Tour De France 2013 - Análise
A prova rainha do ciclismo regressa depois do escândalo.
Existe um elemento tático associado às etapas, não apenas a execução. É possível dar ordens aos colegas para atacar, ou para nos ajudar a puxar nas zonas a subir, mas a verdade é que 90% do tempo é passado com o dedo no gatilho direito do comando, sem absolutamente mais nada a acontecer. É francamente aborrecido, e julgo que isso nem é culpa particular deste jogo, simplesmente não há muito de diversão na maior parte da execução do ciclismo.
As descidas são uma lufada de diversão a grande velocidade, onde até podemos ouvir o vento a assobiar enquanto preparamos a abordagem de cada curva, mas rapidamente a etapa regressa aos 30 minutos de um pedalar doloroso junto do pelotão ou de um grupo de fugitivos. Podemos até utilizar o comando para seguir o corredor à nossa frente (follow), e se o fizermos, podemos ir beber um refresco e voltar apenas para os últimos quilómetros.
O jogo até faz um esforço para o jogador estabeleça metas reais na sua aprendizagem, primeiro apontando ao bronze onde temos apenas que atacar e passar 3km na frente, depois a prata onde é necessário o pódio numa etapa, e por ai fora, mas mais uma vez, se o ciclismo é um desporto de esforço e paciência, o jogo requer a mesma dedicação, esforço e ainda mais paciência.
Existem duas mudanças, uma para subir outra para descer, e ainda podemos comer coisas como uma bolacha ou um concentrado de frutas pera recuperar as forças para o que resta de cada etapa. Estes consumíveis são uma pitada de escolha no meio de uma sessão em piloto automático. A física das bicicletas varia entre expectável e o péssimo, por vezes um toque com grande velocidade no separador não faz nada, outras vezes pisar um pouco de relva deixa-nos como se estivéssemos presos em areias movediças.
Os cenários têm uma renderização muito pobre, à distância as árvores parecem ter saído do Minecraft, e mesmo os modelos mais próximos são muito despidos de detalhe que capte a nossa atenção. A interação com o público é inexistente, a única coisa que o corredor faz sem o nosso comando é beber um pouco de água de vez em quando, raios, até nós ficamos com sede depois de uma hora sem largar o gatilho.
"Le Tour de France 2013 procura ser fiel às características da modalidade, mas ao mesmo tempo permitir que uma pessoa comum seja capaz de escolher um corredor e enfrentar imediatamente a estrada"
Não existe banda sonora durante a competição, nem faria grande sentido, temos apenas a voz de um membro da equipa, que já agora, é de uma honestidade assinalável. Ele próprio nos diz que nada de interessante está a acontecer e mais valia passar à frente a corrida até à contagem, "a sério? Até não me importava". Tirando estes momentos, o silêncio reina na maior parte do tempo, o que torna as etapas ideais para que sejam vocês a escolher a vossa própria banda sonora de fundo.
Le Tour de France 2013 é um jogo para os fãs da modalidade, mas é impossível não lamentar o facto de haver muito pouco para todos os outros. Um videojogo é uma boa forma de atrair pessoas para a modalidade, e se como eu, têm a sensação que a bicicleta se tem tornado num meio de transporte cada vez mais popular dentro das cidades, o lado competitivo não me parece que tenha vindo a acompanhar esse crescimento.
É claro que o jogo teve direito a um orçamento modesto, isto nota-se logo que percebemos que não possui todas as licenças, e como já disse, em termos de execução é um desporto muito difícil de tornar videojogo. Tem alguns pontos positivos, onde destaco os vídeos de apresentação de cada etapa, com filmagens e um modelo 3D do traçado, mas a sua execução é pobre, e é muito limitado em termos de design. Pelo menos podemos pegar no nosso Rui e replicar a sua conquista na Suiça, desta vez na prova rainha do ciclismo.