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Warriors: Legends of Troy

Desafio à vontade dos deuses.

Anos a fio a trabalhar na série Dinasty Warriors, a Tecmo koei Canada pensou no que seria a representação de um jogo do género "hack'n slash" capaz de se adaptar à audiência ocidental. As facetas dessa adaptação consistiriam necessariamente num cenário de guerra onde guerreiros se defrontariam até à última gota de sangue, empunhando armas, combatendo criaturas encorpadas e exércitos de soldados prestes dar lugar a um monte de corpos mutilados, onde despojos de guerra completariam o campo de batalha. Mas será que estas premissas, afastadas da fantasia de um Dinasty Warriors, serão suficientes para gerar uma onda de entusiasmo para os jogadores ocidentais?

Dinasty Warriors é uma série que alimenta algumas curiosidades, nomeadamente a grande aceitação no continente asiático, enquanto que no outro lado do planeta seduz desde há muito tempo um número fiel de fãs, que normalmente depositam a confiança em cada novo episódio. Mas para lá desse grupo que presta tributo ao jogo, poucos se convencem de um género que sobrevive pela peculiaridade e grandeza dos combates. Combinações de golpes, evocações, autênticas batalhas campais, são repetidas e acabam por sintetizar o grosso da experiência, daí que este Warriors: Legends of Troy não seja mais do que uma espécie de Dinasty Warriors camuflado, tendo como segura inspiração a mais conhecida obra de Homero, a Ilíada.

Em boa hora, diga-se. O argumento é o ponto mais forte do jogo e dada a sua densidade, por força das personagens que recupera, ligação à História e ao berço da Europa, a ligação ao plano mitológico e à forma como se encontra narrado, descrevendo boa parte dos importantes episódios que marcaram a longa guerra de Tróia, gera motivos suficientes para segurar o jogador até à batalha final, quando os gregos entraram em Tróia à custa de um imenso cavalo que era uma oferta para colocar um ponto final na guerra.

O conflito que haveria de derramar sangue por uma década deveu-se tão só à existência e cobiça de uma mulher, Helena, esposa de Menelaus, Rei espartano, e classificada, na época, como a mais bela do mundo. Vários foram os pretendentes, réis que ofereceram tributos ao pai de Helena, Tyndareus e que lhe dificultaram a decisão. Todavia, casaria com Menelaus sob juramento. Não estiveram juntos por muito tempo, porém. Páris, príncipe troiano, haveria de conhecer Helena e seduzido pela sua beleza convenceu-a a fugir com ele para Tróia. Partindo juntos, lançaram o mote para uma guerra que se estenderia por muitos anos e que contou com a participação de poderosos guerreiros gregos e troianos. Temos assim Ajax, Odysseus Aquiles e Patroklos do lado grego e Páris, Heitor, Penthesilea e Aeneas do lado troiano. É na pele destes guerreiros, autênticos semi-deuses motivados por uma imensa sede de vingança que o jogador irá mergulhar num longo conflito.

O primeiro capítulo do jogo reproduz precisamente o desembarque de mais de mil barcos repletos de soldados gregos preparados para atacar Tróia. Com Aquiles a liderar os primeiros momentos, abre-se o primeiro confronto ao longo da extensão da praia. As tropas espartanas e troianas colidem; espadas descem sobre corpos de soldados, os gritos de guerra ecoam por todo o lado. Escudos levantados bloqueiam lanças lançadas de longe e uma chuva de flechas disparadas do alto escurece momentaneamente o céu cinzento enquanto Aquiles alerta as suas tropas para nova bátega de afiadas setas, envolvendo-se no seu pesado escudo.

Ao contrário do que sucede com a série Dinasty Warriores, em Warriors: Legends of Troy o jogador irá controlar uma diferente personagem em cada capítulo, sendo que cada uma se afecta a um particular momento da narrativa. Isto levará o jogador a conhecer de perto os dois lados da batalha, percebendo melhor a mitologia que rodeia os protagonistas e o conflito que os opõe, até ao épico desfecho.

Cada capítulo começa por uma breve descrição cinematográfica daquilo que, em breve, a personagem que controlamos terá de defrontar. Apesar de por vezes faltar alguma conexão na ligação entre os pontos em argumentação, a representação dos heróis é convincente, especialmente na forma como estão modelados e compostos fisicamente, com aspetos diferenciados, alguns mais ágeis como Páris, outros autênticos quebra-ossos como sucede com Ajax. Os diálogos convencem e todo o ambiente histórico e cénico está devidamente preenchido, servindo para atestar e atribuir mais substrato ao argumento.

Porém, no terreno e já dentro do jogo, perde-se algum desse fulgor. Os guerreiros, apesar de vestidos a preceito, com túnicas e armas de maior envergadura que de imediato os distinguem dos demais soldados, acabam por ver diluída alguma da chama que conquistaram por força dos momentos cinematográficos. No entanto são os elementos mais poderosos e no limiar das suas forças e combinações de golpes mais severos deixam uma marca impiedosa.