Viagem a Tóquio
Como foi Agosto para os videojogos no Japão?
Desde há muito que tenho um especial fascínio pelo que vai acontecendo no mercado Japonês dedicado aos videojogos. Desde artigos em revistas Espanholas como a Hobby Consolas a colunas editoriais no IGN ou GameSpot, quando Kingdom Hearts ainda era uma miragem na Europa, tenho seguido com atenção o que o público Japonês vai dizendo às companhias. Até esta geração o Japão era o centro da indústria, ditava o ritmo, os campeões de venda e os irreverentes designs inovadores que consagraram toda uma geração, mas tal mudou.
Desde finais de 2005 que a indústria Japonesa dos videojogos tem tido alguma dificuldade em recompor-se dos contra-tempos que enfrentou na transição da anterior geração para esta atual. Estes últimos anos tem sido marcantes e desde a ascensão das portáteis à iminente chegada da próxima geração, nada é igual na indústria Japonesa quando comparada com 2003. No entanto, independente de tudo, ficava sempre a perguntar como as coisas aconteciam, como alguns marcos eram obtidos e o que ajudava a moldar a indústria?
Com artigos da Forbes que nos falam que a estagnação económica no Japão é um mito, fiquei a pensar se o mesmo não se passou a nível dos videojogos. Coisas bem diferentes eu sei, mas o artigo de Eamonn Fingleton, apoiado por outro trabalho de William R. Cline do The International Economy, deixou-me a pensar se por acaso não terá passado aqui o mesmo: se a percepção dos media ocidentais e consequente informação passada aos leitores sobre o estado do Japão nesta indústria não estariam errados.
Para tentar compreender isso e compactar de forma mais sucinta e clara, para posterior leitura pelos que partilham similar ponto de vista, fica aqui uma viagem a Tóquio que pretende ir mais além da tradicional notícia. Colocar os nomes ao lado dos números e de forma explícita tentar encontrar causas e efeitos que os trabalhos dos estúdios e editoras Japoneses têm no seu mercado.
Para começar nada melhor que o mês de Agosto. Tradicionalmente parado mas agora repleto de atividade e com uma nova postura por parte das editoras. Quando antes era algo tão simples quanto os estúdios irem de férias numa altura específica, agora temos lançamentos faseados e espalhados pelo ano, o Verão incluído. Então, antes da "reentrada" de 2013, uma que nos levará para uma época Natalícia na qual a PlayStation 4 e a Xbox One serão lançadas, como se portou o mercado Japonês e quais foram as modas?
Vendas das consolas em Agosto no Japão:
- Nintendo 3DS XL - 189.138
- Nintendo 3DS - 75.665
- PlayStation 3 - 58.853
- PS Vita - 56.977
- Nintendo Wii U - 35.856
- PSP - 25.883
- Wii - 5343
- Xbox 360 - 983
No total foram vendidas 265.786 unidades de consolas Nintendo 3DS durante o mês de Agosto no Japão, somando o modelo normal com o XL. Tal é fácil perceber porquê quando olhamos para a tabela de jogos mais vendidos (mais sobre isso em seguida) e percebemos que semana após semana, a Nintendo 3DS colocou 5 a 6 jogos entre os 10 mais vendidos. Na segunda semana de vendas conseguiu mesmo colocar NOVE entre os dez mais vendidos. Para referência, o único jogo não 3DS entre os mais vendidos nessa semana foi Pikmin 3 para a Nintendo Wii U.
Isto resultou de uma combinação de poderosos títulos nos quais se contam Mario and Luigi, Phoenix Wright, One Piece: Romance Dawn, Luigi´s Mansion ou Youkai Watch. As maiores vendas registaram-se na primeira semana, com o lançamento de Disney Magic Castle: My Happy Life que foi sem dúvida o título sensação do mês.
