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Trine 2: Director's Cut - Análise

Maquinaria goblin.

Trine 2, produzido pela Frozenbite e editado pela Atlus, foi lançado no final do ano passado para várias plataformas virtuais. Agora o mesmo jogo chega à eShop da Nintendo Wii U, numa versão melhorada e rebatizada de Director's Cut. Trata-se de uma versão especialmente concebida para a nova plataforma da Nintendo, que não só inclui a expansão Globlins Menace, mas também nos dá outros bónus como a adaptação ao GamePad que permite ao jogador seguir o jogo pelo ecrã do comando sem necessidade de ter a televisão sintonizada no jogo.

Em tudo o que é sequela que estreia numa nova consola, haverá muitos utilizadores da Wii U que desconhecem o original dos finlandeses da Frozenbite, ainda que não seja muito diferente do que temos na sequela. Em Trine o jogador batalhava individualmente contra os goblins e orcs, resolvendo puzzles pelo meio. Esse modelo volta a vingar em Trine 2, agora com áreas mais extensas, novas ameaças e um acervo de puzzles que puxam pelo pensamento lateral. À transformação do jogo para uma composição maior em cada um dos seus elementos, os finlandeses acrescentaram um modo on-line para três jogadores que também pode ser partilhado em termos locais.

Para tirar melhor partido do jogo a opção mais adequada passa pela ligação em rede ou opção para três jogadores locais. A ligação à rede permite-vos facilmente entrar para um jogo existente, mas também podem criar o vosso jogo. Para o multi player local, apenas um poderá usar o GamePad. Os restantes jogadores poderão recorrer à combinação entre Wii remote e Nunchuck para comandar as suas personagens, embora não possam desfrutar de certas vantagens proporcionadas pelo ecrã tátil do GamePad para movimentar objetos e ativar certas opções. A ausência de chat por voz pode fazer falta quando queremos dar especiais indicações, ainda que não seja por isso que não se consegue um bom trabalho de equipa.

Trine 2 é um jogo particularmente vistoso em termos gráficos, destacando-se sobretudo por um jogo de luzes bastante forte e por menos brutalidade nos contrastes, já que há uma tendência para apresentar menos cores mas com diferentes tonalidades, concretizando uma estética mais quente. É pertinente essa execução, já que o tema narrativo nos transporta para uma época medieval onde feiticeirose guerreiros combatem orcs e goblins.

O jogador começa por assumir o comando de Amadeus, o feiticeiro que pode fazer aparecer certos objetos e transportá-los até certo ponto. A sua inclusão no jogo é relevante em termos de construção de puzzles. É com ele que mais vezes iremos superar desafios e prosseguir diante de certos puzzles. Já Pontius é uma espécie de versão avantajada de sir Arthur de Ghouls'n Ghosts, servindo-se de um escudo, uma espada e de um pesado martelo que lhe permitem derrubar paredes, rolar pesados troncos de árvore e atacar mais facilmente os inimigos. Por fim temos ainda Zoya, uma personagem mais leve, munida de um arco e de um gancho que lhe permite pendurar-se e conquistar posições cimeiras, apontando para as respetivas plataformas.

Estas personagens permitem ao jogador desfrutar de Trine 2 como um jogo de ação e plataformas. A perspetiva de scroll horizontal em duas dimensões ganha especial dimensão por força da reprodução das personagens e cenários em três dimensões. Apesar de manifestar grande linearidade, é tentador o convite à exploração. Os jogadores mais apressados terão interesse em seguir rapidamente para o nível seguinte (os níveis encontram-se interligados, pelo que o único corte existente é para contar história), mas há muitos colecionáveis escondidos em zonas superiores e inferiores, cuja obtenção é indispensável para guarnecer as personagens de itens úteis e descobrir os segredos do jogo.

