TowerFall Ascension - Análise
Até à loucura.
TowerFall Ascension é o mais recente jogo independente para a PlayStation 4 a chegar-me às mãos e tenho que confessar que estou a escrever este artigo meio à pressa pois quero rapidamente voltar para o jogo. Este é um jogo que volta a glorificar toda a revolução indie que aconteceu nesta nossa adorada indústria e mostra como experiências outrora consideradas como "menores" são agora um verdadeiro e delicioso prato completo. Todos nós sabemos como a anterior geração catapultou as experiências mais imediatas e ligeiras dos serviços digitais para a montra das consolas mas somente com a marcha incessante dos produtos independentes e com a sua merecida conquista dos mercados de massas temos a oportunidade de adquirir produtos como este excêntrico TowerFall Ascension.
É incrivelmente fascinante a forma como esta indústria mudou, como as modas e tendências já não mais são estabelecidas unicamente pelos poderosos AAA que custam milhões. É incrível o respeito que estúdios independentes conquistaram junto das grandes editoras e das fabricantes de consolas, ao ponto de serem destacados a cada nova semana como se fossem o principal acontecimento da indústria, até porque muitos o são. Incrível como experiências que jamais nos chegariam às mãos em anteriores gerações são agora sensações promovidas com o devido destaque. O poder da simplicidade manifesta-se de formas estranhas e quando existe liberdade para despoletar o espírito criativo sem reservas ou restrições, é difícil não sentir que estamos perante uma nova apaixonante era na indústria dos videojogos.
Lançado originalmente em 2013 para a Ouya, Towerfall Ascencion chegou a 19 de Março à PlayStation 4 e é um exemplo de como tudo mudou, um exemplo de como uma visão, por mais estranha que seja, pode florescer para dar um produto que cativa tantos outros pelo mundo fora. Se existe ideia que fica depois de terminada a revolução é que devemos sempre respeitar os pequenos jogos independentes, por mais descabidos que pareçam. Podem ser o vosso próximo vício. TFA foi desenvolvido por uma só pessoa, um homem de seu nome Matt Thorson que um dia imaginou como seria Super Smash Bros. Melee se o tivesse feito.
Atualmente, cada um poderá guardar dentro de si um criativo prestes a desenvolver a próxima sensação e o atual estado da indústria parece estar a saber gerir de bela forma a relação entre qualidade e oportunidade. Thorson descreve-o como um jogo de arco e flecha com plataformas no qual iremos conhecer intensas batalhas multi-jogador local e um dinâmico modo Quest a solo ou em cooperativo. Temos aqui uma bela e até precisa descrição do jogo que provavelmente será fruto de muitas discórdias entre amigos.
Mas antes que os amigos se chateiem, iremos descobrir como é incrível que algo tão "básico" (na sua essência), tão simples e tão minimalista nos consegue levar para os meandros do desespero. Assim é, TowerFall Ascension, esta nova aposta da Sony dentro do universo indie na PlayStation 4. Jamais havia uma consola apostado tanto nas produções independentes para manter um ritmo de lançamentos consistente pós-lançamento e se já na Vita temos uma plataforma a ganhar contornos singulares com esta estratégia, a PlayStation 4 promete beneficiar ainda mais desta nova postura da Sony. Quem beneficia é o jogador que fica com uma coleção de jogos à disposição que jamais conseguiria conceber na sua imaginação. Afinal de contas estávamos tão focados nos AAA que fomos apanhados desprevenidos por esta falsa inocência.
De inocente TowerFall Ascension nada tem e tudo o que faz é com toda a cruel intenção. Aqui o jogador terá que escolher entre quatro personagens: o último membro de uma ordem que luta pela salvação do reino, um jovem e ambicioso príncipe do deserto, um soldado que pretende expor um rei pervertido, e uma ladra treinada para cumprir a sua vingança. Estes são os personagens que poderemos escolher para usar neste que pode ser considerado como um retro-futurista, um produto que na sua aparência e mecânicas de jogo parece ter sido feito na era 8-bits mas com um trabalho técnico claramente atual. Esta combinação que tantas vezes provou ser eficaz, volta a triunfar.
Essa marcha triunfante começa quando entramos em pequenas salas, a recriar a sensação de estarmos dentro de uma torre, nas quais teremos que a alto ritmo evitar os ataques dos inimigos, apontar e atirar flechas para os eliminar ou saltar-lhes para cima caso seja mais adequado. Especialmente eficaz se ficarem sem as preciosas flechas. Saltando de plataforma em plataforma, deslizando pelas paredes ou saindo pelo chão para reentrar pelo tecto, TowerFall Ascension confunde o jogador com o que parece ser uma gameplay leve e imediata para lhe dar uma chapada que após o despertar faz com que entenda que isto tem muita mais profundidade do que inicialmente pensou.
