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Yooka-Laylee - Análise

Um regresso aos anos 90.

A Playtonic consegue uma homenagem doce e interessante aos jogos de plataformas 3D dos anos 90, mas não os evolui de forma significativa.

Foi em Maio de 2015 que um grupo de ex-funcionários da Rare decidiu levar em frente o seu grande projecto, a sua grande paixão. Numa actualidade em que muitos adeptos da Rare Studios adorariam ver o estúdio regressar ao passado, a Playtonic Games (estúdio criado pelo ex-talento da Rare) demonstrou que partilha dessa mesma paixão e recorreu ao Kickstarter para recolher o apoio de todos os apaixonados. Demonstrando que não estavam a falar por falar, em menos de 24 horas Yooka-Laylee conseguiu amealhar €1 milhão e tornou-se num recorde na plataforma de financiamento público. Todo este furor em torno do projecto da Playtonic provou exactamente o que todos sabiam, existe um incrível interesse para ver a Rare regressar às origens e que os fãs de plataformas não esqueceram os encantos vividos com a incrível dupla dos anos 90.

A Playtonic desde cedo demonstrou que não tinha quaisquer problemas em olhar para este jogo como uma espécie de terceira entrada numa série que parece esquecida pelos donos dos seus direitos intelectuais. Depois de Banjo-Kazooie e Banjo-Tooie, muitos dos responsáveis pelos dois sucessos não parecem ter ficado muito contentes por não conseguirem trabalhar na série. Na Playtonic encontramos muitos nomes que trabalharam nesses dois nomes da Rare, o que ajudou a injectar incrível optimismo e confiança em Yooka-Laylee. É por essa mesma razão que assim que pegas neste novo jogo mais parece que estás a viajar no tempo, de regresso aos anos 90, ou ao início do milénio, para jogar o terceiro jogo que todos queriam mas que cruelmente nunca chegaram a receber.

Desde os primeiros segundos em Yooka-Laylee que entendemos o esforço da Playtonic em conferir carisma e personalidade a esta dupla. Sendo um jogo recomendado para jogadores de 10 anos ou mais, é fácil também entender que é uma proposta para os pais que cresceram com Banjo e que querem agora mostrar aos filhos os jogos de plataformas em 3D pelos quais se apaixonaram. Os mundos coloridos, os diálogos repletos de humor e tiradas satíricas que brincam com o legado do género, e não só, os adoráveis coleccionáveis e os vilões patetas são belos exemplos da alma doce e encantadora que a Playtonic conseguiu. Sem quaisquer problemas em demonstrar que se cola a esses dois clássicos sobejamente conhecidos, a Playtonic prometeu modernizar o género que ajudou a Rare Studios a cimentar a sua posição como um dos melhores estúdios da segunda metade dos anos 90. No entanto, a promessa não é cumprida em pleno.

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Yooka-Laylee transporta-te para vários mundos em que o foco está à procura de itens. O teu principal propósito é recolher itens e existem diferentes propósitos para cada com formas específicas de os obter. Yooka e Laylee perderam o seu precioso livro mágico, que espalhou as suas páginas por vários mundos para que os vilões trapalhões não as apanhem. Viajarás para estes mundos na esperança de encontrar as páginas e pelo caminho apanhas umas penas que te serão muito úteis. As páginas permitem expandir os mundos ou abrir o acesso a novos, enquanto as penas te permitem adquirir novas habilidades que servem para interagir com os cenários e adquirir mais páginas. Está tudo relacionado e a experiência funciona tal como nos clássicos da Rare. O mundo está todo aberto (os pedaços que desbloqueaste por enquanto) mas existem barreiras ou percursos que exigem habilidades que tens de comprar no vendedor. Quando ganhas essas habilidades, podes chegar a novos locais, resolver quebra-cabeças localizados, testar os teus dotes a saltar entre plataformas no timing certo, a e explorar o mundo para receber mais páginas.