Na PlayStation 3, Killer is Dead foi pálido enquanto JoJo's Bizarre Adventure: All Star Battle foi o lançamento mais estrondoso do mês, tendo vendido em apenas alguns dias 425.718. Final Fantasy XIV: A Realm Reborn também foi um lançamento acima da média tendo conseguido mais de 180.000 unidades na sua estreia.
Enquanto na Nintendo Wii U tivemos apenas Pikmin 3 a dar um ar da sua graça, na PlayStation Vita tivemos Ragnarok Odyssey Ace e Conception II que conseguiram gerar algum interesse, mas não o suficiente para que as vendas subissem acima das suas médias semanais.
Vendas de jogos em Agosto no Japão:
- [PS3] JoJo's Bizarre Adventure: All Star Battle (Namco Bandai. 08/29/13) - 425.718
- [3DS] Disney Magic Castle: My Happy Life (Namco Bandai. 08/01/13) - 198.775
- [PS3] Final Fantasy XIV: A Realm Reborn (Square Enix. 08/27/13) - 184.018
- [3DS] Mario & Luigi: Dream Team (Nintendo. 07/18/13) - 109.408
- [3DS] Phoenix Wright: Ace Attorney: Dual Destinies (Capcom. 07/25/13) - 58.882
Numa altura em que se debate o, aparente, estado lastimável do Tokyo Game Show, o Japão parece não estar interessado na nova geração e está completamente dedicado às plataformas atuais. Pelo menos é a ideia que fica ao olhar para os jogos mais vendidos. Jogos que dificilmente teriam este tipo de sucesso no Ocidente e que são um bom reflexo do panorama Japonês. Jogos invulgares, singulares e que por aqui seriam considerados como "estranhos".
Para muitos é desconfortante, para outros é refrescante. Não temos jogos de tiros (na primeira ou na terceira pessoa), não temos jogos de desporto nem sequer de corridas, temos jogos de luta, RPGs, jogos singulares e específicos que mostram bem como o Japão é único e diferente enquanto mercado dentro da indústria dos videojogos. Por outro lado podemos constatar que é a Namco Bandai, a Square Enix, a Nintendo e a Capcom que vendem mais jogos no Japão. As suspeitas do costume e que tão duramente são criticadas no Ocidente pela estagnação.
Muito centrado em si, talvez por ser auto-suficiente, temos aqui jogos como JoJo's Bizarre Adventure: All Star Battle do CyberConnect 2 e Namco Bandai para a PlayStation 3 que simplesmente é incapaz de ter este tipo de visibilidade e sucesso na América do Norte e Europa. Baseado numa manga e respetiva animação aclamada no Japão, este é um jogo que teve direito a um 40/40 na Famitsu. Comparativamente The Wonderful 101 teve direito a 39/40 na mesma edição. Por mera curiosidade, e já que falamos nisso e caso estejam interessados, Disney Magic Castle: My Happy Life recebeu 34/40 na Famitsu, enquanto Phoenix Wright: Ace Attorney: Dual Destinies ficou com um 37/40, e Mario and Luigi: Dream Team teve 38/40.
Talvez para tentar qualquer espécie de ligação entre a percepção do estado da indústria Japonesa e como difere a forma como o Ocidente olha para o Japão e o próprio para si mesmo, podemos olhar para análises da Famitsu e consequente recepção do público para perceber que temos efetivamente perspetivas diferentes. No caso do primeiro Ace Attorney para a Nintendo 3DS temos os analistas a elogiar novas funcionalidades como o Mood Matrix e os visuais do jogo.
A credibilidade da Famitsu é frágil mas parece ser uma boa indicadora do que o público Japonês está interessado e JoJo's Bizarre Adventure: All Star Battle recebeu a mais recente (discutível?) nota perfeita da revista. Ao ler os principais aspetos mencionados pelos quatro analistas ficamos com uma clara ideia que no Ocidente não encaramos de forma alguma as experiências com a mesma postura. O trabalho para recriar com fidelidade a animação é altamente elogiado e temos também um grande destaque para os visuais.