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Unepic - Análise

Assustadoramente real.

Quando Unpeic foi lançado para o Windows e outras plataformas digitais a 30 de Setembro de 2011, Francisco Téllez de Meneses, catalão e residente em Barcelona, tinha passado os seus dois últimos anos a construir o jogo de role play com que sempre sonhou. A produção deste título sorveu-lhe quase todo o tempo livre. Programador, projectista, guionista, artista e músico, foi tudo o que precisava de ser para dar matéria interactiva a uma ideia que o entusiasmava desde longa data, desde aquela vez em que experimentou Maze of Galious para a MSX.

Claro que não teria sido possível chegar até aqui sem a ajuda dos seus colegas da Ninagames Corp., mas tal como outros autores que são cada vez mais sujeitos independentes numa indústria repleta de produções que absorvem recursos tantas vezes superiores às produções cinematográficas, também ele se resguardou das bandeiras agitadas para as massas e ganhou confiança sobre o que era melhor para o seu jogo. Unepic é uma dessas demonstrações. De jogador para jogador, é assim que podemos considerar esta proposta deste catalão, que chega agora à eShop da Nintendo Wii U e que nos leva a revisitar a fantasia dos Dungeons and Dragons.

De uma roda com os amigos diante de um jogo de tabuleiro até uma ida à casa de banho, dista toda uma transição do mundo real em que vive o protagonista deste Unepic para um castelo medieval lúgubre, labiríntico, misterioso e trespassado por uma infinitude de criaturas da pior espécie imaginária. É como se aquele jogo de tabuleiro tivesse por um ocaso desconhecido ganho tempo e espaço, transportando os amigos para um limbo e deixando a personagem principal a percorrer os corredores frios e vazios de um castelo medieval desconhecido.

Se tiverem definido o português como idioma da vossa consola vão verificar que o texto do jogo passa em castelhano. Como não existe possibilidade de seleccionar a língua poderão alterar o idioma da consola para inglês. Todavia, a produtora está a preparar um conteúdo que possibilitará a escolha do idioma.

Com uma tocha na mão, Daniel, o protagonista, prossegue ao longo de uma série de corredores e câmaras, alumiando-as à sua passagem, numa luz ténue e trémula. Não demora até se aperceber que está possuído por um estranho oráculo chamado Zera, com o qual vai mantendo um diálogo sobre o imprevisto que o rodeia. Esquivando-se a dar respostas sobre como, quando e porquê, Zera mostra-se mais interessado em alertar a nossa personagem para os perigos montados naquele castelo, quase em jeito de apresentação das regras do jogo. Noutros momentos, porém, as duas personagens encetarão diálogos mais curiosos, eivados de um humor bem conseguido com especial ênfase para algumas tiradas que os fãs imediatamente reconhecerão.

Não sobram dúvidas, Unepic consegue conquistar e manter a atenção do jogador, ao mesmo tempo que a história vai sendo revelada gradualmente mas sem nunca deixar cair totalmente o mistério por detrás daquele castelo e do porquê de Daniel ter ido ali parar. As influências de Metroid ou Castlevania estão muito presentes em termos de produção. O grafismo é todo bidimensional e os pontos escuros do mapa deixam de o ser à medida que passamos nelas o feixe de luz. Há um prazer em chegar uma ponta do fogo que transportamos connosco às tochas colocadas nas paredes. O efeito visual está bem conseguido, mas depressa sentimos que são pouco frequentes os momentos de brilhantismo e de uma alteração à jogabilidade que como uma engrenagem algo obsoleta, dá sinais de ter encravado numa certa posição. Na verdade, as áreas tendem a ser muito similares visualmente, ao ponto de se tornar diferenciador apenas o seu tamanho e o posicionamento dos inimigos. Às vezes pode ser um pouco aborrecido. Contudo, existem pequenos pormenores relevantes, como a reprodução da cozinha do castelo com mais alguns objectos, e outros salões guarnecidos de bens, mas de um modo geral a imagem que repousa tem mais que ver com um labirinto construído com os mesmos moldes, que algo mais profundo e denso.

Ao iluminarem todos os espaços ficam com uma ideia mais clara da dimensão do castelo e dos espaços que ainda se encontram por explorar.

Contudo, não podemos menosprezar o desafio. Aliás, nesse campo, apesar de alguma previsibilidade em termos de progressão, Unepic desenovela um grande conteúdo e muitos objectos com os quais a nossa personagem pode interagir. De facto é aqui que sentimos que há jogo, algo reforçado pelo indicador que nos diz a percentagem do castelo explorada e por uma extensa grelha que vamos preenchendo com despojos dos inimigos e outros objectos retirados de arcas. Apesar da linearidade em termos de progressão, ou melhor, uma certa previsibilidade em termos de transformação operada pelo equipamento disponibilizado, o avanço dentro do castelo cumpre-se através da realização de certos objectivos. Ao vencer diferentes inimigos e acendendo a certos pontos, somos postos a conversar com personagens misteriosas que nos fornecem "quests" e dicas até à próxima paragem.

O mais difícil por vezes é evitar as armadilhas e o efeito surpresa dos ataques perpetrados pelos inimigos a partir da escuridão. Mas isso faz parte da natureza do evento e devemos ter precaução no avanço, respeitando os sons do castelo, suspeitando daquilo que parece ser uma oferta demasiado tentadora, como o enorme tesouro que descobrimos numa câmara, e que nos leva, por reacção, a recolher uma moeda, para logo a seguir nos lançar uma maldição que em poucos segundos suga o nosso indicador de vida. Mas neste avanço cauteloso há muitas recompensas e objectos. Felizmente, é possível criar atalhos através do ecrã táctil do GamePad, mudando de armas e poções sempre à distância de um toque. Um dos aspectos do jogo é precisamente a utilização dos caldeirões, que nos permitem juntar os ingredientes necessários a fim de obter poções mágicas para diferentes efeitos.

Ataques à distância.

A subida de nível opera-se de forma bastante gradual. Vencer os inimigos é a forma mais rápida de preenchimento do medidor do vosso nível mas terão de combater bastante. Este opera-se dentro dos moldes mais tradicionais, usando uma espada ou um arco. Porém, importa ter em atenção o posicionamento da personagem. Sem a colocação correcta o golpe pode não alcançar o adversário mas se ficarem demasiados próximos podem sofrer dano. Além disso, alguns inimigos não são derrotados com apenas um só golpe, sendo necessário premir diversas vezes o botão de ataque até que o adversário seja finalmente derrotado.

No modo normal, o sistema de gravação automático permite continuar o jogo a partir do ponto onde ficaram na última vez quando saíram do jogo, mas com a desvantagem de terem que voltar a iluminar todas as áreas percorridas que entretanto voltaram a ficar às escuras.

Um clássico dos "Dungeons and Dragons", é assim que vejo este Unepic. Produto individual, ganha relevância por ser uma produção fiel e segura da visão do autor, mas peca também por nem sempre superar as influências e por apresentar um design que, depois do contacto inicial, revela limitações. Não obstante, é uma obra com uma satisfatória projecção narrativa, alicerçada em bons momentos de humor, adequado sistema de combate e plenamente ajustada ao GamePad da Wii U.

6 / 10

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