Animal Crossing: New Leaf - Análise
Mundo natural.
Animal Crossing: New Leaf assinala a estreia de um novo episódio da aclamada série da Nintendo na 3DS. É uma conjugação feliz, materializada não só nas novidades preparadas pelos produtores deste jogo, mas também nas funções da consola portátil da Nintendo, aproveitadas em pleno, de modo a fazer de New Leaf um jogo claramente melhor. Depois de um Animal Crossing: City Folk para a Nintendo Wii algo parco em novidades, a equipa de produção sentiu que era a hora de dar um novo alento à série. Não é certo que tenha sido por isso, mas as mudanças na chefia de produção terão ajudado ao avanço que os fãs queriam. À veterania de Katsuia Eguchi na produção, juntou-se a criatividade e a juventude da senhora Aya Kyogoku (anteriormente a trabalhar no guião de The Legend of Zelda: Skyward Sword) e de Isao Moro no plano da direcção.
De resto, e como os fãs desta popular franquia no Japão bem conhecem, Animal Crossing é um jogo de contornos muito especiais. Admito até, que dentro do género dos jogos sociais em tempo real, nenhum outro tenha tanta personalidade, humor e um muito apurado sentido estético como este. Além disso, Animal Crossing é uma experiência sem fim, sem um objectivo iminente a cumprir. Isto não quer dizer que seja um jogo desprovido de desafios, mas simplesmente os seus efeitos só acontecem se o jogador quiser, ao ritmo a que quiser. Por isso é que eu costumo dizer, se pedíssemos a uma equipa ocidental para fazer um Animal Crossing à sua maneira, teríamos um jogo com uma estrutura totalmente diferente. Mas bastam algumas horas de contacto com New Leaf, para percebermos porque é um êxito no país onde o sol nasce primeiro.
Esta série estreou na N64 como exclusivo japonês e só as edições seguintes para a GameCube (adequadas a melhorar o original que teve alguns problemas devido à pouca memória do cartucho) chegaram ao ocidente, sendo Animal Crossing: Wild World para a Nintendo DS, o primeiro jogo a trazer a maturidade internacional à série. Os japoneses já jogam New Leaf para a 3DS desde o final do ano passado. Mas o tempo de espera está a chegar ao fim.
Felizmente, AC: New Leaf proporciona muitas novidades e por via das funções on-line da 3DS leva ainda mais longe certos desejos antigos, como o sistema que permite a jogadores que tenham ligações de amizade, entrarem nas vilas uns dos outros, trazendo para casa bens como frutas e outros items que podem comprar na loja Re-Tail. Sob esse prisma, New Leaf é um jogo mais generoso em opções, gerando mais satisfação ao permitir que os jogadores e amigos saibam mais depressa como se expandem as vilas, vendo, dia após dia, como uns e outros têm progredido.
Essa visão ganha ainda mais destaque se pensarmos no novo âmbito de atribuições delegadas na personagem que criámos assim que chegámos à vila. Até aqui o objectivo assentava no pagamento do empréstimo pela compra da casa. Focado na realização de tarefas que lhe permitissem obter dinheiro para amortizar o custo da obra, a apresentação da vila a terceiros e outros jogadores, tornava-se meramente secundária. Agora, ao adquirir o papel de presidente da câmara, subindo à cadeira do velho Tortimer, que decidiu meter umas férias numa ilha tropical, o jogador tem nas suas mãos a semente de crescimento da vila, contando com a ajuda da precisa assistente Isabelle, uma carinhosa e muito trabalhadora auxiliar que passa os dias mergulhada na câmara municipal.
No entanto, New Leaf ainda é um jogo dotado de uma arquitectura tradicional e familiar, expondo os contrastes com outros jogos que simulam a vida social. Afastado de realismos desmesurados, é na sua simplicidade que esconde um mar de subtilezas, numa atenção surpreendente aos pequenos detalhes que não tem paralelo em qualquer outro sítio. É verdade que não existe um objectivo central a cumprir, nem um tempo limite. Os jogos da série Animal Crossing não punem o jogador se este optar por não pagar o empréstimo da casa, ou deixar crescer ervas daninhas e não colher a fruta diariamente e não se preocupar em aumentar a relevância do museu com novas e mais valiosas peças que deixam Blathers de olho aberto, mas também não deixa de pôr uma direcção e um sentido de progressão.
O jogador é incentivado a gastar algum do seu tempo, diariamente, divertindo-se nas diferentes actividades como pesca, caça de insectos, apanha de objectos na praia, podendo vender tudo isso para fazer dinheiro indispensável de modo a ampliar o espaço da casa e comprar bens a partir das lojas instaladas na main shop. Sem ter a pressão para desenvolver o que seja, é o jogador que estabelece o ritmo e assim, ainda que paulatinamente, vamos entrando no espírito do jogo, para de surpresa em surpresa, constatarmos que New Leaf, na sua simplicidade, está muito para lá de qualquer expectativa.
A passagem do tempo em modo real é uma das definições mais sonantes do jogo. O processo de passagem do tempo manifesta-se nas estações e diferentes condições meteorológicas, mas é nas festividades que acontecem coisas especiais, como no Natal ou na comemoração da chegada de um novo ano, quando as personagens se reúnem para celebrar e comemorar eventos. Assim, na passagem do ano e para o ocidente (Espanha e Portugal), existem uvas passas, enquanto que no Japão as personagens celebram o evento com outras coisas. Será possível trocar objectos e descobrir melhor outras culturas.