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Consolas nas escolas para ocupar os tempos livres

Estudo da investigadora Maria José Araújo abre discussão.

Hoje vou aproveitar para trazer um assunto despoletado no fim-de-semana passado e que até me deixa surpreso por não ter sido ainda ponderado pelos meandros das comunidades ligadas aos jogos, particularmente nos fóruns. Pois é, toda a gente sabe que decorreu o evento MyGames Zon em Lisboa com apresentações e conferências à mistura, concluindo que Portugal há-de um dia romper à brava nos grandes eventos (eu ainda acalento a expectativa de uma X09 na cidade do Porto – que já tem o Red Bull Air Race e o WTCC a passar na recta da Boavista, por isso está quase. Só precisa de vontade, Rio e também porque não uma E2 - Eurogamer Expo), mas quero antes remeter para um ponto no Expresso on-line, onde se publicou uma notícia com o título “Crianças deviam ter jogos de Playstation nas escolas”. Em subtítulo revela-se que “Especialista em educação defende”.

Isto no Expresso, uma publicação geralmente respeitada e assente em critérios editoriais como política, sociedade, internacional e economia, cuja audiência é em globalmente constituída por classe média e alta, geralmente pouco disponível a pactuar com tecnologias. Por isso, logo aí, e numa primeira análise, antevi que a trilogia Crianças, Playstation e Escolas, reforçada pelo dever de dar, num único tema, seria algo propício para despoletar mais uma pequena queima na praça pública, da autora do estudo e da indústria dos jogos. Não fiquei longe. Num país estreito, onde as novas tecnologias por vezes tendem a funcionar como objectos do demo, os jogos têm o espectro de um bicho papão. Uma coisa desviada, que deve ficar assim num canto.

Na verdade a notícia que veio a lume no Expresso baseava-se num estudo da investigadora Maria José Araújo do Centro de Investigação e Intervenção Educativa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, que em síntese aponta para uma recuperação dos tempos livres dos mais pequenos no horário pós-escolar através de actividades lúdicas, que promovam o relaxe e descanso “É urgente respeitar o brincar das crianças e reabilitar o sentido da actividade lúdica”.

Jogos da velha guarda como Sonic The Hedgehog têm sempre uma mecânica muito simples de interiorizar e são compativeis com períodos curtos e longos de jogo.

E nesse aspecto os videojogos podem exercer uma quota parte dessa função: “Os bons jogos de vídeo tanto do agrado das crianças têm imensas potencialidades que os adultos, que não jogam, não conhecem e desprezam”, acrescentou a investigadora. Mas nem só os videojogos servem para preencher as actividades lúdicas. Maria José Araújo salienta também a necessidade de reforçar as bibliotecas com materiais interessantes para escolher; como livros, jogos e revistas. Os espaços verdes no centro das cidades representam outro ponto a desenvolver, na promoção de actividades ligadas ao cinema, teatro e música, completando assim um ramalhete de áreas que ajudam a preencher os tempos livres em horários pós-escolares.

E possivelmente motivados por um arrojado título da notícia, a autora da investigação foi vítima de uma série de ataques em jeito de comentários logo disparados na notícia on-line. Desde ela está maluca, devia era rasgar os joelhos no chão e que não tem mérito nenhum para ser investigadora ao apresentar propostas deste calibre, poucos foram os utilizadores com acesso a comentário que se dignaram a ponderar e pesar devidamente uma proposta que inclui - e não faz só dos videojogos – as consolas como forma de ocupação no tempo livre. Bom, sempre se poderá dizer que naquele caso a maioria dos comentários fez-se à lá minute. Mas permite-se concluir que no nosso país a consideração pelo estudo científico dos videojogos e consequências que a sua aplicação pode ter na prática, estão longe de ser tomados com a merecida discussão por uma população à margem das comunidades agregadas em fóruns, sites, blogues e revistas especializadas.