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Wolfenstein 2: The New Colossus - Análise

Singleplayer glorificado.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Ousado, violento, brilhante e um dos melhores FPS singleplayer que encontrarás nesta geração.

Depois de uma brilhante primeira parte, a Machine Games está de volta com Wolfenstein 2: The New Colossus, uma irreverente afirmação que os jogos focados na campanha conseguem envergar grande personalidade. Numa altura em que nos debatemos sobre a tendência da indústria (singleplayer versus multiplayer), a Bethesda e a Machine Games procuram relembrar que os jogos também são formas de expressão, formas de comunicar a criatividade. Por vezes, é preciso fazê-lo numa experiência onde o jogo coloca todo o seu foco numa só pessoa. Enquanto muitos jogos tentam fazer muitas coisas, pelo meio tropeçam e fazem muitas delas mal, a Machine Games procura focar-se no que sabe e no que gosta de fazer: jogos de acção intensa e brutal, com muita personalidade e um universo que dá gosto conhecer.

Wolfenstein 2: The New Colossus é facilmente um dos jogos mais divertidos, mais excêntricos e com maior personalidade que encontrarás no género dos jogos de acção na primeira pessoa. O seu carisma é tanto que rapidamente ficarás a pensar que estás perante uma produção de Guy Ritchie. Uma espécie de sequela para o filme Sacanas Sem Lei, algo nas veias de um Snatch - Porcos e Diamantes. Cutscenes repletas de momentos incríveis que te deixam boquiaberto, uma direcção energética e imparável, personagens caricatos, diálogos loucos e momentos que te deixam a pensar "Não, não acredito", é o que podes esperar deste Wolfenstein 2. É um dos maiores trunfos na categoria das campanhas narrativas para um jogador.

Tudo isto porque a Machine Games te transporta para os anos 60 numa realidade alternativa, verdadeiramente louca diga-se. Aqui, os Nazis conquistaram os Estados Unidos da América e a sua avançada tecnologia até permitiu a colonização da Lua. A avançada maquinaria, as naves gigantes nos céus e as armas especiais são exemplos do poder Alemão. Este é o cenário de fundo para uma narrativa envolvente, adulta, intensa e chocante que vai além do mero confronto entre bem e mal. As personagens principais têm algo a dizer e ao longo de Wolfenstein 2, a Machine Games frequentemente joga com o panorama social actual em países como os EUA. Não deixa de ser interessante o momento em que o jogo chega às lojas. Wolfenstein 2 não tem problemas em abordar questões raciais ou políticos na sua brilhante narrativa e em satirizar muitos estigmas ou meias verdades que vão sendo escondidas na actual sociedade.

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"Esta é inegavelmente uma das melhores campanhas jamais vistas num FPS."

Neste Wolfenstein 2 voltas a controlar Terror Billy, a principal face da Resistência que quer expulsar os Nazis da América do Norte. A narrativa centra-se em torno de Billy e será ele que te vai mostrar que envergar duas armas ao mesmo tempo tem muito estilo. Billy tem ao seu dispor armas avançadas, contextualizadas na narrativa deste universo alternativo, pode abater de forma furtiva e incrivelmente violenta os seus adversários, permitindo alternar entre confrontos directos e abates furtivos. Seja a forma escolhida, o jogo exige que sejas cauteloso na forma como abordas as situações. Wolfenstein 2 castiga-te duramente se não agires com cautela, o que lhe confere um ritmo muito próprio. A Machine Games procurou criar uma experiência diferente nos FPS habituais e consegue-o através de elementos como a regeneração limitada da tua saúde, na necessidade de apanhar armadura e num cuidadoso equilíbrio entre o poder das duas partes em conflito.

