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Yesterday - Antevisão

Dedicado aos que vivem ou viveram nas ruas.

Os jogos de aventura estão vivos e bem de saúde. Hoje a denominação aventura é utilizada de forma abrangente nos videojogos, mas houve tempos em que o termo "adventure game" significava um tipo de jogo bastante específico, centrado nas componentes exploração, narrativa e resolução de puzzles. É um género algo particular que não agrada a todos, mas continua a ter uma imensidão de fãs principalmente dentro dos jogadores de PC. A Pendulo Studios, estúdio Espanhol responsável por este novíssimo Yesterday é um nome respeitado no universo dos jogos de aventura, com títulos bastante conhecidos de onde se destaca a série Runaway ou o último sucesso The Next Big Thing.

Apesar de ser uma versão ainda incompleta, bastam alguns minutos com Yesterday para perceber que se afasta do tom cómico tradicional dos jogos do estúdio, para um tema e um tom mais negros. A sessão introdutória apresenta um pequeno vídeo confuso, que mostra uma parede cheia de inscrições em sangue, várias fotografias coladas, e ainda referências a coisas distintas como a inquisição, o Vaticano, o satanismo, a alquimia e um nome curioso, Dr. Yesterday. Esta introdução acaba com um gigante pentagrama invertido no chão, e alguns diálogos que nos apresentam as principais personagens do jogo.

O nosso primeiro protagonista jogável é Henry White, um jovem membro de uma organização de caridade chamada Children of Don Quixote. Este grupo dedica-se a uma causa deveras nobre, encontrar e ajudar pessoas que vivem nas ruas de Nova Iorque, basicamente procurando oferecer-lhes alimento, abrigo e até documentos de identificação. É um tema com o qual conseguimos simpatizar imediatamente, e o quadro misterioso e sombrio com que o jogo o apresenta permite suscitar curiosidade ao mesmo tempo que nos faz parar para pensar nos perigos a que estes seres humanos estão sujeitos dia após dia, noite após noite.

O gameplay e interface são bastante "standard", movemo-nos ao estilo point and click e temos os vários objetos que vamos apanhando disponíveis na base do ecrã. Como sempre podemos investigar e/ou interagir com os vários pontos de interesse nos ambientes, e existe um botão que rapidamente revela quais os locais relevantes em cada cenário. Um aspeto que achei curioso e sinceramente inteligente foi o sistema de dica ("Hint"), sempre que tivermos "perdidos" podemos carregar numa pequena lâmpada no canto inferior esquerdo, e o jogo oferece uma pequena dica sobre o que fazer de seguida. Claro que isto seria algo estranho se pudesse ser repetido infinitamente até ao final do jogo, e por isso os designers optaram por limitar esta opção temporalmente, ou seja, cada vez que usamos a lâmpada ela entra numa espécie de "cooldown" e só pode ser utilizada novamente depois de recarregar. Se quiseres saber o que fazer de seguida espera, ou então tenta algo que tenha lógica por ti mesmo. Esta é a mensagem que o sistema transmite, e é por isso que o considerei inteligente.

"O que fazer com uma chave de fendas, um telemóvel, um x-ato, uma action figure, um teclado, uma lata de refrigerante, uma mala e um rolo de fita-cola?"

Voltando aos eventos da aventura, o propósito do nosso protagonista assume uma emergência particular devido a recentes desaparecimentos de mendigos, que mais tarde são encontrados mortos, queimados, e com uma estranha cicatriz em forma de Y na palma da mão. Esta urgência leva Henry ao primeiro cenário desta versão, uma estação de metro abandonada onde acredita que algumas destas pessoas encontram abrigo. Não passa muito tempo até termos uma maior ideia da personalidade de Henry e da complexidade da tarefa em mãos, conforme vamos investigando os objetos e o ambiente somos presenteados por momentos de sarcasmo e humor negro à medida que testamos as várias possibilidades com as peças que apanhamos, e acreditem, o jogo deixa bastante espaço para possibilidades.

O que fazer com uma chave de fendas, um telemóvel, um x-ato, uma action figure, um teclado, uma lata de refrigerante, uma mala e um rolo de fita-cola? Por mais ridícula que seja a possibilidade, estes jogos fazem-nos testar qualquer combinação, nem que seja só para ouvir o jogo a gozar literalmente connosco.

Eventualmente Henry descobre o grupo que vive na estação de metro, e para nossa surpresa é feito refém e levado perante o seu líder. Claro que não é propriamente um grupo criminoso organizado, é mais uma ceita constituída por um lunático, o seu escravo boris, e os seus seguidores, um grupo de manequins de plástico (sim, manequins) para o qual o líder se dirige freneticamente num tom de verdadeiro ditador. Não vou entrar em pormenores, mas entre outras coisas, durante a audiência é-nos pedido para responder a algumas questões com escolhas múltiplas, e até para resolvermos umas jogadas simples de xadrez para provar a inteligência de Henry.

Como já referi, em termos estéticos Yesterday segue a linha dos jogos anteriores da Pendulo Studios, com uma mistura de cenários coloridos desenhados à mão e personagens em estilo cel shading, ou toon shading se preferirem. Existe sempre muito detalhe nos cenários, numa atmosfera que mistura o grotesco e o animado de forma muito equilibrada. As "cutscenes" funcionam num estilo tipo banda desenhada, com as personagens a surgir em pequenos quadradinhos com os diálogos dentro dos balões característicos.

Infelizmente esta versão ainda não continha as representações das vozes, e vou dizer já em avanço, esta particularidade é absolutamente fundamental para este tipo de jogos. Existem casos de jogos de aventura completamente arruinados por causa deste aspeto, assim como existem outros em que este particular faz a aventura brilhar, the Book of Unwritten Tales é um bom exemplo disso.

Como não passei do primeiro ato (setup) digamos, a narrativa não se desenvolveu muito para lá da apresentação das personagens, e por isso não posso tecer muitas considerações nesta matéria. Acabamos por controlar um segundo protagonista, o grandalhão Cooper, apostado em resgatar o amigo e companheiro Henry das mãos da ceita dos manequins. É curioso porque Cooper parece recorrer à sua força física para a resolução dos puzzles de navegação, ao contrário de Henry que se apoia na sua inteligência, será curioso ver como se desenvolve esta relação entre as características personagem e o progresso de gameplay durante toda a aventura.

Yesterday é um jogo de aventura tradicional, mas com uma porta aberta para o que pode muito bem ser o futuro do género. O sistema de Dica permite uma experiência completamente livre da frustração típica deste género, e centrar a atenção na componente narrativa e estética. Isto aumenta a acessibilidade do jogo e goste-se ou não estes jogos têm lentamente caminhado nesta direção. Gostei da apresentação do jogo e do seu visual particular, assim como da atmosfera negra aliada ao tema mais sério da aventura, cá estaremos quando as personagens ganharem voz.

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