Se demorar muito tempo a pensar poderá conhecer um desfecho madrugador mas o interessante aqui é como uma gameplay tão simples providencia um desafio. Rapidamente as mecânicas de jogo e a sensação que os comandos nos dão é que estamos perante um jogo de impulsos. Um jogo no qual temos que ser rápidos a agir. A resposta firme e precisa dos comandos permite que após compreendidas as regras de jogo estejamos aptos para endoidecer. Mas nem pensem que a aposta numa gameplay que invoca atenção e reflexos rápidos irá banalizar a experiência.
Existia espaço aqui para uma forma fácil de tornar isto num "festim de tiros a voar pelo ecrã" mas o jogo foi desenhado para incutir pressão no jogador de forma a que este procure ser mais estratégico. A sensação de caos e urgência para evitar uma derrota prematura e até "rasca" é imensa, especialmente porque os inimigos são implacáveis mas se tiverem três amigos com quem partilhar a experiência então nem sequer hesitem, este é o caminho a seguir.
É no seu modo competitivo local que TowerFall Ascension irá brilhar. O caos da experiência saltitante enquanto apontamos para derrotar um inimigo antes que seja possível desviar do que se aproxima é tão frenética e intensa que o "tolo" aspeto visual rapidamente ganha respeito. Especialmente porque são os pequenos detalhes visuais que nos conferem pistas sobre os preciosos timings e a melhor postura a adoptar. Claro que a dada altura nem conseguimos olhar para todo o lado e a dificuldade pode ser extrema.
Existem momentos em que mais parece que estamos num Super Mario no qual ele usa flechas e o cenário é limitado, a sensação é excitante e passados cinco minutos queremos fazer melhor. Com amigos ao nosso lado a intenção é clara, ridicularizar os outros e sair vitorioso. A maior lacuna do jogo é mesmo não apresentar qualquer modo competitivo online pois assim teria sido do outro mundo. Para ser mais preciso, a maior lacuna do jogo será não apresentar quaisquer funcionalidades online pois também a vertente cooperativa do modo Quest seria fascinante.
O modo Quest é o modo solo mas no qual um amigo poderá juntar-se a nós e em modo online teríamos aqui uma experiência para ascender a outros patamares de loucura. A gameplay é tão confusa inicialmente que queremos logo aprender a conhecer todas as suas vertentes e nuances, até estarmos integrados em pleno, para procurar fazer melhor e assim alcançar o final de todas as 6 rondas por nível. Existem ainda alguns desafios extra no modo Trials que representam salas de desafio nas quais temos que cumprir certos objetivos no menor tempo possível.
Existem diversos tipos de inimigos, alguns com estatuto ao estilo de um boss, diversos power-ups e toda uma panóplia de pequenos elementos que nos fazem acreditar que estamos nos anos 80. Que o digam os gráficos que apesar de terem nas suas fundações tecnologias atuais, toda a componente artística nos remete para experiências de uma outra era. Se alguém vos perguntar como colocaram um emulador Super Nintendo na vossa PlayStation 4 não se riam, é um excelente elogio para TowerFall Ascension.
O ritmo de experiências independentes de topo que a Sony tem vindo a oferecer aos seus consumidores nas suas diversas plataformas começa a ser algo sério e digno de elogios. TowerFall Ascension parece ser mais um daqueles contos da vida real que nos relembram doces fábulas Disney: um homem com uma visão parte à conquista do mundo. Isto seria impensável há dez anos atrás quando a intenção da indústria era "Mais, melhor e mais brutal". Quanto mais melhor, quanto melhores os gráficos melhor. A indústria parece ter amadurecido além dessa fase e toda a riqueza que a variedade de jogos independentes nos oferece é verdadeiramente enriquecedor.
TowerFall Ascension é um caso de fascínio. Irritante ao início, curioso após alguns minutos e objeto de devoção no restante tempo. Existe uma clara sensação de abandono no jogador a solo e um claro premiar para quem tem mais três comandos com três pessoas ao seu lado. O visual encaixa que nem uma luva e todo o conceito de Super Mario ao encontro de Super Smash Bros. com arco e flecha é do mais original que já vi. Atualmente poderá tornar-se limitado para uma grande maioria mas uma pequena minoria saberá eleva-lo ao patamar de diversão que permite.