Com efeito, cada personagem possui uma grelha de progressão. Os seus atributos encontram-se inicialmente reduzidos a um mínimo de poderes. No entanto, se conseguirem reunir “moedas de troca”, podem adquirir mais vantagens. Quando ficam com possibilidade para efetuar level up surge um ícone no canto superior direito. Contudo, este não é um jogo de role play puro. A estrutura obedece a um esquema algo limitado e previsível, com poucas opções para alterar.

O jogador pode optar por desenvolver uma personagem por que tenha mais afinidade. No entanto, e uma vez que as três personagens são constantemente chamadas a executar determinadas funções, convirá manter os seus atributos desenvolvidos na medida do possível. Este esquema é particularmente eficaz e abre mais alguns desafios. Por exemplo, em certas fases não conseguimos prosseguir enquanto não resolvermos um problema. A voz do narrador dá-nos algumas pistas sobre o bloqueio. Cabe-nos então pensar nas propriedades de cada personagem e executar movimentos que possam ir de encontro à resolução do problema. A solução está sempre longe de ser a mais óbvia. Uma vez temos de encanar água para fazer crescer uma planta, outra vez temos de alimentar um sapo gigante para subir por ele através da sua língua comprida.

Há desafios particularmente exigentes, especialmente as boss fights, que conjugadas com as fases de puzzles abrandam o ritmo de jogo. Sem chegar a ser um jogo puro de plataformas, os níveis compreendem secções de algum esforço técnico que podem levar à morte das três personagens. Felizmente existem pontos de recuperação e “checkpoitnts” intermédios que nos permitem restabelecer a vida das personagens e recuperar as que tenham perdido a vida. É possível prosseguir a aventura apenas com uma personagem, mas a possibilidade para chegar mais longe será menor.

"Trine 2 é um jogo muito longo que revela cuidado e empenho da produtora. A história, mesmo não sendo um conto extraordinário, é constantemente servida."

Pese embora o bom modelo de puzzles e combinação entre plataformas e ação, Trine 2 exibe algumas falhas ao nível do movimento das personagens e sua física. A realização dos saltos para as plataformas não é tão sólida e segura como seria desejável, o que acaba por ocasionar algumas quedas imprevistas quando queremos subir rapidamente para uma plataforma. Por outro lado, a estrutura de alguns puzzles pode tornar-se demasiado rotineira, implicando uma resposta diferente do jogador, mas sempre sob as mesmas ferramentas. Ao fator surpresa marcado pelo começo da campanha, instala-se depois uma certa acomodação, que sentimos quando queremos transitar mais depressa para o final em fez de aproveitar o sumo do jogo. No entanto, estes pontos pouco abonatórios não são suficientes para colocar em causa o mérito e grandeza da produção.

Trine 2 é um jogo muito longo que revela cuidado e empenho da produtora. A história, mesmo não sendo um conto extraordinário, é constantemente servida. No final de cada capítulo, ao jeito de um manual que vamos abrindo, ficámos a saber mais sobre a demanda destes nossos três protagonistas. Existem depois bastantes conteúdos extra, como arte, belos poemas, num aproveitamento do mundo de jogo em termos líricos. As conversas que as personagens mantêm entre si ajudam dar-lhes relevo. As vozes recuperam um tom fundo e medieval, especialmente a do narrador que também nos acompanha.

Trine 2: Director's Cut é uma boa opção para a Wii U e leva até um avanço relativamente à anterior versão, muito por causa da boa adaptação ao GamePad da consola da Nintendo. Essencialmente é uma adaptação por via do ecrã tátil que torna certos processos mais intuitivos e rápidos. Para ativar certos mecanismos, basta um toque rápido no ecrã. E depois ainda podemos seguir o jogo unicamente pelo ecrã da consola, libertando o ecrã da TV para outras funções. Um ano depois de ser lançado, esta versão para a Wii U irá seduzir os adeptos dos jogos de scroll e ação em plataformas. Pejado de puzzles atrativos, de uma longa campanha e de uma estética admirável, Director's Cut é uma boa proposta. Podendo não ser particularmente engenhosa ou muito diferente do que fazem outros jogos, como todo convence.

8 / 10

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