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Donkey Kong Country: Tropical Freeze - Análise

Planeta dos macacos.

O recente cenário fotográfico da neve nos picos da ilha da Madeira veio relembrar que condições extremas, mesmo em zonas onde o clima é temperado, não deixam de ocorrer com alguma frequência, tornando assim menos surpreendente o cenário drástico proposto pela Retro Studios para o novo Donkey Kong Country. Ao observarmos algumas ilhas da nova aventura de plataformas de Donkey Kong e seus camaradas, somos surpreendidos pela variedade de climas que assolam as ilhas tropicais. Da savana à neve, passando pelo verde luxuriante dos trópicos há um pouco de tudo. Mas sempre foi assim. Desde que a Rare inaugurou a série para a Super Nintendo que o símio mais valente sempre se movimentou melhor na selva, o seu habitat perfeito. Contudo e debaixo da alçada da Retro Studios, há uma tendência para diversificar os cenários e enquadramentos. Tropical Freeze remete para uma grande transformação operada nas ilhas paradisíacas, mergulhadas numa era do gelo, fruto de uma vaga de ar muito frio oriunda do norte e arrastada por criaturas marinhas vikings a bordo das suas poderosas embarcações.

A história da série, principalmente a partir da produção pela mão Rare, mostra-nos que Donkey Kong Country, a aventura tradicional de plataformas em 2 dimensões, é quase um aferidor da capacidade de processamento da consola. A meio dos anos noventa e quando se pensava que já se tinha visto tudo para a Super Nintendo, a Rare quis dar ao mundo a oportunidade para experimentar mais uma fornada de plataformas sob uns retumbantes gráficos. A iniciativa foi de tal modo bem sucedida que acabaram por ser lançados mais dois títulos. Com tanta fartura entre qualidade é normal que a tendência para a repetição tenha prejudicado a evolução final.

Desembarque das tropas. Podem saltar sobre a cabeça de cada um, conseguindo mais elevação.

Ora, volvidas umas plataformas, a Retro Studios aceitou o desafio da Nintendo em devolver Donkey Kong ao protagonismo. O resultado foi o bem sucedido Donkey Kong Country Returns para a Wii, em 2010, um título que para lá da demonstração do bom desempenho levado a cabo pela produtora, revelou igualmente uma integração segura no comando por movimentos o Wii remote. No entanto, seria a sua estrutura mais familiar, aliada ao desenvolvimento gráfico possível na Wii, que fez renascer as boas memórias. Quando no ano passado, no primeiro dia da E3, a Nintendo revelou que o novo projecto da Retro Studios era afinal a "sequela" de DKCR, ficou no ar sentimento misto. Se é verdade que o seu desenvolvimento para a Wii U haveria de proporcionar novas metas, havia quem tivesse a certeza de que algo novo vindo de um estúdio que fez uma das mais espantosas recuperações de Metroid, com Metroid Pirme, seria uma espécie de cereja no topo do bolo.

Centrados em Tropical Freeze para a Wii U, os elementos da Retro Studios não tiveram dificuldade em lidar com a alta definição proporcionada pela nova consola da Nintendo, mas à medida que vamos abrindo o fulgor visual presente e o aspecto mais realista dos diferentes cenários, descobrimos que apesar do desenvolvimento de certas mecânicas, e do seu refinamento, muito do seu conteúdo ainda é uma herança de DKCR. A dificuldade continua a ser uma característica dominante desta série. É fácil ficarmos bloqueados num segmento que implica uma boa capacidade técnica.

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As batalhas contra os adversários no último nível de cada mundo quase que se perfilam como uma montanha íngreme impossível, até uma primeira abordagem mais concreta. Só que quando damos pela nossa presença perto do topo, um descuido ou um obstáculo atiram-nos para o sopé e lá volta tudo ao começo. Não é impossível vencer Tropical Freeze, Metal Slug 3 é pior, mas vai dar muito trabalho a quem quiser completar o jogo a 100%. Ainda assim, dei por mim a divertir-me imenso com estas plataformas em forma de scroll horizontal num grafismo 2D e meio. A física é perfeita e se perdemos não é por um deslize do computador, é porque não activamos os botões necessários no momento certo. Apesar das frustrações decorrentes das inúmeras perdas de vida que teimam em travar a progressão, a satisfação pelo cumprimento da chegada ao fim do nível ou daquela saída secreta que nos dá outra fornada de níveis supera quaisquer circunstâncias agravantes.

Não falta de resto musicalidade no jogo, se por ela entendermos uma sintonia perfeita entre movimentos e música. Há uma dimensão quase coreográfica que nos leva a seguir de perto alternativas como New Super Mario Bros. U ou então a grande surpresa dos últimos tempos: Rayman Legends. É aqui, neste ponto de comparação, que Tropical Freeze mostra que a Retro Studios parece sentir com a série as mesmas dificuldades por que passou a Rare. Não obstante o bom trabalho em termos visuais, a jogabilidade não é muito diferente de DKCR, e o afastamento do ecrã táctil como elemento interactivo - que em Rayman Legnds se transformou numa componente essencial, capaz de sobrepor a versão Wii U às restantes -, limitou as possibilidades de expandir o conceito das plataformas.

O movimento sobre o gelo oferece algumas contrariedades.

Aliás, o GamePad acaba por ser tão irrelevante, que no caso de seleccionarmos o modelo de jogo entre comando e televisor, o ecrã do comando simplesmente apaga-se, evitando o consumo de energia. Claro que podem sempre jogar no GamePad seguindo por lá a acção, mas não há qualquer interacção com o ecrã táctil, nem algo mais que a este nível diferencie verdadeiramente DKCR de Tropical Freeze. Sem deixar de assinalar o bom trabalho em termos de plataformas e jogabilidade, a sensação é de uma sequela 2.0 que se aproxima demasiado do trabalho original, quando devia estar precisamente a penetrar no quadro de uma maior autonomia das produções para a Wii U.

Indo ao concreto, comecemos pela história. Donkey Kong está a celebrar o seu aniversário juntamente com o sobrinho Diddy Kong, Dixie Kong e o velho Cranky quando subitamente uma embarcação de animais marinhos vikings congela a ilha do nosso protagonista num furacão de ventos gelados que disparam Donkey Kong e seus comparsas para uma ilha algo perdida no oceano. Sozinho ou ajudado por alguma das outras personagens através de um modelo de jogo para dois jogadores em modo cooperativo, o símio terá que viajar de ilha em ilha até alcançar o seu último mundo que é também a sua casa e descongelar a ilha ao mesmo tempo que põe um fim à ameaça viking, repondo o clima tropical.