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Zombi - Análise

Zombilipses.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Perde a especial interacção com o GamePad mas fica acessível a mais jogadores. Uma sólida proposta no género sobrevivência.

Quando a Ubisoft lançou ZombiU, no final de 2012, em exclusivo para Wii U, como um dos jogos destaque no lançamento da consola da Nintendo, as coordenadas do "survival horror" ganharam uma entrada relevante. Não só está em causa um jogo original, com boas mecânicas e execução, como também exibe qualidades relativas à progressão que não deixam os fãs do género indiferentes. Mas o ponto de destaque no jogo é precisamente a interacção proporcionada com o GamePad, o comando com que a Nintendo queria mais uma vez revolucionar a indústria, mas que ao contrário do Wii remote, ficou bastante aquém do vendedor de sistemas planeado pela gigante de Quioto.

Não obstante, ZombiU nasceu como um jogo talhado para extrair o potencial do GamePad e isso é notório em vários elementos do jogo, de tal modo nucleares, que nesta nova versão para a PS4, Xbox One e PC, se mantém inalterada a estrutura, embora com as devidas adaptações. É verdade que em ZombiU encontramos a versão original, a ideia dos produtores sobre que tarefas incluir no GamePad. Entre o mapa, a coluna de som por onde emana a voz monocórdica de uma estranha figura que nos conduz por uma série de espaços labirínticos, um "scan" que nos deixa passar a pente fino o ambiente e um acesso rápido à nossa mochila onde depositámos os bens essenciais, a sensação de que tudo isto ajudava à imersão na própria experiência tornou-se numa garantia de qualidade do jogo.

Em Zombi, a Ubisoft Montpellier, responsável pelo produto original, reenquadrou as tarefas do ecrã do GamePad (o segundo ecrã) no ecrã principal, mantendo os sistemas e opções, agora disponíveis a troco de uma pressão executada em diferentes botões. Ao fim de breves minutos acostumámo-nos ao sistema como se também tivesse assim sido criado originalmente. Mas cumpre registar algumas diferenças. Por exemplo, no original o bastão era a única opção disponível para atacar os zombies à força bruta. Uma série de pancadas sucessivas na cabeça de um zombie deixavam-na em papa. Agora existe um outro bastão, com pregos na extremidade, capaz de neutralizar mais depressa as ameaças, assim como uma pá, adequada para os afastar com alguma eficácia quando actuam em bando.

As armas de fogo são como um alívio quando encontramos estas criaturas titubeantes. Mas atenção às munições disponíveis. Usem cada bala como se fosse a última.

A perspectiva na primeira pessoa contribui para o festim que é esmagar zombies, mas também injecta medo e receio. É um jogo misterioso, capaz de conjugar silêncios com sons perturbadores, sustos, cores escuras e locais mal iluminados, onde os inimigos encontram refúgio. Essa é uma das maiores características do jogo, que conjugada com poucas armas e munições, deixam o jogador muitas vezes com medo, invulnerável e indefeso, especialmente quando fez asneira e não é suficientemente rápido para fugir do perigo. Zombi é provavelmente o jogo de sobrevivência que desde há muito os fãs destas experiências vinham procurando. O que Resident Evil passou a oferecer num sentido inverso e alvo de criticas, não existe aqui.

"uma jornada fortemente aterradora"

Outra particularidade maior de Zombi é precisamente a ausência de uma personagem principal. O jogador limita-se a controlar os sobreviventes numa cidade Londrina caótica, prestes a ser consumida por inteiro pela praga zombie. Antecipando-se aos eventos trágicos, uma misteriosa personagem identificada como "The Prepper", construiu um abrigo com computadores numa paragem do metro. Acedendo ao sistema de vigilância e segurança, monitoriza grandes áreas da cidade, e é a partir daí que o papel do jogador assume relevância, uma vez que irá seguir as instruções que lhe chegam através do auricular.

Rapidamente acederá a uma mochila equipada com o "kit sobrevivência", e assim começa uma jornada fortemente aterradora, que nos levará por vários pontos icónicos da cidade, completamente envoltos num turbilhão, semi-destruídas, numa ramificação labiríntica algo densa e minorada à custa de umas saídas através dos esgotos, onde podemos encontrar ligação directa ao refúgio. Só que sempre que a nossa personagem perde a vida, começamos a jogar com uma outra (homem ou mulher), para insatisfação manifesta do nosso guia de serviço. A mochila fica à nossa espera, nas costas de um novo zombi, algures na zona onde ocorrera o ataque. Mas se formos atingidos mortalmente antes de lá chegarmos, perdemos todo o pecúlio acumulado. A estrutura lembra Demon e Dark Souls, embora moldada a um conceito um pouco diferente, sendo que a arma de fogo é crucial para que possam sobreviver.

"o modelo gráfico fica um pouco aquém da fasquia para as novas plataformas, mas nada que seja prejudicial ou que belisque a experiência"

O bastão fica coberto de sangue após algumas pancadas.

A forma como utilizamos os itens dita o nosso sucesso. Usar a arma de fogo sem parcimónia é o primeiro prego espetado no caixão, do mesmo modo que a insistência na luz da lanterna em espaços escuros, embora se ofereça útil para o nosso avanço, pode atrair a atenção dos zombies nas imediações, e lá temos nós que controlar mais um ataque inesperado. Para sermos eficazes temos que avançar cautelosamente, ao contrário de outras produções do género, que instigam à velocidade e favorecem uma entrada do tipo Rambo. Por vezes até a corrida frenética de um rato ou o agitar de asas de um pássaro é suficiente para nos assustar.

Para um jogo de 2012, produzido para a Wii U, o modelo gráfico fica um pouco aquém da fasquia para as novas plataformas, mas nada que seja prejudicial ou que belisque a experiência. Quase três anos depois ainda se joga muito bem. Na versão Xbox One (a qual analisamos) o jogo corre a 1080p, mas a 30 fotogramas por segundo. Não é que seja um factor crucial. Zombi joga-se muito bem nestas características, assim como a versão Wii U, mas fica a sensação de que algo mais poderia ter sido acrescentado. O mesmo vale para a campanha, que é exactamente a mesma e sem capítulos adicionais. O modo sobrevivência perfila-se como um teste para os jogadores mais exigentes, uma vez que o jogador é lançado na campanha só com uma vida. Quando morrer o jogo acaba e a pontuação é guardada numa tabela de liderança.

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Nada de opções para multiplayer e aquela que permitia, em Zombi U, ao jogador com o GamePad colocar zombies no caminho do outro jogador, não integra o conteúdo desta versão. Ainda que alguns possam ver isto como uma crítica, não creio que tenha grande consistência. Nem todos os jogos precisam de uma componente multiplayer só para que o conteúdo seja maior e um pouco diferenciado. Zombi vale sobretudo pela campanha, que não é muito grande, mas também se distingue pelas mecânicas e por um regresso às coordenadas do "survival". Se não puderam jogar na Wii U, uma versão que vale muito a pena por força da interacção proporcionada com o GamePad, encontram aqui uma boa opção, especialmente pelo preço reduzido e formato exclusivamente digital.

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