Wild Hearts - Caçadas em construção
Precisava de mais tempo.
Quando um jogo se apresenta como alternativa a outro, a única forma que tem de convencer é de ser melhor na maioria das coisas ou, pelo menos, oferecer uma abordagem com frescura.
Wild Hearts surge como a alternativa da Omega Force / Koei Tecmo ao popular Monster Hunter. O jogo da Capcom tem dominado o género há mais de uma década, apesar de já terem surgido alternativas ao longo do tempo.
Não é a primeira vez que a Omega Force / Koei Tecmo tentam dar o seu toque especial à receita de Monster Hunter. Já o tentaram em 2013 com Toukiden: Age of Demons. Voltaram a tentar novamente com Toukiden 2, em 2017.
Jogabilidade rápida e furiosa
Na jogabilidade, Wild Hearts é uma sequela espiritual de Toukiden. Comparativamente a Monster Hunter, é tudo mais rápido. A jogabilidade tem um ritmo de hack and slash, requer que tenhas reflexos aguçados, e uma compreensão do sistema de combos.
O leque de armas é suficiente. Não há tantas como em Monster Hunter, mas cada uma é única. Há armas lentas e poderosas, como o Maul, armas que te dão tremenda agilidade, como a Claw Blade, e armas de habilidade como a Bladed Wagasa (um guarda-chuva com lâminas e que te deixa fazer parry).
É impossível falar da jogabilidade de Wild Hearts sem mencionar os Karakuri. É aqui que o jogo da Omega Force se distingue mais comparativamente a Monster Hunter. Os Karakuri são invocações de estruturas de madeiras que podes fazer a meio dos combates e não só.
O que são os Karakuri e para que servem?
Alguns dos Karakuri que podes invocar incluem caixas de madeira para fazeres ataques de cima para baixo, trampolins que te permitem desviar rapidamente ou fazer uma investida contra as criaturas, e mais adiante, bombas, foguetes de atordoar, e um martelo gigante.
À medida que avanças na história e encontras Kemonos mais desafiantes, usar Karakuri em combate é praticamente obrigatório. Os Kemono são hiperagressivos, têm ataques rapidíssimos, e as aberturas para causar dano não são assim tantas.
Os Karakuri são uma ideia interessante, mas com falhas. Primeiro, gerir a economia do material que necessitas para os invocar é frustrante. É fácil ficar rapidamente sem madeira e isso estraga o ritmo dos confrontos. Aconteceu-me várias vezes ter de andar a fugir do monstro e a tentar arranjar material ali à volta.
Em segundo, os Karakuri requerem um timing preciso e a sua invocação requer combinações de quatro ou mais botões (como LB + B, Y, B, por exemplo). É fácil falhar a invocação, porque requer que estejas imóvel. Basta deslocares-te um pouco para o lado e a estrutura fica mal feita (e não consegues fazer o Karakuri que querias).
Portanto, apesar da jogabilidade e do conceito dos Karakuri serem o melhor que Wild Hearts tem para oferecer, o equilíbrio não está bem afinado. Esta falta de polimento nota-se noutras áreas do jogo, sobretudo no desempenho e qualidade gráfica.
O desempenho continua fraco, apesar de múltiplas atualizações
Já não sei quantas vezes é que o jogo foi atualizado desde o lançamento. O que importa é que a versão para PC continua com um desempenho miserável. Não importa o hardware (testei em dois PCs diferentes) nem as configurações gráficas que escolhes. O resultado é o mesmo: framerate instável e stutters recorrentes.
Estes problemas afetam gravemente a jogabilidade e a satisfação que retiras do jogo. Um jogo de ritmo rápido como este tem que ter um desempenho estável. A falta de optimização é ainda mais intolerável pesando a qualidade gráfica. Wild Hearts não é um jogo de ponta, pelo contrário.
Há pop-ups regulares de texturas no horizonte próximo, texturas de baixa qualidade, ligações desajeitadas entre materiais, animações que furam as texturas e até problemas de física no que toca a colisões. O netcode também não está livre de problemas, ontem o jogo encerrou depois da minha personagem ficar bloqueada (e a câmara ficou louca). Perdi as recompensas de uma caçada que estava mesmo no final. Pura frustração.
Um jogo com potencial, mas que precisa de ajustes
É pena, porque a arte e o conceito visual dos Kemono estão fantásticos. Não há uma variedade tão grande de criaturas como em Monster Hunter, mas a quantidade é aceitável para uma nova propriedade intelectual. Tal como as armas, todas as criaturas contrastam uma das outras, não houve reciclagem.
A história não conseguiu captar a minha atenção. O problema não é tanto a história, mas o aborrecido diálogo das personagens. Cheguei a um momento em que comecei a passar tudo à frente. É narrativa típica de um herói que chegou para salvar o dia, neste caso, a população de Minato (que é o hub central do jogo). Para o tipo de jogo que é, serve. Mas não esperes algo transcendente.
No resto, Wild Hearts anda muito próximo de Monster Hunter. Partes em caçadas de monstros, recolhes os seus materiais, fazes upgrade a armas e armaduras, e depois lutas contra monstros mais fortes. Podes jogar sozinho ou em modo cooperativo, mas recomendo especialmente o último modo. Os Kemono são tão agressivos e a ajuda extra faz com que não sejas o seu único foco de atenção.
Falta dizer que os Karakuri também têm aplicação fora do combate. Wild Hearts está dividido em cinco áreas e em cada uma podes construir estruturas utilitárias onde quiseres. Podes montar uma tenda no ponto mais alto e colocar Karakuris de deslocação nos sítios que forem mais convenientes para ti
Conclusão
Apesar de trazer uma ideia com potencial para o género, ultimamente, Wild Hearts não é uma forte alternativa a Monster Hunter. Quem está saturado do jogo da Capcom até lhe pode achar alguma piada por ser diferente em algumas coisas, no entanto, em última instância são experiências parecidas. A introdução dos Karakuri em combate tem pontos a favor e contra. É uma ferramenta extra, mas também complica e atrapalha demasiado no seu estado atual. Fora isto, existem os referidos problemas de desempenho que pioram substancialmente a experiência.
Prós: | Contras: |
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