Passar para o conteúdo principal

Trek to Yomi - kurosawa souls

Estética peculiar e um gameplay por refinar.

Filme de samurais interativo com uma apresentação digna de elogios, mas o gameplay deixa a desejar.

É impossível olhar para Trek to Yomi e não sentir que é mais um fascinante exemplar do que representam os indies para esta indústria. Ao longo dos últimos anos, a indústria tem vincado o papel dos projetos independentes. Após aquele encanto inicial, resultado de uma época experimental durante a qual ainda eram encarados como experiências menores, os indies já conquistaram o seu espaço no nosso radar e concorrem com elevada frequência aos mais desejados prémios anuais. São experiências imaginadas por quem se apaixonou de tal forma a jogar videojogos das mais conhecidas casas que dedicaram a sua vida a criar jogos inspirados pelas maiores obras.

Trek to Yomi é o resultado de uma paixão pelos videojogos e pelo cinema, uma mistura que tem originado fascinantes títulos entre os maiores estúdios da indústria, mas que também continua a dar cartadas entre os mais pequenos. Imaginado como uma homenagem a Akira Kurosawa e a filmes como “Os Sete Samurais”, algo que partilha com Ghost of Tsushima, Trek to Yomi é um jogo de ação e aventura em side-scrolling 2.5D a preto e branco que pretende dar-te a sensação de jogar um filme de Kurosawa. Nesta missão, a Flying Wild Hog cumpre em pleno e é fácil jogar Trek to Yomi e sentir que estás a controlar um samurai numa película do mestre japonês, mas ainda assim nem tudo consegue alcançar o seu propósito.

A jornada de Hiroki, o protagonista, é incrivelmente cinematográfica e o estúdio merece todos os elogios no que diz respeito às componentes visual e sonora. Parece mesmo que estás a jogar um filme de samurais a preto e branco. Desde o tom da narrativa, locais, perspectivas da câmara sobre os cenários 2.5D, sons e uso da banda sonora, esse principal efeito é alcançado e provavelmente será graças a isto que sentirás vontade em terminar Trek to Yomi. A atmosfera e trabalho executado nos cenários alcançam um efeito quase de diorama em alguns momentos e isto engrandece o desfrutar do jogo.

Ver no Youtube

No entanto, as mesmas coisas já não posso dizer do gameplay em si, algo que promete tornar Trek to Yomi numa experiência divisória, capaz de apaixonar alguns e desiludir outros, mas isso podemos dizer de quase tudo na vida. Mas digo isto porque nos primeiros capítulos, Trek to Yomi é um jogo relaxado e praticamente desprovido de dificuldade. O sistema de combate é simples o suficiente para qualquer jogador se deixar apaixonar pela estética e também pelo design de níveis. Existem colecionáveis e melhorias espalhados pelos cenários, mas estão escondidos em salas relativamente fáceis de avistar e poucos são os que te obrigam a explorar a sério os cenários. No entanto, a meio do jogo e durante dois capítulos, Trek to Yomi fica um pouco mais difícil, mais exigente, e o gameplay não tem profundidade para cumprir.

Como o nome indica, a dada altura Hiroki vai até ao inferno e nesses capítulos ele enfrenta espíritos e demónios em maior sucessão, maior número e com checkpoints mais distantes. Também aqui os bosses são mais exigentes e vão testar os teus reflexos. Nada demais para quem está habituado a jogos difíceis, mas existe um claro pico de dificuldade. Aqui existem puzzles simples com efeito visual de grande apelo, mas na maioria do tempo estás a enfrentar um grande número de espíritos que realça a reduzida diversidade de inimigos. Mas como referi, senti que aqui não consegui perdoar as debilidades e falta de profundidade do sistema de combate como tinha feito nos capítulos anteriores, simplesmente porque o jogo exige mais de mim e não tem capacidade para isso.

Nas cerca de 5 horas necessárias para acabar Trek to Yomi, a passagem pelo submundo surge mesmo no meio e dura cerca de uma hora e meia, durante a qual corri o risco de perder a paciência com o jogo pois comecei a acusar algum cansaço. O gameplay assenta na proteção no momento certo para atordoar o inimigo e atacar. Alguns inimigos podes atacar facilmente e despachar com 2 ataques, mas outros exigem mais ataques e uma postura defensiva para defender no timing certo e o deixar aberto a ataques. Tudo muito simples e qualquer pessoa pode jogar Trek to Yomi, mas quando a dificuldade sobe, sentes que a lentidão dos movimentos e até algum atraso na resposta dos botões prejudica a experiência. Consegui tolerar a lentidão dos movimentos e as animações quase robóticas enquanto o jogo não exigia muito de mim, mas quando decidiu testar os meus reflexos, senti que não tinha a profundidade para isso.

Apesar deste elemento que acredito tornar-se divisório entre os jogadores, a estética, temática e singularidade da experiência no geral são capazes de convencer. O gameplay simples não incomoda, mas a falta de profundidade no sistema de combates em conjunto com as fracas animações e a lentidão de movimentos podem causar atritos para alguns.

Prós: Contras:
  • Um filme de Akira Kurosawa em formato interativo
  • Atmosfera e banda sonora combinam muito bem
  • Alguns cenários conseguem dar a sensação que estás a jogar um filme
  • Gameplay simples e sem profundidade
  • O movimento é lento nos combates e fica a sensação de latência nos controlos
  • O pico de dificuldade durante dois níveis
  • Falta de polimento nas animações
  • Não fica a vontade de jogar novamente

Lê também