Titan Souls oferece tanta dificuldade quanto diversão
Conheçam um dos jogos indie mais surpreendentes da E3 2014.
Diversão e dificuldade são dois termos que geralmente não andam de mãos dadas. E quando me refiro a dificuldade não estou a falar de um bom desafio. Existem vários jogos que oferecem um bom desafio, mas encontrar dificuldade a sério é mais raro. Aqui há uns anos, antes de surgir Demon's Souls e de se tornar popular, ainda mais raro era. Com a chegada e sucesso deste jogo da From Software, os produtores perceberam que havia público interessado em jogos difíceis e que não tinham de facilitar as coisas só para que um título fosse aceite. Desde então jogos difíceis têm surgido em maior quantidade.
Titan Souls, como já devem ter concluído pelo título escolhido, foi buscar alguma inspiração a Demon's/Dark Souls. Este foi um jogo criado para o Ludum Dare 28, um game jam online em que os participantes aceitam o desafio de criar um jogo no período de 48 horas. Perto do prazo final para submeter o jogo, os produtores ainda não tinham escolhido um título e decidiram fazer referência aos jogos Souls, devido à elevada dificuldade partilhada. Mas no que toca aos bosses (descritos como Titans), Titan Souls é mais parecido com Shadow of the Colossus, havendo janelas de oportunidade para atacar.
Entre as roulottes da Devolver Digital (onde já tinha descoberto o jogo mais estranho da E3 2014), Titan Souls revelou-se como mais uma surpresa. A sua única premissa é enfrentar bosses. Não existem inimigos mais fracos pelo meio, o único objetivo é progredir de sala em sala enfrentando bosses cada vez mais difíceis. Na demo que joguei, estavam presentes os quatro bosses iniciais, que segundo os produtores vão servir como tutorial, mas na versão final podem aguardar 20 Titans para enfrentar.
Para um tutorial, qualquer um destes quatro bosses iniciais não era um desafio fácil. Mas o mais interessante foi o ambiente que se criou rapidamente em redor do jogo. Na roulotte estavam comigo mais três jornalistas de outros meios e decidimos ir passando o comando de mãos em mãos visto que só existia um PC à disposição. Apesar da dificuldade e das mortes rápidas em algumas tentativas (por vezes nem duravam 5 segundos), Titan Souls estava a ser divertido e a cada morte soltavam-se gargalhadas.
É importante que um jogo não seja apenas frustração, caso contrário torna-se numa experiência negativa. Diversão é crucial para ajudar a desanuviar. Face a Dark Souls, parece-me que há uma clara vantagem. Titan Souls é incrivelmente difícil, mas a única punição é a morte visto que não temos nada a perder. Não há almas (nem outra espécie de moeda) nem melhor equipamento, tudo o que temos do princípio ao fim é um arco e uma única flecha reutilizável (depois de usada podemos apanhá-la do chão). E depois, quando perdemos, bastam alguns segundos para enfrentarmos novamente o boss, não há tempo desperdiçado ao regressar à bonfire anterior.
O conceito de Titan Souls faz lembrar o modo de dificuldade Heaven or Hell de Devil May Cry, em que a morte, tanto para os inimigos como para nós, está à distância de um só golpe. Em Titan Souls, também morremos com um só golpe mas não basta acertar uma só vez no boss para derrotá-lo (na verdade depende do boss). A parte difícil é sobreviver tempo suficiente para acertar. Os bosses só são derrotados se a flecha lhes acertar em pontos específicos. E não é tão fácil quanto o vídeo faz parecer.
Um dos quatro bosses demonstrados era uma bola saltitante com um coração no meio. O perigo neste confronto era ser esmagado. O problema é que cada vez que acertávamos na bola com a flecha, esta dividia-se e assim sucessivamente, até que ficámos rodeados de pequenas bolas saltitantes num espaço que no início parecia espaçoso mas depois tornou-se apertado.
O segundo boss era um cubo de gelo com um cérebro no meio. O cubo deslizava de um lado para o outro, ganhando e perdendo velocidade. Nesta área estavam quatro pontos no chão que ativavam uma fogueira no meio da sala. Para derretermos o cubo, tínhamos que esperar que a fogueira fosse ativada pelo cubo e passar a flecha pelo meio da fogueira. Evitar que o cubo nos atingisse não era assim tão difícil, tínhamos era que aguardar pacientemente pela oportunidade certa.
A seguir encontramos mais um cubo, mas este deslocava-se rodando as suas faces e atacava com lasers vindos de uma esfera que abria e fechava. Esta esfera era o seu ponto fraco, mas quando abria, disparava lasers na nossa direção. O truque era disparar a flecha na diagonal, evitando assim o laser. Claro que é mais fácil dizer do que fazer, mais uma vez, era necessário esperar pela oportunidade certa, que não surge logo nos momentos iniciais do confronto.
"A jogabilidade é super simples mas funciona às mil maravilhas"
O último boss da demo era essencialmente dois punhos de pedra irrequietos que guardavam o ponto fraco assinalado com uma luz lilás. Acertar uma só vez neste ponto fraco não era suficiente. O essencial era esquivar os punhos usando a mecânica de rebolar e sempre que possível tentar apontar o melhor possível num segundo ou menos e disparar contra o ponto fraco até que o boss fosse derrotado.
Nenhum dos bosses descritos acima era invencível. Com várias tentativas e alguma paciência/calma era possível derrotá-los, mas não se esqueçam que serviam apenas de tutorial, o que me deixa a especular que desafios foram reservados para os restantes 16 confrontos. A jogabilidade é super simples mas funciona às mil maravilhas e a nenhum ponto fiquei com a sensação de que morri porque outro motivo que não fosse minha culpa. Sim, é um jogo difícil, mas justo.
Pessoalmente, Titan Souls passou de "apenas mais um jogo indie" que tinha visto brevemente num trailer na conferência da Sony E3 2014 a um dos jogos que mais aguardo para 2015. São exemplos como este que tornam a cena dos criadores independente tão fascinante, com jogos que à primeira vista parecem banais mas que depois encantam e maravilham. Titan Souls lembra vários jogos - tem a dificuldade de Dark Souls, a jogabilidade de um Zelda clássico e bosses de Shadow of the Colussus - mas no final, é um jogo singular e único.