Tomodachi Life - A caminho da Nintendo 3DS - Reportagem
Conhecemos em Frankfurt a maior surpresa da Nintendo para este Verão.
Como a manhã que principia nublada e acaba por dar lugar ao céu limpo, também é mais ténue a cortina que ainda separa as produções marcadamente nipónicas das ocidentais. Haverá sempre os jogos de nicho, aqueles que ficam para sempre no país do Sol Nascente, mas são cada vez mais os jogos japoneses que fazem a longa viagem até ao ocidente. Como diferenças que se anulam através do conhecimento e do contacto, os jogadores ocidentais estão hoje melhor acomodados e solícitos ao humor e traços peculiares das produções japonesas. Animal Crossing: New Leaf, para a 3DS, é talvez o virar de página mais claro desse novo capítulo. Mas Tomodachi Life, hoje anunciado em mais uma Nintendo Direct, para a Europa a 6 de Junho de 2014 e para a família de consolas da Nintendo 3DS, poderá proporcionar toda uma nova história.
Após o lançamento de Tomodachi Collection para a Nintendo DS em 2009, pensava-se que o jogo criado por Yoshio Sakamoto não chegaria cá. No entanto, chegada à 3DS, com uma nova versão em 2013, deixou o produtor de Metroid, Kid Icarus e Wario Ware, mais confiante sobre o sucesso do jogo à escala planetária. O incomparável poder de processamento da 3DS e as suas funcionalidades, garantem uma base mais sólida de compatibilidades com a visão do seu criador.
A manutenção da designação original do jogo revela interesse pela origem e significado, mas também confiança nas qualidades de um produto que procura afirmar-se em termos internacionais. Tomodachi quer dizer amigo em japonês e é com base na amizade, surpresa, humor e divertimento que Sakamoto construiu o jogo, atribuindo aos Mii's das consolas da Nintendo toda uma nova vida, o mundo por que sempre aguardaram, o mundo dos Tomodachi. Como se esse mundo estivesse à sua espera. Um mundo que pode ser partilhado pelos nossos familiares, amigos, colegas e celebridades. No Japão, e desde 2009, o primeiro título da série é um dos mais populares. 5 milhões e meio de cópias é um número estrondoso, bem revelador do interesse dos japoneses na partilha desta experiência.
É impossível não pensar em Tomodachi Life como um jogo misterioso. Um mundo louco onde estas personagens podem interagir, umas vezes em harmonia outras vezes não. De todo o modo, a interacção entre elas é constante e essa empatia ou relacionamento avesso que vão estabelecendo entre si, dentro de uma ilha que funciona como uma cidade onde há de tudo, requer uma intervenção constante do jogador, uma espécie de apaga-fogos e tranquilizador dos problemas que emergem.
A interacção é constante e essa ligação ao jogo vai sendo cada vez maior à medida que canalizamos mais personagens Tomodachi para a nossa ilha, da qual o primeiro habitante é justamente o nosso Mii, o nosso alter ego; com voz, personalidade e comportamentos estabelecidos a nosso gosto. A atribuição de tom de voz, personalidade e aspecto do Tomodachi são alguns dos parâmetros que começamos por definir sobre cada Mii que registamos na ilha. Porém, é o desenvolvimento das relações com os outros Tomodachi que condicionam a experiência e permitem a cada pessoa experimentar o jogo à sua maneira e de forma totalmente diferente de outro utilizador. À partida, é fácil pensar num simulador da vida social, com influências de Animal Crossing ou The Sims. Contudo, não podemos ignorar que o criador deste jogo é Yoshio Sakamoto, que também contribuiu para a insanidade de alguns títulos da série WarioWare. Esta intensidade e diversidade de produções permite-lhe ir ao encontro de fórmulas únicas e Tomodachi Life enquadra-se perfeitamente nessa dimensão.
Espera o inesperado
Tomodachi Life dará uma nova projecção ao editor dos Mii. É através dessa ferramenta e dos códigos de realidade aumentada que são importados para o jogo. Celebridades, amigos, colegas ou familiares, a importação destas personagens é o primeiro passo de uma série de definições passíveis de ajuste, como voz e personalidade. Os Tomodachi começam por viver nos apartamentos em forma de T1, espaços inicialmente vazios mas que ao fim de algum tempo começam a moldar-se de acordo com os interesses da personagem. Mas para lá das tarefas mais básicas como providenciar alimento, fazendo-os mais felizes para que alcancem novos níveis de felicidade, é interessante acompanhar as interacções inesperadas que vão acontecendo entre os diferentes Tomodachi. As surpresas acontecem regularmente, e as constantes interacções enquadram-se constantemente apelam ao jogador.
