The Last of Us Episódio Final - consagração da autenticidade
Ao recriar o jogo, a série enverga o seu melhor.
Finalmente chegamos ao episódio final de The Last of Us da HBO Max, uma caminhada que começou em Boston e terminou em Boulder, no Colorado. Desde meados de janeiro que a série foi acompanhada por fãs do jogo da Naughty Dog e por novos espectadores que desejavam conhecer uma nova super produção da HBO Max, na qual Pedro Pascal volta a proteger uma pequena criatura.
The Last of Us da HBO Max demarcou-se pela autenticidade, pela sublime forma como fez algo que parece tão simples e expectável, mas sabe-se lá porque motiva teima em não ser seguido como regra nestas adaptações: o contributo dos criadores do jogo, a recriação o mais fiel possível das mais importantes cenas e respeito pelo trabalho original. Diversas produções falham porque preferem introduzir novos eventos imaginados por quem não respeita ou sequer conhece os jogos, tentam uma nova identidade, dinamismo diferente e acabam por se afastar da essência que une os fãs no seu respeito e adoração.
Com o envolvimento de Neil Druckmann, cocriador do videojogo da Naughty Dog, Craig Mazin ajudou a HBO Max a conseguir uma das mais fiéis adaptações de videojogos e só por isto, The Last of Us da HBO Max merece todo o nosso respeito. Sim, ainda questionamos o remover de muitas cenas de violência. Não pela violência gratuita ou só porque sim, é fácil perceber que o videojogo precisa de mais momentos interativos e set-pieces que de uma forma dinâmica, na qual não tiram o controlo ao jogador, a experiência glorifica os seus desejos por tons cinematográficos.
No entanto, há muito desenvolvimento narrativo em diversos momentos interativos de ação, ao removê-los, a série perdeu momentos dramáticos e até arriscou tornar-se num resumo do jogo. Muitas das set-pieces não serviram apenas para mostrar a perseguição da Naughty Dog a um contexto mais comum aos filmes num videojogo, serviu para mostrar momentos gameplay que combinam narrativa de uma forma mais intensa e marcante. Esta ambiciosa postura foi alvo de inúmeros elogios.
Colocada na balança, consideramos que The Last of Us da HBO Max é decididamente um triunfo e um exemplo para o futuro da PlayStation Productions com God of War, Horizon e outras. O delicado equilíbrio entre adaptação direta de cenas dos jogos, expansão do material original com novas cenas (muitas delas criadas pela Naughty Dog) e ainda momentos adaptados para um formato não interativo exemplifica como o respeitar da essência do jogo devia ser padrão e regra.
O final de The Last of Us da HBO Max é uma cápsula para toda a série, com vários momentos vindos diretamente do jogo. Até o posicionamento de algumas câmaras recria o trabalho da Naughty Dog apresentado em 2013. O trabalho dos atores que recriam com respeito estas personagens, sem banalizar as versões originais, também mostra o carinho e cuidado que marca esta produção, na qual é nítido o conhecimento pelo material original e como isso faz uma diferença valiosa.
Este final violento e marcante, que tanto conflito de opiniões gerou e que mudou por completo o paradigma sobre o que esperas de um protagonista, continua a ter muita força. Conceitos como "o protagonista é sempre bom e faz sempre o correto", foram dizimados sem pudor pela Naughty Dog e a série mostra como passados 10 anos estes eventos ainda envergam uma força monstruosa. A dissonância ludo-narrativa levou um enxerto de porrada e esta indústria tornou-se mais conscienciosa a inconsistências narrativas. É um atestado de qualidade do trabalho original e uma forma fácil de consumir pelo mercado de massas que a volta a tornar atual.
A esperança ali tão perto, um ciclo de violência pronto para terminar e uma luz ao fundo do túnel após momentos de esmagadora escuridão. No entanto, a essência deste universo prevalece, ciclos de violência, desfechos sombrios que levam os mais esperançosos corações ao desespero. The Last of Us da HBO Max termina com grande respeito pelo jogo e não poderia ser de outra forma. Aquele final ainda hoje é poderoso, quem jogou recentemente o remake sabe bem disso. Quando tudo indicava que havia luz, o sentimento agridoce toma conta e este novo ciclo de violência terá incríveis consequências para todos.
Este final marcante e dramático de The Last of Us da HBO Max será agora discutido e comentado durante muito tempo, tal é a força dos eventos aqui contados. Para quem jogou o jogo, o impacto foi o mesmo, mas agora, com 10 anos em cima, assistiu de uma perspetiva diferente, marcada por um sorriso de quem finalmente verá um dos maiores momentos na história dos videojogos tornar-se parte da cultura pop, e marcar muitas mais pessoas que nem sequer olhariam para os videojogos como fonte de tão impactante narrativa.