The Wolf Among Us: Episódio 3 - Análise
Temporada chega ao seu ponto mais alto.
Estamos precisamente a meio da temporada de The Wolf Among Us e este episódio três, A Crooked Mile, vai mesmo longe para nos mostrar porque temos estado tão fascinados com a série. Depois de dois espectaculares cliffhangers, recuperamos agora em Abril os acontecimentos que deixamos pendentes no início de Fevereiro. Se há coisa da qual The Wolf Among Us se pode orgulhar é do seu tom adulto, sério, misterioso e envolvente, são juntamente com o seu cenário original os seus melhores argumentos, e temos aqui mais um belo episódio que faz vibrar todos os apaixonados por Fables ou até mesmo por novelas gráficas.
Se o primeiro episódio foi chocante na medida em que estabeleceu o jogador dentro de uma narrativa e universo fascinantes, contendo momentos chocantes e de verdadeira delícia, já o segundo foi mais morno em entusiasmo mas mais focado na investigação. Foi quase um oposto do primeiro mas um necessário ato de equilíbrio para que o jogador explorasse mais depois de ter sido cativado. Existe aqui crime, existe aqui suspense e existe aqui uma leve sensação de escolha e consequência que nem sempre pode ser tão vincada quanto o jogador queria.
Crooked Mile brilha nesse aspeto, nenhum dos dois outros episódios me deixou com tanta vontade de o voltar a jogar ainda antes mesmo de o terminar apenas para escolher opções diferentes. Se existe momento em que ficamos a duvidar da eficácia ou validade das nossas decisões é aqui neste terceiro episódio. Afinal de contas estamos já todos plenamente inseridos nas mecânicas de jogo e familiarizados com a narrativa, que se atreve a brincar com o jogador a cada novo segundo. Dá-nos alguma informação nova apenas para nos deixar mais confusos e sem saber qual a que deve ser recolhida e quais estão lá apenas para despistar.
"Apesar de já termos passado algumas horas nesta fábula, ainda nos surpreende os conteúdos adultos e sérios que a distinguem."
Ainda antes de arrancar a sequência de introdução ao estilo série TV, na qual Bigby Wolf percorre as ruas de Fabletown enquanto os créditos passam, temos momentos chocantes, mistério e uma incrível sensação de urgência para que o fio do novelo nos leve a algum lado. Queremos respostas do jogo, queremos sentir que estamos a chegar a algum lado, queremos sentir que a narrativa faz sentido e sentimos isso, mas não como esperado. A cada novo momento, a cada novo desenlace, o Telltale Games brinca com o jogador ao mergulhá-lo em mais mistério e mais confusão. Esta aventura gráfica em point and click moderna é gerida de forma intensa e inteligente. Adoramos.
Obviamente que não vamos comentar sequer qualquer mínimo detalhe do enredo mas os que têm acompanhado a série sabem bem que existe um claro fio condutor que parece cegar-nos de tão óbvio que é, ao ponto de o jogador querer agir logo sem medir consequências pois tudo é tão fácil de perceber. No entanto, existe igualmente a noção que já se estabeleceu entretanto que poderemos ser facilmente enganados e que nem sempre o jogo nos leva para onde queremos ou da forma que queremos. Até agora, os dois primeiros episódios foram inteligentes ao conduzir de forma quase inocente o jogador ao longo dos eventos, nem se apercebendo que era quase um espectador mas agora já não mais o é.
Este é o episódio em que mais sentimos que somos mesmo parte fulcral da experiência, que a moldamos com as nossas ações, e que apesar de tudo acabar por ir dar ao mesmo, existe peso no que decidimos fazer e claro, consequências. Muito do que semeamos nos dois episódios anteriores será importante em alguns momentos e esta espécie de micro-eventos dentro de uma trama mais geral dá mesmo um reforça à sensação do jogador como parte integrante na experiência.
Por outro lado, menos positivo, a experiência de jogo já não apresenta quaisquer mistérios ou até surpresas seja a quem for. As regras e comportamentos estão já explicados, estudados e mais do que sabidos. O controlo de Bigby é natural agora e talvez o maior problema com este episódio seja não oferecer algo na sua gameplay que prime pela diferença. O que envolve verdadeiramente o jogador são os momentos point and click no qual procura pelos cenários por formas de avançar na trama. Ao ponto de quase se sentirem estranhos os momentos em que controlamos o protagonista de forma mais livre.
O mesmo poderá ser dito para alguns momentos do enredo pois são demasiado previsíveis. Sabemos que tudo está contextualizado e que as coisas se encaixam mas a sedução deste episódio está na sensação de urgência que temos quando forçados perante a escolha de ações mais radicais. Aquele ligeiro pânico que nos deixa quase parados a pensar se devemos mesmo escolher A ao invés de B é um atestado do poder que esta série vai conquistando dentro dos seus fãs. Isto faz-nos esquecer que já estávamos a prever o que iria acontecer numa cena em específico.
Mais do que a previsibilidade de alguns momentos, o que realmente me deixou desanimado foi a qualidade técnica deste episódio. Já nos dois anteriores existiam momentos em que o jogo sofria de forma perceptível o que acabava por afetar a experiência, existindo um claro contraste entre o jogo em plena forma e quando era afetado, mas confesso que a minha tolerância foi menor. Quando a fidelidade visual é comprometida por screen-tear ou pelas descidas acentuadas no rácio de fotogramas, sentimos mesmo que a experiência fica inferiorizada o que é mesmo pena. Caso contrário seria uma banda desenhada em movimento em estilo espectacular mas infelizmente nem sempre é tão suave como deveria.
Outro ponto no qual A Crooked Mile acerta é na relação quantidade/qualidade. Este episódio dura pouco menos de duas horas e o que nos dá é de alta qualidade narrativa. Acredito que com a devida adaptação, The Wolf Among Us facilmente seria um fascinante livre policial que poderíamos ler enquanto viajamos de comboio ou algo assim. Para quem comprou o passe de temporada é óbvio que não o vão deixar escapar mas para os que estão à espera de jogar tudo de uma só vez é um bom exemplo da qualidade que vão receber.
Mais uma vez o Telltale Games mostra porque está no topo e porque recebe tanta aclamação dos jogadores. Assim que encontraram a fórmula mais equilibrada para os seus produtos, começaram a oferecer experiências narrativas de topo e The Wolf Among Us dignifica a obra de Bill Willingham. É fácil imaginar isto não como um videojogo mas sim uma série de TV que iria cativar a atenção de milhões de espectadores em todo o mundo e fico feliz por poder apreciar este trabalho do estúdio que vai dando que falar.
Resumindo e concluindo, A Crooked Mile está bem perto de ser o melhor episódio que tivemos na série até à data e se acreditarmos que o Telltale poderá estar a adicionar o seu toque ao universo de Fables de forma inteligente e inspirada, então ainda melhor ficam as coisas. O verdadeiro vilão e antagonista está a formar-se e as fábulas de outrora estão a ser usadas com irreverência e seriedade para oferecerem uma novela de pura delícia. Resta continuar a aguardar por mais mas a jornada que começou em Outubro mostra-se mais fascinante a cada novo momento. Apenas espero que demore menos a chegar o quarto episódio.