A Playtonic apostou numa estrutura simples mas desafiante. Existem imensos coleccionáveis para Yooka e Laylee encontrarem e mistérios para resolver, é até possível que te transformem numa criatura diferente para comunicares com outras criaturas similares e só assim obter informações sobre como recolher mais itens. Quanto mais exploras e brincas com o mundo, mais recompensado serás. No entanto, nem tudo é fluído e dinâmico como seria de esperar. Por vezes o ritmo torna-se muito mastigado e a exploração aborrecida. Especialmente porque Yooka-Laylee corre a 30fps e os controlos não têm a precisão necessária. Será frequente sentires que os desafios e o mundo são geniais, dignos da Rare Studios, para ficares com a sensação que os controlos não desfrutam do mesmo primor e nível de qualidade. Algo que se pode revelar problemático.

Nesta busca incessante por itens para abrir caminho e encontrar mais itens, a adorável atmosfera dos mundos e os doces personagens principais podem não ser suficientes para incentivar a exploração. Alguns puzzles e secções de plataformas revelam o conhecimento existente na equipa que produziu este jogo, responsáveis por alguns dos melhores jogos no género, mas ainda assim não elevam a fórmula. A Playtonic pode gabar-se de modernizar o género mas consegue-o principalmente nos visuais e não tanto nos conceitos gameplay que apresenta. Yooka e Laylee saltam pelas plataformas em movimento, interagem com as suas habilidades para revelar pedaços escondidos dos cenários, correm pelos mundos para cuspir bolas elementares para causar grandes transformações nos cenários em redor, e até entram em corridas contra outros personagens, entre outras actividades e situações caricatas (tudo para ganhar mais páginas) mas não existe nada aqui que te vá fazer sentir que foi dado um grande salto no género. Esta modernização mais parece uma homenagem do que propriamente uma evolução.

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Visualmente, Yooka-Laylee é um jogo de resultados mistos, que num momento parece glorioso e majestoso com as suas perspectivas sobre os mundos coloridos, para nos outros revelar uma faceta mais básica que compromete o aspecto geral. Quando estás a jogar, estás mais concentrado no gameplay, nas plataformas, nos desafios, nos ritmos e em conseguir cumprir com os objectivos para aumentar os tamanhos dos mundos ou aceder a novos. Mas quando dás por ti mais relaxado e simplesmente a percorrer o cenário, será fácil encontrar elementos dos cenários que revelam as origens mais humildes deste projecto. Apesar do incrível talento que trabalhou neste Yooka-Laylee, nem tudo está ao mesmo nível. Ainda assim, facilmente perdoas estes momentos de geometria mais básica e acabas por te render ao aspecto geral altamente colorido e engraçado que juntará pais e filhos como poucos.

Algo que já não será tão facilmente perdoado é a sua vertente técnica, que apesar de cumprir não esconde alguns pequenos problemas que podem afectar a tua apreciação de Yooka-Laylee. Apesar de entrares em mundos com uma escala que vai crescendo, numa experiência tão focada no ritmo e que exige precisão dos controlos, especialmente devido à presença de imensos puzzles e secções de plataformas que procuram tirar proveito da verticalidade dos cenários, seria de esperar uma performance sólida que respeitasse tanto os controlos quanto o jogador. Yooka-Laylee não se sente assim tão sólido e fluído, especialmente porque a Playtonic optou por correr a 30fps e esse é talvez um dos maiores problemas no jogo. A resposta dos comandos é afectada e a sensação de lentidão ou peso em algumas secções prejudica o que poderia e deveria ser um jogo de plataformas 3D altamente energético, fluído e dinâmico.

Yooka-Laylee consegue em pleno cumprir com tudo aquilo que prometeu: tornar-se numa homenagem aos clássicos de plataformas dos anos 90 que brilharam especialmente na Nintendo 64. Promovido como um sucessor espiritual de Banjo-Kazooie, Yooka-Laylee é uma nova dupla que consegue captar a essência que apaixonou uma geração de jogadores. Para uma grande fatia dos que acompanharam a jornada da Playtonic desde a apresentação do projecto no Kickstarter, este será o jogo que foi prometido e uma viagem ao passado. No entanto, para outros será um jogo que se dedica unicamente a recriar um género que perdeu a glória de outrora e pouco faz para o levar além. Yooka-Laylee tem uma alma doce e conceitos interessantes, mas precisava de maior primor técnico.

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