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Tomodachi Life - Análise

Uma ilha para habitar.

No canto superior direito encontramos um indicador de satisfação do Mii. Se lhe dermos comida quando está com fome, em princípio ficará mais satisfeito e esse indicador subirá. Se lhe comprarmos uma roupa que seja do seu agrado ou que nos tenha solicitado, o indicador subirá mais ainda. Eventualmente passará para um novo nível de felicidade, o que nos permite escolher algo para lhe oferecer, como uma música, um novo interior para o apartamento ou então um objecto de extensa lista de coisas boas, podendo ser uma passadeira para fazer exercício, um bastão de basebol, uma Nintendo Wii U para jogar, uma 3DS ou um conjunto de beleza. Mas atenção, muitas vezes certas comidas, roupas e até mesmo interiores podem receber pouco agrado ou mesmo nenhum agrado do Mii, situação que implica uma despesa sem que haja benefício em termos de satisfação. Mas se o Mii ficar satisfeito recebem é-vos dada soma pecuniária, o que permite recuperar parte do gasto nas aquisições e ao mesmo tempo continuar com orçamento para comprar mais comida no restaurante, roupa na loja de vestuário e interiores na loja de decoração.

Em termos de orçamento, Tomodachi Life não é muito restritivo, ou pelo menos não exige tanto esforço como acontece em Animal Crossing. Todos os dias os Miis doam uma parte do seu dinheiro para o vosso orçamento e quanto maior for o seu nível de felicidade, maior é a soma doada. Aliás, não é necessário esperar muito tempo até que todos os serviços e atracções da ilha fiquem disponíveis. Ao fim de duas ou três horas de jogo conseguem desbloquear quase metade dos serviços e, com mais alguma dedicação, lá terão tudo o que a ilha tem para oferecer, inclusive um local onde podem tirar fotografias de conjunto aos vossos Miis em situações de êxtase colectivo.

Rock'n Roll, Pop ou Ópera? O jogador decide.

Mas se por um lado isto é benéfico em termos de abertura e disponibilidade de mais opções logo numa fase inicial, por outro sente-se que a progressão é quase automática, implicando um esforço moderado por parte do jogador e pouco mais do que uma atenção diária às tarefas básicas para rapidamente se atingir a quase totalidade dos objectivos. Em Animal Crossing New Leaf, a abertura do clube LOL, onde vemos a actuação de KK Slider (por que tanto esperamos) ou a primeira viagem - inesquecível - no "ferry" de Kapp'n são como que conquistas e um prémio pelo nosso esforço. Podemos dizer que os momentos em Tomodachi Life que mais se aproximam são talvez o casamento, o anuncio de um filho (uma vez que acabam por depender de certas condições) e o momento em que pela primeira vez, já como jovem, parte da ilha para descobrir o mundo. Esses momentos são como que o sublimar da experiência e todos ficam perpetuados em imagens particulares que podemos fotografar e partilhar com os amigos através da ferramenta de partilha de imagens da 3DS.

O incentivo à utilização diária do jogo está lá. Através das janelas dos apartamentos dos Miis podemos ver se estão acordados (luz acesa de noite) e quase sempre vemos sinais que traduzem disponibilidade para interacção como uma silhueta verde a piscar, mas também pode ser um coração, uma exclamação ou outro sinal. Através deste contacto diário não só somos solicitados a intervir constantemente como podemos encontrar diferentes pratos confeccionados no restaurante. Desde apetitosas sanduixes a deliciosas sobremesas, passando por bebidas refrescantes como Coca-cola ou um irresistível sumo ou café, os pratos distinguem-se pela origem e diversidade. Pena que não haja a possibilidade de escolher vários pratos ao mesmo tempo e pagar todos em conjunto no fim da escolha. Depois, há sempre novas peças de vestuário na loja de roupa, para homem, mulher e criança, para uma muda quase instantânea, e diferentes interiores para os apartamentos. Algumas peças de roupa ou interiores podem atingir preços elevados.