Sendo um FPS linear, isso não significa que Wolfenstein 2 é um corredor por onde corres a disparar. A Machine Games sabe que a estrutura simples apresentada no género há uma década atrás não mais resulta, aplicando uma estrutura mais ampla aos níveis e uma surpreendente verticalidade nos cenários. A aposta em alguns momentos de gameplay diferentes do normal, Billy numa cadeira de rodas é um bom exemplo disso, também é um bom exemplo das formas como a Machine Games explora o género. Ao longo dos níveis encontras espaços que podes abordar através de diferentes pontos, terás espaços com vários pisos para percorrer e procurar uma rota melhor para o objectivo é importante em alguns níveis. Acima de tudo, ficarás com a sensação que a Machine Games tentou o melhor que sabia contornar as limitações inerentes ao género, sem a momento algum se querer afastar dele. A prova disso são os perks, melhorias de armas e coleccionáveis que estão espalhados pelos níveis, incentivando a sua exploração.

Wolfenstein 2 não é um jogo de correr e disparar, pelo contrário. Billy está a morrer e terás de gerir com cuidado a sua saúde e a protecção (50/200). Isto força-te a explorar os níveis de forma furtiva pois quando soam o alarme e correm todos para cima de ti, nem as armas mais rápidas te salvam. Wolfenstein 2 castiga-te facilmente e obriga-te a entrar numa espécie de tentativa e erro, procurando o melhor caminho e como não ser detectado. Para muitos poderá tornar-se aborrecido, mas para outros poderá ser um delicioso desafio. Pelo meio poderás desbloquear Perks, melhorias para Billy ganhas automaticamente ao executar acções específicas, que te vão ajudando a enfrentar os Nazis. Wolfenstein 2 tem um ritmo frenético em grande parte dos momentos, mas terás de ser furtivo em outros tantos. Este equilíbrio entre as formas de interpretar o jogo é algo surpreendente e bem implementado, ajudando a tornar Wolfenstein 2 mais desafiante e interessante.

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"Wolfenstein 2 tenta combater a linearidade com mecânicas inteligentes e uma estrutura de níveis mais ampla."

A Machine Games apresentou uma visão muito própria nesta sua realidade alternativa. Os Nazis conquistaram os Estados Unidos da América com a sua tecnologia avançada, até robôs no seu exército têm, colonizaram a Lua e, tal como prometido em Wolfenstein: The New Order, chegaram a Vénus. Dominam o mundo com as suas enormes bases flutuantes e são donos de bombas atómicas. Estes anos 60 são bem diferentes do que conheces e representam um universo alternativo muito peculiar e interessante. Além da estética singular, que combina o real com a fantasia imaginada pela Machine Games, tens uma qualidade gráfica que consegue impressionar, mas tem as suas falhas. A iluminação é o principal triunfo de um motor de jogo altamente competente e com capacidade para espantar, mas nem sempre.

Algo que facilmente sentirás enquanto jogas Wolfenstein 2 é que a Machine Games se esforçou para tratar todos os aspectos do jogo com igual cuidado. Seja na forma como realizou as cutscenes, como estruturou o mundo de jogo e interpreta o clássico gameplay FPS linear ou até a forma como adaptou o seu motor gráfico às diferentes plataformas. Isso significa que também prestou imensa atenção à banda sonora e como combina com a experiência de jogo. Mick Gordon está novamente de parabéns, o compositor de obras como DOOM de 2016 ou Killer Instinct de 2013 volta a mostrar o seu talento. A banda sonora em Wolfenstein 2 funciona em sintonia com a experiência e seja para reforçar o humor, dar intensidade à acção ou injectar mais adrenalina no jogador, resulta na perfeição.

Wolfenstein 2 pode seguir na direcção oposta à da restante indústria, mas é um energético exemplo que comprova que as experiências para um jogador, focadas numa forte narrativa e inteligente gameplay, serão sempre necessárias. A Machine Games apresenta um trabalho exemplar que consegue rivalizar com os melhores no que diz respeito à direcção das suas cutscenes e tratamento de personagens. Wolfenstein 2: The New Colossus é excêntrico, é violento, é irreverente e altamente oportuno nas alfinetadas que espeta na actual sociedade mundial (mesmo quando o faz através de uma realidade alternativa nos anos 60). É um jogo que facilmente ficará na memória dos jogadores que o jogarem, mesmo que depois de terminada a campanha não existam grandes incentivos para voltar. Mas enquanto não a terminares, Wolfenstein 2 é uma injecção de adrenalina imparável.

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