto e que possa ser adiantado mas a postura recatada de, até tímida, Ueda parece contrastar e muito com a ambição do seu projeto. Numa era quase toda ela focada no espectáculo cinematográfico e nas acrobacias desmedidas, Ueda e companhia estão focado na oferta de uma aventura emocional de contornos envolventes. Um ataque ao coração do jogador se assim quiserem.
De todos os jogos que tive o prazer de conhecer aqui na E3 2015, nenhum deles se aproxima do tipo de experiência que The Last Guardian procura oferecer. Sempre focado na criação de jornadas emocionais que nos levam às lágrimas, Ueda e os programadores que estiveram na Team Ico, agora no GenDesign, focaram-se sempre na vertente emocional e sensorial ao invés da tecnológica. The Last Guardian ostenta em todos os seus poros o carimbo da Team Ico e de Fumito Ueda, para a grande maioria dos que estão a ler isto esta frase já disse tudo.