The Lego Movie 2 videogame - Análise - Guerra dos mundos
Deixando um rasto de peças.
A estreia do filme The Lego Movie 2 é mais uma vez acompanhada por um videojogo produzido pela TT Fusion, responsável por um vasto conjunto de jogos, todos da série Lego. Subsidiário da TT Games, este estúdio britânico volta a pegar num título que lhe é familiar, dado ter sido responsável pelo original de 2014. Assim, quase cinco anos depois e com mais produções pelo meio, a editora regressa com mais um título que volta a seguir de perto o filme, ao mesmo tempo que apresenta mais um mundo aberto - ao estilo sandbox - possibilitando a viagem e exploração para diferentes mundos.
Atenta a quantidade de títulos lançados sob a franquia Lego, não se pode dizer que não há uma saturação e repetição da fórmula. Apesar das diferenças e variações da jogabilidade, quase todos os jogos com Lego no nome (a maioria deriva de filmes e licenças como a Marvel) seguem uma base bastante similar, especialmente desde a obtenção de protagonismo através de Lego Worlds. Há especificidades oriundas dos filmes e das personagens, mas de um modo geral, quem tenha jogado algum dos títulos mais recentes não encontra mecânicas muito diferentes no jogo seguinte. Daí a sensação de repetição que alguns poderão sentir ao experimentarem este Lego Movie 2, voltando a desfazer peças e reconstruir partes do cenário para avançar, ao mesmo tempo que se socorrem dos poderes especiais das personagens a fim de conseguirem uma vantagem perante os adversários.
Não obstante, os jogos Lego continuam a proporcionar bons desafios e a assegurar divertimento, muita cor e grafismo cuidado, apresentando mundos vivos e repletos de peças, como se estivessem mesmo a construir peça a peça aqueles detalhados cenários. São jogos simples mas sobretudo eficazes na sua quase ingenuidade, uma receita que já se conhece mas não oferece grande resistência mesmo quando jogada regularmente, valendo a pena destacar o trabalho de vozes e o humor patenteado. É o caso deste Lego Movie 2, que no formato videojogo volta a assentar no formato mundo aberto. Há muitas personagens para obter e peças para coleccionar. O brilho dos jogos Lego continua bem vivo, mas é preciso relembrar que boa parte da fórmula é uma repetição dos jogos anteriores e por isso a sensação de novidade pode ser escassa.
Mas, indo ao cerne do jogo, temos como argumento a invasão levada a cabo por monstros alienígenas que deixaram Bricksburg em peças. Os improváveis heróis são Emmet e Lucy, que não estarão sós na tarefa de salvamento do planeta. Com eles estarão super heróis de outras campanhas, nomeadamente Batman, que rapidamente empresta os seus serviços e poderes numa jornada que vai muito para lá do planeta terra, estendendo-se por outros planetas (a lembrar Super Mario Galaxy na sua estrutura de níveis). Haverá mais personagens auxiliares e dotadas de poderes indispensáveis. Para obtê-las terão que explorar e coleccionar tudo o que é mais relevante.
"O brilho dos jogos Lego continua bem vivo, mas é preciso relembrar que boa parte da fórmula é uma repetição dos jogos anteriores"
De resto, a história não é introduzida de forma linear, como sucedeu por exemplo com as missões da campanha de Lego The Incredibles. Aqui os eventos são próximos do filme mas estão dotados de uma quase autonomia, representados pela viagem a mundos específicos, onde devem coleccionar um conjunto de peças, completar missões e recolher umas peças de maior dimensão, chamadas "bricks". Na fase inicial existe um tutorial (opcional). A não ser que sejam inteiramente novatos (ou estejam a jogar com crianças) é aconselhável desligá-lo, já que se apresenta de forma demasiado exaustiva, criando até interrupções no normal decurso do jogo, anulando a fluidez típica dos primeiros níveis. É certo que há funcionalidades novas para transmitir, como a caixa de construção e os combos nos ataques e gestão dos poderes especiais, mas a sua utilização é tão intuitiva e acessível que só por desatenção não percebem o que estão a fazer ao ponto de ficarem bloqueados.
A fundação dos mundos é muito mais próxima de Lego Worlds, a lembrar Minecraft graças à profundidade das áreas e por permitir uma livre exploração, à margem dos caminhos lineares. O resultado é quase um desenvolvimento desse jogo de 2017, usando manuais de construção para obter peças e estruturas indispensáveis ao avanço. Para as obter terão que destruir parte do cenário ou desfazer coisas abandonadas. É um trajecto bastante simples e eficaz. Até as lutas contra os monstros e adversários mais fortes não oferecem grande resistência, desde que actuem no tempo certo (há muitos quick time events).
A quantidade de coisas que podem fazer é realmente impressionante, ao ponto de vos deixar criar peças, modificar as cores, ampliar o cenário e retocar alguns elementos da jogabilidade. Acaba por ser mais a concessão no âmbito em mundo aberto do que a escala do filme através de missões próximas mas nunca lineares ou seguidas. A passagem para outro mundo faz-se através de objectivos a cumprir, mas mais uma vez teremos à nossa disposição grandes áreas para livre exploração e nisso é que Lego Movie 2 é diferente dos mais recentes jogos e se aproxima do filão mundo aberto. A ideia dos produtores é essa, mais do que acompanhar de perto o filme, levar o jogador a deixar a sua marca por onde passe, criando coisas megalómanas ou simplesmente raspar a superfície antes de abalar para o mundo seguinte.
"A fundação dos mundos é muito mais próxima de Lego Worlds, a lembrar Minecraft"
Tudo isto funciona e é interessante, mas também surgem os problemas típicos dos jogos que entram com tudo no género mundo aberto. Por vezes são perceptíveis algumas dificuldades do motor gráfico em dar vazão a toda a produção inerente. As quebras de frame rate acontecem e as caixas de diálogo demoram a desaparecer (podem desactivá-las e jogar só com vozes). Não é uma falha muito óbvia, mas se jogarem por longos períodos apercebem-se dessa fragilidade. Por outro lado verifica-se uma certa disparidade na produção dos cenários. Há zonas quase desertas e depois aparecem as construções mais densas, nas quais acabamos por intervir, mas parece faltar por vezes alguma homogeneidade na produção destes mundos. O combate poderia estar melhor e mais diversificado, o que vos leva a passar constantemente pelos QTE, a repetir muitas das funcionalidades.
O melhor são mesmo os combates contra os bosses alienígenas e as situações por vezes hilariantes que daí resultam. A exploração não é dos pontos mais fortes deste Lego Movie 2, mas quando entra no capítulo da acção, pese embora a repetição de muitos ataques, existe uma boa variedade de poderes e habilidades conferidos pelos heróis e super heróis. É nesse capítulo que o jogo mais brilha e se demarca, pelo impacto destas batalhas e destruição dos cenários. Haverá quem prefira outras adaptações da série Lego, mas não se pode dizer que Lego Movie 2 seja uma oportunidade perdida no género mundo aberto. O jogo inscreve um desafio e apresentação interessantes, mas volta a entrar numa fórmula bastante usada e por isso não é tão apto a surpreender.