Totori, não lhe chames Mimi!
Como um RPG de ânimo leve pode ser refrescante.
Depois de na semana passada me ter aventurado em Virtue's Last Reward, esta semana estou completamente dedicado a Atelier Totori Plus para a PlayStation Vita. Conciliando isto com as minhas expectativas para Soul Sacrifice, Muraramasa Rebirth e Final Fantasy X HD dou por mim perante uma situação que há muito não via surgir e que até pensava dificilmente ser possível novamente. Basicamente, posso dizer que voltei a ficar rendido ao sabor nipónico como não havia conseguido ficar nesta actual geração de consolas.
Se das anteriores gerações é difícil colocar um jogo Ocidental entre os meus dez favoritos, nesta actual é difícil conseguir colocar um jogo Japonês entre os dez jogos que mais me surpreenderam. Isso no entanto não quer dizer que o meu fascínio pelos produtos vindos de um país tão rico em criatividade nos videojogos não tenha desaparecido, apenas ia ficando adormecido e acordava a espaços para depois voltar ao seu estado de hibernação.
No entanto, dou por mim agora a recuperar todo aquele ímpeto e paixão que me fascinou há tantos anos atrás e os responsáveis até nem são os suspeitos mais prováveis. Para os conhecedores das andanças até pode ser mais que óbvio mas a culpa é toda minha por ter permitido que ficasse como que adormecido por tanto tempo. Por outro lado, a posição da PlayStation Vita no meu dia a dia ficou bem mais cimentada e ao contrário do que pensava nem precisei de tons épicos cinematográficos para tal, bastou apenas o valor da experiência em si.
Depois de um longo período de debate interno a ponderar a compra de Persona 4: Golden ou Atelier Totori Plus a escolha foi para o segundo e por razões bem claras. Aproveitei a disponibilidade apenas digital de Totori+ e a conveniência da compra digital para deixar que Golden ficasse para mais tarde em formato físico, pois é um jogo que já joguei na sua versão PlayStation 2 original enquanto Totori era ainda desconhecido.
Chegada a hora de mergulhar no segundo jogo da série Atelier da Gust desta actual geração de consolas caseiras, editado pelo Tecmo Koei nesta versão Vita, deparei-me com um jogo um pouco estranho. Claro que começar pelo segundo jogo, passando Rorona para a PlayStation 3, me deixou na dúvida se não deveria ter começado primeiro por esse mas agora já estava em Arland e pronto para viver esta aventura.
As primeiras duas horas em Arland foram possivelmente do mais bizarro que pude conhecer num jogo. Mas isto não é no mau sentido, não. Tudo foi bastante agradável, encantador e até doce. Isto porque aqui não temos um RPG no sentido tradicional a que estava habituado, aqui não temos uma enredo de escala épica e global no qual um tirano usa a força do seu império militar para dominar os restantes povos ou para tentar destruir o mundo. Aqui temos simplesmente uma frágil e inocente jovem que quer ser uma aventureira.
Totooria Helmold tem mais que fazer na sua vida além de consumir a sua irmã e o seu pai, Totori (como os amigos lhe chamam) quer seguir as pegadas de Rorolina (a sua professora) para tornar-se não só numa grande aventureira e exploradora mas também numa grande alquimista (apenas uma de quatro existentes em Arland). É simplesmente isto, o enredo parte desta simples premissa, desta jovem envolta em sonhos e esperanças, cheia de ternura e inocência pois não faz a mínima ideia do que esperar.
Desde a música relaxante aos visuais coloridos a lembrar o cruzamento entre um desenho animado Japonês e um jogo, passando pelo enredo bem humorado, simples e absorvente, Totori leva-nos numa viagem que encaixa na perfeição numa portátil. É descomprometido, solarengo, bem disposto, envolvente, profundo na sua experiência de jogo enquanto consegue ao mesmo tempo uma personalidade leve. Totori é uma jornada ao mundo estranho da criatividade Japonesa e um relembrar de como me apaixonei por toda a criatividade Japonesa.
Neste primeiro par de horas andei por Alanya, uma pequena aldeia de pescadores, e arredores numa espécie de tutorial no qual Totori, Gino e Melvia foram passeando, derrotando monstros e sintetizando itens para criar novos, não fosse Totori uma aprendiz de alquimista. Pelo caminho desfrutei do trabalho de talentosos actores na voz dos personagens, conheci personagens que por lado são diferentes mas por outro são típicas e até normais estereótipos Japoneses, conheci o sistema de combate simples mas com uma dificuldade crescente e ajustada, e conheci todo o processo base pelo qual o jogo se rege.
Em pequenas zonas, que podem ser percorridas em escassos minutos (algumas num minuto até), vamos procurar itens para a sintetização dos itens que Totori usa para combater nos combates por turnos, enfrentar monstros e até descobrir referências desses mesmos locais. Ao efectuar isto estamos ao mesmo tempo a executar missões que podemos aceitar no bar da cidade para receber dinheiro e itens especiais para o tão precioso e importante processo de sintetização (daí o referir tanto) enquanto os dias vão passando pedindo ao jogador uma gestão cuidada do mesmo.
Tudo isto até Totori conseguir ir a Arland par obter a Licença de Aventureira e o mundo verdadeiramente se abrir perante ela. Após isto temos objectivos para cumprir relacionados com a licença e também eles encaixam em perfeita sintonia com o que as missões e o decorrer normal do jogo pediam. Nada aqui parece querer forçar o jogador ou fazer com que se apresse, tudo parece relaxado e por isso mesmo vai crescendo no jogador até este acreditar que algo tão "banal" e "light" não o vai cativar o acabar por envolver e conquistar.
Actualmente, com cerca de 5 horas de jogo, sinto que apenas dei o primeiro passo nesta aventura e que existe tanto para fazer e viver. Acabei de conhecer Mimi Houllier von Schwarzlang, não lhe chamem Mimi, que veio a Alanya pedir ajuda a Totori, tenho mais locais para explorar ao obter a licença Iron, e começo a compreender aos poucos o que Totori tem para oferecer.
Este será um fim de semana passado em Arland e consigo imaginar que durante várias semanas não vou querer deixar estes personagens que me estão a relembrar com tão belo efeito porque me apaixonei por outros tantos que me relembram. Acredito que nunca havia conhecido uma experiência tão singular como esta, pelo menos não com estes parâmetros, e sinto o gosto pelos produtos Japoneses a regressar e ao mesmo tempo fico a perguntar a mim mesmo se alguma vez o devia ter perdido.
Este não é o tradicional JRPG épico esperava mas a verdade é que a estranheza inicial começou a desaparecer e ao chegar às cinco horas de jogo tudo começou a acender-se e o gosto começou a surgir, quando dei por ela já estava cá dentro. Agora estou simplesmente rendido a Totori e ansioso pela chegada de Meruru. Existe muito para conhecer e até Tales of Xilia chegar já sei por onde vou andar.
Fica ainda uma nota, a reforçar toda a singularidade Nipónica. Se compraram Atelier Totori Plus até ao dia 17 de Abril, pelos mesmos €39.99, tiveram direito a um pacote bónus com fatos extra. Desta forma podem vestir Totori e amigas num adorável bikini e percorrem os campos com uma pequena cauda preta a abanar ao vento. Precioso mesmo, ora digam lá?