WWE Legends of Wrestlemania
Lendas, mas com bastantes esteróides!
Desculpem qualquer coisa, mas não posso deixar de começar esta análise sem fazer um paralelo com um filme que fui ver há poucas semanas à sala de cinema e que tem uns pontos de conexão diante desta incursão nostálgica da “wrestlemania”. O filme chama-se The Wrestler e com ele Mickey Rourke, no papel de Randy “The Ram”, recuperou-se não só enquanto pessoa como também alcançou um papel de relevo que lhe valeu uma justíssima nomeação para os óscares. E não me parece que o papel de melhor actor ficaria perdido se lhe fosse entregue. Randy “The Ram” está numa fase descendente da carreira enquanto “wrestler”. Por força da idade, da menor aptidão e à beira de um esgotamento físico, trocou os grandes palcos e as multidões de apoiantes por umas lutas amadoras em espaços exíguos, que não lhe rendem no fim de uma noite suada e fracturante pouco mais que uma centena de “bucks” na palma da mão. O filme desenvolve-se como um confronto, entre: um exercício de memórias sobre parte do passado que lhe deu proveito e o presente que o amedronta como pago por ter secundarizado a relação com a filha embora tenha a possibilidade de formar uma família e “reformar-se” de vez. A tempo de tentar uma conciliação, acaba por recolher à sua verdadeira aptidão, aproximando-se da família de adeptos e reagenda um combate que há vinte anos e diante do seu mais notável rival levara ao delírio a audiência.
Debatido o final apoteótico do filme a prevalência da recuperação dos combates de outros tempos dentro do “wrestling” está assegurada com WWE Legends of Wrestlemania que segue de perto os lutadores e os grandes combates que marcaram a década de oitenta. Tal como no filme, espera-se que o público volte a rejubilar de euforia por ver os grandes artistas, de um período específico da modalidade, espalharem o sentido de nostalgia e de certo modo reescreverem a história. Mas conseguirá destacar-se dos demais jogos da série e apontar novas soluções para não cair num mero reducionismo nostálgico?
A jogabilidade foi objecto de atenção por parte dos produtores tornando-se mais acessível e menos complexa sobretudo pelo recurso aos “quick time events” que jogam quase sempre a favor de uma reviravolta se desenvolvidos com sucesso. Embora seja uma novidade aprazível de início acaba por se tornar repetitiva, com manifesta escassez de soluções apelativas, ao ponto de dificultar combates distintos e disputados com recurso a soluções diversas. Os botões utilizados para as diversas acções foram reconfigurados a um mínimo e há que contar com períodos específicos de tempo e combinações para aplicar no adversário um golpe final, causador de mais dano. É permitido saltar para fora do palco e ainda fazer uso de bancos ou pedaços de escadas para desancar nas costas do adversário. O espectáculo visual está assegurado, com comentários a preceito.
A festa da luta livre
Mas aquele que é o maior reclamo do jogo e desenvolve um sentido de maior satisfação é mesmo o conjunto, largo grupo, de atletas oficiais devidamente esculpidos, numa fasquia que a Yuke’s nos tem vindo a habituar, pelo menos no que toca à modelização dos lutadores. Isso quer dizer que vão encontrar não só o Hulk Hogan, com toda a “rockada” à entrada do ringue, mas também André the Giant, The Rock, Shawn Michaels, Steve Austin, Undertaker, Yokozuna etc. As comparações com os vídeos de alguns combates permitem perceber que há um claro exagero na modelização dos atletas, cheios de esteróides e com o efeito Hulk dos “comics”.
Sobre o ringue não vão encontrar apenas os lutadores a batalhar pela defesa do ceptro. Com eles, e tendo directa intervenção no desenrolar dos combates, podendo ser atingidos pela rudeza dos golpes, estão os managers dos atletas que até exibem fardas alternativas. Esta auréola em torno dos pontos que perpetuaram o livro de recordações da wrestlemania culmina no revisionamento dos preparativos e antecedentes dos combates mais memoráveis, sob a forma de videoclips, com a habitual troca de galhardetes, escalando o dramatismo envolvente.
Prontos para reescrever a história ou reeditar intensos combates estão mais de quarenta lutadores, expondo uma variedade de movimentos que se desenrola de forma eficaz e com boa apresentação gráfica No que respeita aos modos de combate a nostalgia e enquadramento histórico permite três possibilidades de relevo diante do Wrestlemania Tour. A tríade passa por reviver as peripécias de um combate saudoso, recontar fazendo uso da personagem derrotada por forma a alterar os livros ou redefinir o combate mediante uma alteração apreciável das regras. Para sair com sucesso no fim de um combate deverá ser alcançada uma série de objectivos com diferentes pontuações. Só assim os melhores troféus poderão figurar na sala dourada. Com diferentes objectivos em cima da mesa a diversidade toma conta do desenrolar dos combates, tornando-os mais prolongados apesar dos movimentos simples e algo repetitivos ao fim de algum tempo.
A adição do modo Legend Killer possibilita que a personagem que tenhamos desenvolvido a partir do editor, ou importada a partir do jogo WWE Smackdown Vs Raw 2009, entre na luta com sucessivos grupos de wrestlers. Se desde o começo a ideia gera algum entusiasmo ao fim de algum tempo toca fundo pela monotonia e exigência ímpar, na medida em que não é permitido gravar os combates e mesmo os “rounds” atribuídos devem ser vencidos consecutivamente.
Desde a apreciável lista de opções de combate para as lutas rápidas até ao editor de personagem e componente para jogos em rede, Legends of Wrestlemania possibilita um habitual “pack” de opções perdendo, porém, diante de um certo facilitismo e repetição nos movimentos a executar sobre o ringue. Justificando maior visibilidade pelos combates que permitem reviver personagens engolidas pelos livros do desporto e muitos momentos empolgantes que teceram, esta é uma obra capaz de gerar simpatia junto dos fãs embora não tenha pujança para lá da normalidade.