The Wolf Among Us: Episódio 2 - Análise
Revelações intensificam mistério.
Depois de vários meses à espera, finalmente temos o segundo episódio deste fascinante conto que dá pelo nome de The Wolf Among Us. Nesta aventura de mistério e crime, Bigby Wolf tenta mostrar que ser o xerife de Fabletown é uma tarefa que consegue cumprir mas quando tem à sua frente um dos eventos que irá abalar toda a comunidade, toda a sua capacidade para desempenhar esse papel é posta em causa. O arranque da série foi uma jornada espectacular que só terminou quando tivemos o seu ponto mais alto, um ato brutal e selvagem que deixaria qualquer jogador de boca aberta. Agora é hora de continuar.
O segundo episódio, Smoke and Mirrors, faz verdadeira justiça ao seu nome e envolve ainda mais o jogador nesta trama repleta de incógnitas. A cada nova descoberta, surgem logo dois mistérios que intensificam toda a personalidade do jogo e a sua capacidade para envolver o jogador. Provavelmente ainda se lembram do chocante final do primeiro episódio e estão com uma enorme vontade de descobrir o que se passou e é precisamente por aí que estes novos momentos começam. Tentando explicar ao jogador como encontrar o chão que perdeu antes de ver os créditos finais.
Se o tom noir combinado com a aposta point and click no qual existe trabalho de investigação enquanto encarnamos a pele de um detetive é algo que apela, basta juntar o conceito que esse protagonista é o lobo mau que ameaçou o capuchinho vermelho para tudo se tornar único. Afinal de contas, temos aqui as fábulas que conhecemos desde meninos mas com um ligeiro reajuste às suas realidades. Fugiram das suas terras para uma Nova Iorque que não pode saber que eles estão lá, as suas vidas tomaram rumos bem reais distantes da fantasia que conhecemos e as suas personalidades não são propriamente as mais admiráveis.
Se jogaram o primeiro episódio provavelmente compraram toda a temporada portanto será inevitável jogarem o que lhe segue mas para os que ainda estão indecisos ou à espera, posso assegurar que não existe aqui nenhum momento que consiga bater os melhores do primeiro episódio. Aqui temos um maior foco na investigação, na aventura gráfica por assim dizer, e pouco em termos de ação. Por um lado é saboroso investigar e ir puxando o fio do novelo que é este mistério mas por outro este segundo capítulo faz-nos sentir mais espectadores.
O ritmo e equilíbrio do episódio em si não consegue disfarçar tão bem a sensação de não sermos propriamente jogadores, mas compensa com diversos momentos de iluminação sobre este caso de mulheres assassinadas. Podemos compreender que o primeiro serviu para agarrar o jogador e o chocar com momentos intensos, ação, perseguições, diálogos inteligentes e bem elaborados, para depois arrefecer os ânimos e explorar a sua outra vertente, mais focada na narrativa.
É o que faz Smoke and Mirrors, deixando que o jogador, depois de conhecer o mundo, vá vendo e ligando os pontos até começar a sentir bem o peso de todos os acontecimentos. A maioria dos que leram o comic sabem bem do que Bill Willingham é capaz e da forma como os personagens ganham protagonismo para servirem toda uma trama geral, penso que a transposição dessa sensação para o videojogo é o maior trunfo deste jogo.
Quando a dado momento começam a sentir qualquer tipo de emoção pelas personagens, é a prova que o TellTale Games conseguiu um objetivo do qual se pode orgulhar. Seja pena, medo, pânico, nervosismo, curiosidade, inquietude, raiva, desprezo, ou simplesmente aquele desejo de justiça, então estamos completamente envoltos na narrativa e a percorrer eventos que coexistem numa sintonia imprescindível neste tipo de experiências.
Os fãs do point and click sabem bem o quão poderosa é a sensação que é ser motivado a explorar, a conhecer mais do enredo e a resolver dilemas ou desafios. Pelo menos alguma delas tem que estar presente e The Wolf Among Us consegue-as, nunca ao mesmo tempo pois até é limitado em alguns aspetos mas consegue-as. O maior problema deste novo episódio é provavelmente a sua duração e como o seu ritmo perde para o primeiro. Seria difícil manter aquele ritmo e existe a necessidade de uma pausa para o enredo avançar mas fica a sensação que mais poderia ter sido feito.
A nível técnico fica ainda a ideia que são precisos ajustes pois é frequente o jogo abrandar e soluçar o que quebra a imersão no mundo de jogo. Quando temos um trabalho tão bem conseguido a nível visual e sonoro, as novas personagens dão continuidade ao bom trabalho de vozes dos atores, é pena que as constantes quebras até nos possam fazer falhar os momentos em que temos que pressionar os botões nos raros momentos de ação.
O que fica nesta pequena hora e vinte minutos de jogo que precisei para terminar o episódio, alguns relatos falam em menos de uma hora até, foi uma enorme vontade de saber mais deste mistério, que todas as explicações fazem sentido quando enquadradas com este mundo e que a qualquer momento me vai ser puxado o tapete e será introduzido novo momento chocante e intenso. A capacidade de constantemente surpreender o jogador é o maior trunfo que o Telltale conseguiu até agora.
The Wolf Among Us é precisamente como o material fonte do qual nasceu, é controverso, sério, adulto, arrojado, profundo, capaz, e altamente dedicado em entreter o jogador. Se tal como eu ficaram motivos em ler a obra de Bill Willingham após jogarem o primeiro episódio, então certamente já perceberam a qualidade do trabalho do estúdio Telltale Games nesta adaptação. Mesmo que este episódio não dure tanto quanto se desejaria, especialmente após a longa espera, e apesar dos pequenos problemas técnicas, é na mesma merecedor de todos que se apaixonaram por este universo.
Um jogo point and click com um enredo e cenário verdadeiramente originais, as personagens dos contos de fadas em versões reais, adultas e credíveis, com motivações e atos em acordo com tal, é uma verdadeira delícia. Só é pena que Smoke and Mirrors não tenha a espectacularidade e equilíbrio que o primeiro episódio teve. Apesar de ser compreensível que o estúdio não conseguisse manter aquele ritmo, o desvendar de novos detalhes deste mistério não é tão intenso quanto poderia ser e em nada magoaria uma longevidade ligeiramente maior. No final do dia o seu maior trunfo é deixar-nos a querer mais.