The Walking Dead: Survival Instinct - Análise
Daryl merecia mais.
Uma coisa boa que sempre acompanhou os jogos com terror é o facto de nos incentivar a optimizar recursos. Quem cresceu com o primeiro Resident Evil sabe da importância que tinha a poupança de munições e ervas por exemplo. Se calhar este foi um dos aspetos que tornou a personagem de Daryl tão interessante na série. Um “crossbow” não é só uma arma “cool”, como permite reciclar as setas e por isso tornar a nossa capacidade de matar walkers quase infinita. É inferior a um revólver em poder, mas não sei, num caso destes eu preferia o “xbow”. Isto para dizer que passei horas armado até aos dentes, insistindo em eliminar os zombies de martelo ou de machado, apesar do jogo ser bastante generoso na oferta de munições.
A inteligência artificial dos zombies é inexistente, por escolha ou omissão, venha o próximo e julgue. A questão é que podem ser muitos, mesmo muitos walkers. Matar um não representa problemas, seja usando um método ninja ou com uma paulada na cabeça, um de cada vez e batemos o recorde do rei Leónidas. No entanto, quando temos uma rua inteira, aí o melhor método é mesmo correr, facilmente escapam da atenção dos walkers, afinal, eles parecem ser infinitos e a sua inteligência era inexistente.
O combate é tremendamente limitado, até temos bastantes armas mas não há grande profundidade num sistema onde o nosso único objetivo é apontar à cabeça e disparar. Usar uma rifle tem um charme particular nesse caso, mas rapidamente nos cansamos de jogar o “tiro ao zombie”. As armas melee têm a particularidade de não fazer barulho, vão utilizá-las a maior parte do tempo, e vão perceber exatamente o significado da palavra repetitivo.
Já que como comecei por dizer, o jogo falha em criar a envolvência necessária para que vivamos num estado de medo permanente, era fundamental que os cenários e principalmente o aspeto dos zombies o conseguissem fazer. Survival Instinct abusa da reciclagem dos modelos dos walkers, problema que se estende depois ao level design com quartos que são cópias invertidas uns dos outros.
Mesmo os cenários exteriores que tentam dar a ilusão de profundidade são limitados, com o jogo a não demonstrar qualquer problema em colocar elementos a obstruir a nossa passagem, mesmo que a sua presença seja questionável. Os gráficos são de geração passada, e isto inclui modelos e cenários. Não são péssimos, mas são vazios, iguais, sem estilo estético e com texturas pobres, parecem, inacabados. Ora, a falta de variedade de modelos juntamente com a pobre qualidade gráfica são os ingredientes para a desgraça, e levam à crescente dessintonização com a experiência.
Eventualmente encontram Merle numa zona que não vou revelar, mas, não resisto em chamar-lhe previsível. Os dois partem em fuga dos walkers, jornada que os leva a diferentes zonas para sul. O ritmo da ação mantem a mesma sucessão, adicionando muito pouco à experiência à medida que progredimos. Existe alguma escolha, na interação que fazemos com os sobreviventes e durante as viagens, um pouco de profundidade num conjunto tão genérico que por vezes parece cliché.
Já falei um pouco da música ao elogiar a banda sonora, em particular o tema inicial que abre a série, e que também abre o jogo neste caso. Sem menosprezar a qualidade do som ambiente, detesto quando o som acaba por ser um spoiler valente, ao surgir quando os walkers estão perto, quero ser eu mesmo a descobrir! Depois, para completar a ironia o jogo faz de propósito para eu ser surpreendido com um walker, com este a saltar-me em cima quando me preparo para abrir uma porta.
Resumindo, podia terminar como comecei, The Walking Dead: Survival Instinct concentra-se no lado menos interessante de um zombie apocalipse e não acompanha a qualidade da escrita que nos habituamos a esperar depois da série, do jogo da Telltale e principalmente dos quadradinhos da Image Comics. Estou certo que os fãs mais acérrimos da série conseguirão uma experiência prazerosa com o jogo, até porque certamente que já imaginaram o que fariam naquelas circunstâncias. Para os outros, por favor vejam a série primeiro, não é com esta ideia que queremos que fiquem.