É interessante percorrer as diversas atracções da ilha, à medida que os eventos se suucedem. Existe o café onde os Miis podem estar sossegados a beber um café e a confortar o estômago com uma fatia de doce, ao mesmo tempo que trocam abundantes pareceres meta-físicos. Outras vezes os Miis reúnem-se num barbeque, à hora do almoço. Vale a pena lembrar que estas reuniões acontecem por sua e única iniciativa. O jogador, nalgumas reuniões, apenas assiste e observa, quando não for chamado a intervir. No barbecue o jogador pode soprar da direcção do ecrã de modo a afastar a coluna de fumo que teimosamente atinge o rosto de um Mii que vai comentando com os outros comensais o sabor da carne grelhada. Mas depois há a praia, onde os Miis podem jogar à bola, tostar ao sol, correr, assim como também há o parque para as caminhadas, a torre de observação e o espaço noticioso dos Mii que informa o jogador sobre todas as situações invulgares e insólitas, desde boatos a rumores, sem descurar inquéritos aos residentes. E estes blocos noticiosos são apresentados pelos Miis residentes. Quando não estão no seu apartamento, encontram-se num parte-time qualquer na ilha, por exemplo, a atender o cliente da loja de roupa. No parque de diversões, alguns Miis realizam espectáculos de magia.

Outras actividades envolvem concertos, desafios de batalhas "rap" e espectáculos musicais que envolvem a reprodução de um tema de um género, através de uma letra que podemos editar na sua totalidade. No parque de diversões, a certas horas do dia, acontecem determinados eventos, como o Tomodachi Quest, inspirado nos jogos de role play nipónicos das consolas 8 bit. Embora com um sistema de opções elementar, esta aventura começa com uma "party" de quatro Mii's e prolonga-se por um tempo limitado até à derradeira batalha. O processamento das batalhas é algo demorado e ao fim de umas investidas torna-se previsível. Felizmente, existem outros eventos que acrescentam mais alguma variedade, embora ao fim de algum tempo estejamos a repetir os mesmos eventos.

Depois do casamento, os Miis recém-casados passam a habitar numa casa situada noutro ponto da ilha, mas continuam com os respectivos apartamentos.

A interacção com os Miis envolve também a participação numa série de mini-jogos que apresentam um design parecido com alguns desafios do WarioWare e que constituem o lado competitivo. Em muitos momentos e a qualquer hora do dia (respeitando que à noite podem sempre entrar nos sonhos dos Miis e descobrir o que lhes passa pela mente) serão convidados a jogar. Pode ser um "quiz" no qual terão que descobrir qual é o objecto que é revelado a partir de uma imagem ampliada ou então detectar o Mii dentro de uma série de perfis sombreados. Noutro jogo mais engraçado, têm que agarrar objectos lançados pelos Miis. Por vezes eles ficam na conversa, adiando a queda do objecto ou então colam um elástico que traz de volta à mão os objectos deixados cair, num impasse que dificulta a superação do desafio, como assume um registo cómico. Embora haja um número apreciável de desafios, também estes acabam por se repetir ao fim de algum tempo, sendo que uns são mais fáceis de completar que outros.

Na ilha encontram ainda uma grande variedade de rankings, com grelhas ordenadas em função das relações que vão acontecendo entre eles. Desde o Mii líder, até à "namorada" de Tomodachi Life, estes rankings mudam diariamente e contribuem para ficarmos com uma ideia das relações que podem ganhar avanço. Se deixarem ligados o StreetPass e SpotPass, chegarão à ilha os exploradores, onde eles têm um espaço reservado para montar a sua tenda. Consigo trazem itens e novos objectos que passam a figurar nas lojas. Através dos exploradores os jogadores terão ainda acesso aos seus dados especiais, como nome da ilha, alcunhas das suas personagens e até mensagens. Através de ligação local, dois jogadores com uma cópia do jogo poderão trocar de personagens, comida e roupa.

Tomodachi Life é uma experiência que tem os seus incentivos, mas mais conteúdo e um forte sentido de progressão, necessariamente fortaleceriam a experiência. No entanto, não podemos ignorar a originalidade do conceito, sobretudo como conseguiu guiar os Miis até um outro nível, mesmo que tenhamos pela frente mini-jogos de grande simplicidade e estejamos relegados a uma missão operativa. Apesar de ser menos jogo e mais contemplativo, Tomodachi Life conduz a simulação da vida real de mãos dadas com a comédia e surpresa. Os produtores talvez não tenham implementado todas as possibilidades em termos de relações entre as personagens, mas imprevisibilidade é de tal modo regular naquela ilha, que às vezes nos esquecemos dessas limitações e só o tempo que passamos com o jogo as aclara. Em suma, um jogo que só podia acontecer no Japão mas que à semelhança de outras produções, também poderá ganhar a atenção dos ocidentais. Sobra a questão. Se pudessem levar para uma ilha e para acompanhar o vosso Mii, outros 23 Miis, quem escolheriam?

7 / 10

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