Yoshiaki Koizumi
Sobre comentários abstractos de Miyamoto e como passou de criador de manuais Zelda para director de Mario Galaxy.
Shigeru Miyamoto é uma das pessoas mais influentes na estrutura da Nintendo. Responsável por uma imensa parte do património que a companhia de Quioto detém e sendo sempre uma voz respeitada dentro da empresa mas também fora dela ao ponto de ser reconhecido o papel preponderante na evolução e crescimento da indústria em diversas fazes, a verdade é que nos dias de hoje ele já não é o programador que desenvolve todo o trabalho em laboratório.
Continua a projectar algumas soluções para os sistemas da companhia a título pessoal, mas tem-nos feito em parco número, sendo sobretudo no acompanhamento, revisão e estudo coordenado de ideias junto dos "designers" mais novos que trabalham em departamentos, alguns fora da sede da companhia, que mais faz valer a sua presença. Afinal é o mesmo de sempre, o Miyamoto de Super Mario, Donkey Kong, Pikmin, Zelda, sempre à procura de novos desafios cada vez que se abeira de uma nova geração de plataformas. Talvez constitua um selo de originalidade, ao compreender e representar como poucos princípios básicos da interacção como um salto, aterragem e avanço entre plataformas de configuração variável.
Mas à medida que Miyamoto se afasta da “pedra partida” para abrir um périplo pelo mundo, desmultiplicando-se em entrevistas e colóquios nas mais importantes conferências, confirmando os próximos desideratos da companhia numa espécie de nova investidura de relações públicas e embaixador de uma das mais antigas e preferidas companhias, alguém toma conta dos projectos e do trabalho que há para fazer, imenso, medido em anos de estudo, pesquisa e muitas reuniões, dirigindo uma equipa num trabalho que tantas vezes acaba por ser pouco reconhecido e devidamente relevados esses autores. A capa de Miyamoto ainda é comprida e permanece ligada, por vezes excessivamente, à conclusão das mais recentes fornadas, nomeadamente Mario Galaxy 2. À medida que nos aproximamos energicamente do lançamento da sequela de um retumbante sucesso nem todos reconhecem Yoshiaki Koizumi como director.
Tomando em mãos o perfil deste japonês de 42 anos, licenciado na Universidade de artes em Osaka e há mais de 16 anos integrado nas fábricas da Nintendo, não é menos invulgar o CV e como contribuiu para um vasto naipe de jogos sonantes lançados pela Nintendo, a principiar em The Legend of Zelda a Link to the Past (criação do manual!) e acabar em Super Mario Galaxy. Pelo meio esteve fortemente envolvido, nas funções de director assistente em, The Legend of Zelda: Links Awakening (outra vez encarregado para o manual mas acabou por ter um papel activo no desenvolvimento do jogo), Mario 64 The Legend of Zelda: Ocarina of Time, Majora’s Mask, The Legend of Zelda: Wind Waker, Donkey Kong: Jungle Beat e já como director em Super Mario Sunshine. São por demais os trabalhos desenvolvidos e por isso se torna pouco compatível esquecê-lo e entregá-lo à sombra de Miyamoto. Com ele Koizumi aprendeu bastante, entre alguns aspectos decisivos, a experiência entregue ao jogador, ele que está no centro, sendo essencial que o jogador se sinta bem e confortável dentro do jogo, caso contrário a experiência dilui-se, asseverou Koizumi numa entrevista à revista Edge.
Quando chegou à Nintendo, Koizumi não estava muito certo quanto às suas funções e sobre que vertente de serviço se iria debruçar, acreditando talvez um pouco de forma ingénua que iria acrescentar histórias e tramas desenvolvidas às construções de Miyamoto, no que serviria de consolo para os jogadores que reciclam permanentemente como falha no jogo o rapto irreversível da princesa Peach. Mas lá está, o interesse de Miyamoto sempre passou por entregar ao jogador uma experiência que o deixasse no centro, abrindo novas possibilidades e habilidades de interacção e não tanto uma narrativa, sendo revelador da tendência para um argumento minimal a cada novo Super Mario. Koizumi percebeu isso, como o teor de um jogo passa por desenvolver soluções que deixem o jogador controlar absolutamente o protagonista e se mais outro expoente não houvesse para comprovar como bebeu os melhores ensinamentos de Miyamoto, Galaxy e a sequela que nos chegará em breve, atestá-lo-iam.
A fase de compositor de manuais de jogo, que o levou a fabricar gravuras desenhadas à mão completadas por sequências de texto que permitiam perceber os motivos da demanda, progressivamente foi alterada por outras e novas funções que o aproximaram do departamento de produção. O cruzamento de ideias com Miyamoto passou a fazer-se com regularidade, até porque qualquer jogo que tenha na capa Mario como protagonista tem necessariamente de passar por várias fases de observação e comentário. Koizumi compreende como poucos a avaliação do trabalho feita por Miyamoto, até porque este não se explica de uma forma muito regular, apelando ao abstracto e nunca directamente aos elementos em causa, deixando margem para os criadores abrirem a janela de ideias e fabricarem os próprios elementos, apondo depois um veredicto.
Galaxy não fugiu dessas bases e arrancou a partiu de uma simples questão de Miyamoto: “conseguem fazer algo com mundos esféricos?”. A partir daí atiraram-se ao desenvolvimento, seguindo pistas e resolvendo destes puzzles que levaram Koizume e sua equipa a validarem uma resposta do agrado de Miyamoto e ao mesmo tempo representativa de uma série de mundos desenhados de forma agradar ao jogador, sem o confundir, definindo mecanismos que de forma mais ou menos complexa formaram o teor da experiência. Novamente atado a Galaxy, Koizumi só recupera com distância e fora do tempo reservado à produção e para a interpretação do “feedback” de Miyamoto, o período em que editava manuais para alguns jogos Zelda. Para a Nintendo, Miyamoto ainda é primordial. Sem ele não haveria crivo ou selo de qualidade quando está em cima da mesa uma nova produção em torno das figuras que reivindica paternidade. Porém e com formação novos intérpretes conseguem representar e expor as ideias essenciais que voltam a encher novidade e colhem com surpresa os jogadores. Yoshiaki Koizumi terá definitivamente em Mario Galaxy a obra mais emblemática, provando assim que não só é capaz de interpretar plenamente os desafios de Miyamoto como poderá a breve trecho lançar-se para as suas próprias produções.