White Night - Análise
A escuridão fica-te tão bem.
Imaginem uma espécie de Resident Evil sem machos e actores horríveis no qual os visuais são do mais minimalista possível. Talvez consigam desta forma ter uma pequena ideia do que White Night do OSome Studio é. Esta é uma recente aventura digital, editada pela Activision, na qual os sentidos serão testados e durante a qual vamos dar uns bons saltos. O melhor de tudo é que White Night não se faz grandioso. Tal como a revolução indie nos habituou, os pequenos estúdios sabem demonstrar com incrível talento todo o seu potencial. Não é de admirar, falamos de pessoas que foram elas jogadores dedicados enquanto mais novos, sabem o que os fazia vibrar num videojogo, e que agora aprenderam os meios para eles próprios criarem novos videojogos. É toda uma nova geração a gerar mais magia inspirados pelos trabalhos que conquistaram o mundo ao longo dos anos.
Poderíamos ter usado Resident Evil como menção, pela mansão e pelo facto de lutarmos constantemente pela sobrevivência, como poderia ter referido Alone in the Dark. Será muito provavelmente este segundo que mais nostalgia suscitará ao invadir a mente de muitos jogadores que vão agora entrar em White Night. Descrito pelos seus criadores como um Quebra-Cabeças Narrativo combinado com Survival Horror, White Night é uma brutal e cativante jornada pelo dança entre escuridão e luz, sobre como o nosso maior inimigo poderá potencialmente ser a nossa mente. O que não vemos não nos pode magoar mas o que imaginamos poderá ser devastador.
Para se vestir com um tom altamente singular, WN recorre a um tom preto e branco combinado com um ambiente noir. Acreditem que encaixa muito bem. Acreditando que poderia escapar à sua dura realidade, um detective privado decide afugentar as suas mágoas ao volante, até que um estranho acidente acontece. Acreditando piamente ter atropelado uma jovem rapariga, o detective tenta encontrar o corpo dela em vão, procurando depois refúgio numa estranha mansão que por coincidência estava mesmo ali à sua frente. Com uma perna ferida no acidente, não existe outra hipótese a não ser entrar na escuridão.
Da escuridão se fará luz e sem uma a outra não existe. O jogo de sombra e luz fica espantoso neste visual minimalista pois sentimos que a qualquer momento algo surgirá do escuro para se revelar incrivelmente assustador à luz. Afinal qual será mais perigoso: a luz ou a escuridão? No final dos anos 30, esta jornada por uma mansão abandonada não será propriamente o que estamos à espera e quando digo minimalista, refiro-me ao aparato visual que não precisa de fogos-de-artifício para iluminar o ecrã.
Nada disso. Basta um pequeno fósforo e temos uma das mais simples mecânicas de jogo. Foca-se no que realmente interessa e assegura-se que o jogador está sempre empenhado em descobrir mais. Como referido, o foco na narrativa é o grande alicerce desta experiência e enquanto tentamos sobreviver às estranhas presenças na mansão, teremos que resolver quebra-cabeças para descortinar todos os eventuais mistérios com os quais nos deparamos.
White Night é um jogo simples mas a sua simplicidade, aliada ao seu imenso estilo visual e cativante personalidade, é o seu principal trunfo. Aqui temos que explorar os cenários, procurar itens ou pistas que nos façam progredir para a passo e passo descobrir tudo o que se esconde no escuro. As mecânicas de jogo assentam nesta exploração/resolução de quebra-cabeças durante os quais um fósforo poderá fazer uma diferença da noite para o dia. É que faz mesmo.
Com uma história tão envolvente, embrulhada em mistério e numa voz típica de P.I. quase nos faz sentir o cheiro a cigarro e a drama. É uma das partes mais importantes do seu charme, a forma como nos agarra e nos prega uns valentes sustos. Toda esta sensação de sermos inofensivos e que está sempre algo para nos amedrontar é incontornável, desconfortante e simplesmente bem-vinda. O foco na narrativa em parceria com os visuais num produto noir criam mesmo um produto que causará impacto, apesar de poder testar a paciência de alguns.
Facilmente percebemos que o OSome desejou acima de tudo contar uma narrativa interactiva que nos manterá colados ao sofá à espera dos próximos acontecimentos. Existem momentos melhores e outros nem tanto assim, a vontade de o voltar a jogar é reduzida e o impacto da experiência perde muito quando jogamos nos modos mais fáceis (o equilíbrio entre recursos como fósforos e confrontos pode ser complicado de digerir para alguns). No entanto, quando o jogamos pela primeira vez, quando nos apercebemos da importância de um simples fósforo e como se torna numa interessante mecânica de jogo, sentimos que tudo funciona como deveria.
Será preciso regressar a 2009 e a MadWorld do Platinum Games para encontrarmos um outro jogo com um estilo visual que se enquadra com o deste White Night. Cria um estilo visual bastante peculiar que dificilmente será esquecido pelos jogadores que vão aderir a esta experiência. Além dos visuais, a componente sonora é fantástica. Trabalha na perfeição para elevar o jogo a um novo patamar onde os arrepios na espinha ficam tão mais fáceis que se torna...assustador.
A forma como o preto e branco combina com o ambiente noir, a forma como foram elaborados os cenários com a respectiva decoração cuidadosamente planeada, existe muito que demonstra atenção e cuidado em White Night. Basta um ângulo de câmara bem posicionado, um quadro que parece olhar para nós de forma desconfortável e cuidado com o que vemos consoante as sombras dançam com a luz, o OSome soube o que estava a fazer e isso aprimora o nosso desfrutar do jogo.
Em plena luz do dia, com mais pessoas ao lado, bastou colocar um headset para me isolar do mundo e ficar completamente rendido ao trabalho sonoro executado pelo estúdio. A voz do personagem é competente o suficiente para criar um certo envolvimento com o jogador e White Night prova que não precisamos de grandiosidade cinematográfica para contar uma narrativa. Basta um esquema de controlo simples, um toque de singularidade e um sons implementados de forma inteligente para termos um produto que cativa.
White Night é a nível pessoal uma boa surpresa desta nova geração de consolas. É uma experiência verdadeiramente singular que pode até passar ao lado de muitos mas os poucos que entrarem nesta mansão vão ficar rendidos. É uma excelente oportunidade para conhecer produtos diferentes cuja criatividade artística anda de mãos dadas com o gameplay. O desejo de contar uma história e pelo caminho apelar aos sentidos com simplicidade visual e nos controlos é de aplaudir. Pena mesmo que não tenha mais para oferecer após a primeira jornada e ainda assim não é, infelizmente, um produto que possa recomendar a todos.