The Last of Us da HBO Episódio 7 transforma DLC em conteúdo de luxo
Ninguém fica para trás.
A série The Last of Us da HBO Max continua a caminhar de forma surpreendente nessa fina linha entre adaptação fiel e expansão. Desde o primeiro episódio que vimos muitas cenas totalmente iguais ao que foi apresentado no jogo da Naughty Dog, mas também já vimos muitas cenas inéditas que expandem a narrativa de uma forma que combina melhor com este meio no qual está agora a ser apresentada.
Sabemos que um videojogo é um formato interativo que precisa de gameplay para transmitir que estás no controlo da experiência. Uma série está desprovida dessa interatividade e a equipa liderada por Craig Mazin e Neil Druckmann (co-criador de The Last of Us na Naughty Dog), mostrou uma metodologia e respeito pelo material original digna de imensos elogios. Não precisas de ver Joel a pegar e comer uma barra de chocolate enquanto se desvia dos tiros para sentir que a série é fiel ao jogo, precisas da emoção humana em primeiro plano.
Ao invés de apostar em ação frenética e monstros, The Last of Us procurou diferenciar-se dos demais jogos de zombies, tão populares naquela altura, ao focar-se nas personagens, no elemento humano e na exploração da nossa natureza quando somos colocados perante a maior das adversidades. Entre esse olhar ao comportamento humano, não podia deixar de faltar a angústia juvenil.
"Left Behind" foi um pedaço de narrativa cortado da experiência original em 2013. Chegou mais tarde, em 2014, como DLC e apesar de estar presente no port PS4 e no remake PS5, não está incluído de raiz na experiência principal. Para a adaptação, que tanta graciosidade evidencia no seu respeito pelo material original (mesmo que esteja a cortar muitas cenas de ação com forte impacto na narrativa), Neil Druckmann não o deixou de fora.
Left Behind poderia surgir como um episódio especial (uma espécie de 10º episódio apresentado após o final da primeira temporada) que não ficaria mal e até poderia ajudar no ritmo geral da série, mas apresentar este olhar para o passado de Ellie desta forma, assegura que não escapa à nossa atenção. Mais do que isso, assegura que este forte momento narrativo protagonizado por Ellie e Rilley, uma cápsula para a essência de The Last of Us, é adaptado com todo o destaque que merece.
Ligeiros spoilers para The Last of Us Episódio 7:
É mais um momento que evidencia com imenso apelo o encanto de The Last of Us. É um episódio repleto de esperança, de sonhos e com um uma luz ao fundo do túnel, mas sempre com a sensação de uma iminente fatalidade. A angústia juvenil no apocalipse mostra como é incontornável na natureza humana e vista através de Ellie, num choque de realidades com Riley, torna-se num momento quase hipnotizante.
Quase tudo o que vês aqui é retirado diretamente do jogo, mas Ellie não procura por medicamentos para ajudar Joel num shopping abandonado. Na série, Ellie permanece na casa onde Joel definha e tenta não perder a consciência novamente, procurando por algo que o possa ajudar sem sair de perto dele. É mais um caso de adaptação quase direta com ajustes contextualizados com o panorama geral da adaptação.
Apesar de não sair de casa, Ellie recorda-se na mesma do que lhe aconteceu da última vez que viu um amigo ser magoado à sua frente. Isto permite-nos olhar para Left Behind e ver o que aconteceu a uma jovem membro da FEDRA, acabar a pedir ajuda aos Pirilampos, como viste no primeiro episódio. Nas suas memórias, terás uma série de momentos absolutamente mágicos realizados de forma brilhante pela equipa.
Os cenários, as cores, o carrossel, o livro de piadas, a loja das máscaras, até o salão arcada, está tudo aqui e mais alguma coisa. Existe espaço para momentos novos, algumas piadas novas e um olhar a duas jovens mulheres sem certezas quanto ao futuro, apenas a tentar sobreviver. Se removeres a existência dos infetados e o contexto geral da série, os dramas que assolam estas duas jovens são universais a qualquer adolescente.
Todos queremos encontrar o nosso lugar no mundo, queremos ter as certezas que teimam em não chegar e se apenas a idade as trará, o tempo é o cruel mestre ao qual temos de servir. Ellie torna-se na personificação dos dramas juvenis ao sentir-se deslocada em qualquer parte da sua vida, menos quando está ao lado de Riley. No entanto, os seus sentimentos pela amiga e a incerteza se são correspondidos não a deixam ser a melhor versão de si mesma.
Riley parece mais madura, mais ciente do mundo real e do papel que deseja no seu futuro. Esta dinâmica entre as duas, a sensação que duas conhecidas escondem algo uma da outra. Apesar de toda a amizade não deixam de sentir um certo desconforto com as incertezas, é o fio condutor de um episódio que volta a marcar a metodologia desta equipa criativa. Foco nas personagens, respeito pela narrativa e acima de tudo respeitar o material original que já evidenciava elevada ambição cinematográfica.
"Left Behind" torna-se para a série o que já era para o jogo, um momento isolado que facilmente conquista o coração. Certamente já tiveste esse momento, em que perdes a noção do tempo e nem queres pensar no mundo lá fora, apenas focar-te na pessoa que tens ao teu lado. Com a ajuda de um mítico jogo, Ellie e Riley dão gargalhadas e divertem-se no apocalipse, esquecendo momentaneamente a realidade de violência e terror tão intrínseca a The Last of Us. Se te esqueceres dos infetados e te deixares levar pela interação entre as duas, a equipa terá cumprido o seu propósito.