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WRC 4 - Análise

À procura da curva perfeita.

2013 foi uma temporada marcada por mudanças no maior campeonato do mundo de ralis. Pondo fim a uma era marcada por um domínio avassalador de Sébastien Loeb, um outro Sébastien - Ogier -, sagrou-se campeão do mundo, sucedendo ao seu compatriota, que mesmo retirado da época por inteiro, ainda participou nalgumas provas, emprestando mais alguma emoção a um campeonato que da primeira à última prova não deixou de estar controlado pelo piloto da Volkswagen.

2014 trará algumas novidades. Loeb não voltará a participar esporadicamente e a coreana Hyundai regressa à categoria máxima dos ralis, esperando obter bons resultados. E enquanto as máquinas já testam para a prova inaugural em Monte Carlo, os fãs do volante virtual deste desporto automóvel voltam a ter à sua disposição o WRC 4: FIA World Rally Championship, produzido pela Bigben e editado novamente pelos italianos da Milestone.

Ogier eclipsou os rivais durante 2013, vencendo 9 das 13 provas, incluíndo o Rali de Portugal.

Naquela que é a quarta edição anual sucessiva lançada pela Milestone, poder-se-ia pensar que nesta altura WRC 4 fosse já uma franquia consolidada e talvez a referência para o género exclusivos da condução de automóveis nos ralis. Infelizmente, isso ainda não sucede. Aliás, cada vez me parece mais que a Milestone consente uma certa estagnação, talvez por força dos orçamentos limitados que a impedem de lançar um jogo mais trabalhado e desenvolvido, ou então porque o mercado para este tipo de jogos não se afigura tão solícito como há uns anos. Inclino-me para a primeira porque ainda existe mercado. Basta que os jogos sejam bons. Nesta fase do campeonato as melhores alternativas aos os jogos de ralis em consolas como Dirt, passam por títulos que não oferecem um conteúdo exclusivo da modalidade. Assim, em Gran Turismo 5 ainda podem encontrar uma reprodução das provas muito assertiva, enquanto que em Forza Horizon, o pack rali é o que agrega o melhor de clássicos como Sega Rally, Colin McRae Rally, Richard Burns Rally e o WRC da Evolution Studios mas com uma produção à altura da geração de consolas que findou. WRC 4 ainda parece estar nos seus primórdios.

É verdade que os modelos automóveis estão mais bonitos, detalhados e amolgam-se com um grau de realismo aceitável. Mas a sensação de condução e o prazer de encontrar uma condução tão realista quanto possível e estimulante é uma miragem e uma praia à qual nunca conseguimos chegar, nem mesmo desligando as assistências na tentativa de procurar uma jogabilidade mais crua. É na ausência de uma física credível que WRC deita tudo a perder. Os carros mais parecem caixas de cartão, sem peso; manobráveis como se fossem naves espaciais. Nos ganchos e curvas mais estreitas ainda se encontra ali um deslizar algo genuíno quando accionamos o travão de mão, mas as sacudidelas de traseira são tão constantes que eu ainda não sei bem que tipo de jogabilidade é esta. Depois há os capotanços que sempre acabam numa posição que permitem ao carro regressar à sua posição de partida e prosseguir como se nada tivesse acontecido.

Em prova até ao fim da tarde.

O desfasamento enorme entre a paisagem ao redor dos trilhos e o veículo é enorme. As texturas são fracas e os troços de cada prova do campeonato do mundo mais parecem uma reciclagem de uma mesma prova especial. Aliás, WRC 4 não tem aspecto de jogo da geração passada e mais parece uma produção de chegada às plataformas para que se encontra disponível. Apesar de se verificar a presença do público locais que os fãs da modalidade irão reconhecer, estamos diante de um jogo muito pobre visualmente, fruto talvez de um modesto orçamento. O aspecto positivo mais saliente é a inclusão de diferentes condições de luz natural, o que dá alguma elegância às especiais. Assim, tanto podem cumprir uma especial sob um sol alto e radioso como percorrer uma secção ao fim de tarde, ou ainda sobre um dia chuvoso com o céu atestado de nuvens.

Há diferenças entre conduzir no asfalto e na terra, assim como nas variações de asfalto com terra e asfalto com neve, mas são tão insignificantes e pouco realistas, nunca justificando um domínio ou uma dificuldade alta como havia em Richard Burns Rally (ainda que neste caso o mínimo erro não fosse tolerado) e que implicava treino e esforço até se dominar o carro e atingir um grau de perfeição amplamente satisfatório.

Troços mais apertados.

No que respeita aos modos de jogo, a Bigben optou por dar um novo arranjo aos modos já existentes. Para começar, os jogadores interessados num desafio imediato tendo por base os carros mais avançados podem partir para as corridas rápidas ou provas especiais de alguma prova do campeonato do mundo. O modo temporada é o que permite ao jogador progredir dentro das diversas categorias, começando por uma estreia a título de "wildcard", para depois assinar contrato com uma equipa que o leva a cumprir a temporada completa dentro de uma das várias categorias do WRC, podendo ir dos antigos carros de produção até aos veículos mais potentes do campeonato do mundo. No entanto, não há aqui grandes novidades a salientar. Dentro da motorhome o jogador pode gerir os seus contactos com a equipa, partir para as provas e preparar o carro. No final, terá que disputar o campeonato do mundo por inteiro, participando nas trezes provas que fizeram parte da temporada de 2013.

Quanto às opções para vários jogadores, estas dividem-se entre o modo local e em rede. No primeiro caso temos o sempre indicado, mas já amplamente conhecido hot-seat. Os jogadores disputam à vez a mesma especial, enquanto que na ligação à rede é possível partilhar a mesma especial com mais adversários, numa luta pela liderança que envolve a reprodução dos adversários sob a forma de carros fantasma. Só que aqui as opções não são diferentes do que já experimentamos em edições anteriores.

Para uma série de produção anual, nem são as opções e os mesmos modos de jogo que limitam o alcance deste WRC 4. Se pelo menos a jogabilidade fosse um ponto sólido e uma das melhores para o género, ainda se tolerava o grafismo mais pobre na comparação com outras propostas existentes. Os sinais de evolução são pouco significativos e de um modo geral WRC 4 é uma experiência secundária dentro de um género que não conhece muitas alternativas mas que são seguramente melhores. Os jogadores mais casuais poderão encontrar alguma satisfação, mas para os fãs devotos dos clássicos e do campeonato do mundo de ralis, ainda não é desta que a Milestone nos entrega um jogo à altura da licença WRC.

6 / 10

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