Sucesso no Japão
Mas independentemente dessa direcção, os Tomodachi acabam por viver as suas vidas de forma livre, com os seus sonhos, as suas preferências mas também as suas desilusões. Compete ao jogador observar e interagir da melhor forma. Daí a dificuldade em definir o tipo de jogabilidade de Tomodachi Life. Yoshio Sakamoto, ligado a Frankfurt a partir de Kyoto através de uma videoconferência, disse-nos que a palavra-chave para este jogo é empatia. Esta é a resposta a uma série de mistérios que ganham força junto dos ocidentais, desde que o jogo Tomodachi Collection foi lançado no Japão, a 18 de Dezembro de 2009, para a DS, tendo até hoje vendido 3,76 milhões de unidades. A versão para a 3DS, lançada a 18 de Abril de 2013 está perto dos dois milhões de unidades vendidas, com 1,82 até ao momento. No fundo, estes números são também eles misteriosos, mas Sakamoto aponta para o público alvo no Japão, sobretudo os jovens em idade escolar e as mães, desejosas por partilhar o jogo com os filhos, num mundo onde os seus alter egos encontram diferentes experiências.
Em Tomodachi Life, os Mii e o alter ego do jogador não vivem só de sonhos e tarefas regulares. Os problemas das personagens são problemas para os jogadores. Sakamoto criou efectivamente um jogo visualmente apelativo, num estilo algures entre o realismo e a animação, ligado a óbvios exageros e que tornam quase tudo mais humorístico. Mas não se trata apenas de observar: os Tomodachi requerem trabalho: uma alimentação diária, atenção à saúde e erradicação de doenças e encontrar a solução para os deixar felizes. Só uma visão criativa, sensível e de imaginação fértil, pode lograr entretenimento interactivo, confia Sakamoto.
Uma colecção de amigos
A experiência obtida por cada jogador dependerá da imaginação e da capacidade de surpreender (e de se deixar surpreender). Não há limitações de idade, género ou de se ser mais ou menos um jogador aficionado. No Japão a demografia adepta do jogo é suficientemente vasta. A sua popularidade reside sobretudo no coração das famílias. A transição do jogo para a 3DS permitiu a Sakamoto pensar nos mercados ocidentais a partir de um outro nível de funcionalidades. Um Mii que não fala, não pode ser um Tomodachi, um amigo. Essa era a maior desvantagem da versão DS.
No entanto, o que explica o sucesso do jogo no Japão? O facto de as pessoas espalharem a palavra e trocarem ideias sobre as suas experiências com Tomodachi Collection, produziu um súbito aumento de interesse, como um efeito contagioso. Os japoneses expostos a esta febre encontram nas semelhanças com a vida humana uma das particularidades mais notáveis do jogo. Mas num tempo dominado pelas redes sociais e pela partilha de informação, a possibilidade de captar imagens de forma fácil e publicá-las sem grande esforço, através da rede social da Nintendo, contribuiu para esse efeito de propagação imediata, a partir de uma produção pouco usual mas bastante penetrante.
É mais fácil sentir empatia por Tomodachi Life quando começamos por identificar as celebridades transformadas em Tomodachi. No vídeo mostrado durante a Nintendo Direct, o recurso a Iwata, Miyamoto e Aonuma move o jogador, interessado em descobrir como essas personagens se vão relacionar em função das suas diferentes personalidades. Sakamoto é visto sobretudo como um produtor, mas lembra-nos que é também um jogador e que procura divertir-se neste modelo de interacção, com a família e os amigos. Isso mudou a sua personalidade, sobre como era no passado e como é no presente. A confiança no que este jogo pode representar para a indústria é relevante. Há uma tentativa em explorar os videojogos numa direcção diferente e com outros conteúdos nunca antes tentados. Não se sabe se a reacção na Europa será semelhante à vivida no Japão, mas o alcance pela empatia não deixa de ser um desejo universal. Tomodachi Life permite a cada pessoa personalizar as suas emoções e sentir-se atraída pela experiência.