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Far Cry 3: Blood Dragon - Análise

O futuro é retro.

Por norma sou bastante cauteloso quando tenho que decidir relativamente a uma expansão ou conteúdo adicional pago de um jogo. Se já paguei por um produto completo, porque me querem levar a investir em mais conteúdos que deviam acompanhar o original? Não quero com isto dizer que era melhor há uns anos, quando os jogos não mais eram alterados depois de editados e que por causa disso os produtores tinham mais cuidado nas suas produções, desenvolvendo até onde podiam antes de lançarem o jogo. Reconheço, porém, que há vantagens nas actualizações. Elas permitem emendar alguns erros, e através dos conteúdos suplementares os fãs prolongam por mais tempo o contacto com o jogo, enquanto que a editora mantém o seu jogo em destaque por mais tempo. E depois sempre é mais um motivo para lançar uma edição do ano, uma edição lendária ou outra que reúna fatias do mesmo jogo disponibilizadas nos últimos meses. Mas também estou convencido que há conteúdos opcionais pagos que nem sempre se demarcam o suficiente da experiência principal, oferecendo pouco conteúdo para justificar uma compra. Felizmente não é o que acontece com Far Cry 3: Blood Dragon. Esta expansão independente do excelente Far Cry 3 constitui um verdadeiro trabalho de casa, uma alternativa e oferece novos motivos de interesse para quem jogou ou não Far Cry 3. Este é daqueles conteúdos que para além de poder ser comprado e jogado em separado, pode atrair ainda mais jogadores para o mundo Far Cry.

E não faltam motivos para sugar até ao tutano este mundo aberto futurista em tons retro. Apesar de pegar na já excelente estrutura de Far Cry 3, arquitecta mais algumas mudanças dentro do combate e proporciona um design inspirado nos filmes (retro) futuristas e cibernéticos da década de oitenta, assim como nos jogos 8 e 16 bit, elementos que projectam este DLC. Das luzes néon aos lasers, fatos especiais e policias cyborgs, este jogo exala uma era perdida da ficção científica e também vai buscar inspiração aos jogos clássicos como Bionic Commando. Da fita VHS gasta, clubes de vídeo e um futuro apocalíptico, Blood Dragon apresenta-nos uma personagem principal machista e permeável aos mais diversos contextos de combate, sequiosa por emparelhar corpos de inimigos cyborgs, mutantes e dragões.

"Em Far Cry 3 era possível usar os animais da ilha como isco para atacar os adversários. Esse papel sai reforçado com os Blood Dragons."

O design é o ponto de partida mais firme para esta renovada experiência de Far Cry 3, ainda que a estrutura do jogo seja bastante semelhante a Far Cry 3. Temos assim o regresso de uma ilha e de um ambiente tipicamente sandbox que leva o jogador a distanciar-se a qualquer momento do trilho da história para cumprir uma série de missões a seu bel-prazer. Até aí tudo bastante idêntico, mas é à custa deste especial design retro futurista que este conteúdo adquire uma especial relevância.

Como complemento de Far Cry 3, Blood Dragon posiciona-se como uma verdadeira alternativa; um jogo que merece ser jogado pelos fãs e até mesmo por quem ainda não descobriu este legado da Ubisoft. Blood Dragon remete o jogador para um futuro retro de inspiração cibernética, onde irá conhecer a personagem principal, Rex Colt, um comando cyborg Mark IV delirante por muita acção e por uma aguda verborreia. Um olho humano e outro robótico, é por este que melhor identifica os inimigos através de uma apresentação típica de negativos capaz de os assinalar, mesmo quando se encontram atrás de paredes e outras divisões.

O tempo é 2007 e numa ilha estão a acontecer experiências assustadoras. Após um conflito nuclear, um grupo conhecido como Omega Force executou certos projectos científicos que não tiveram o melhor resultado. Nos dragões foram instalados chips que visavam o seu controlo, mas os resultados fracassaram e estas criaturas que mais parecem dinossauros T-Rex, são agora autênticos dinossauros à solta. Entre mutantes e um exército cyborg, a demanda de Rex Colt é a de um "one man army". A ajuda providenciada pelos aliados de inteligência artificial é sempre escassa e todo o trabalho que terá pela frente torna-se numa tarefa solitária mas altamente empolgante e permanentemente divertida.

Em Far Cry 3 era possível usar os animais da ilha como isco para atacar os adversários. Esse papel sai reforçado com os Blood Dragons. Integrados na nova palete luminosa que lhes dá diversas cores consoante o seu estado emocional (o verde assinala a tranquilidade, o amarelo revela um estado intermédio e o vermelho é o alerta para o ataque iminente), a sua utilidade é posta à prova quando os distraímos usando os corações arrancados aos inimigos mortos. Estes pequenos doces são óptimos para os lançarmos na direcção do inimigo e criar mais confusão. Os Blood Dragons acusam o fracasso das experiências científicas e não só mordem a valer como ainda disparam raios laser fulminantes.

Mas os Blood Dragons não só se apresentam como um elemento único e parceiro de batalha em campo aberto, como também podem actuar em zonas interiores, nas diversas fortalezas onde a Omega Force executa os seus projectos militares e científicos. Nos pontos onde se estende a sua autoridade e por forma a repelirem os ataques dos Blood Dragons, os seus engenheiros criaram uns escudos protectores que impedem os dragões de entrar. A única alternativa que nos resta para conquistar os fortes passa por desactivar o escudo e provocar a entrada destas criaturas. E enquanto os inimigos procuram derrubar os dragões, temos mais tempo e espaço para espalhar ainda mais caos e explosões. É uma mecânica bastante interessante, mas nem sempre favorece os resultados mais previsíveis, desde logo porque a saúde dos dragões é imensa, sendo muitas vezes infrutífero pensar abatê-los com a mesma facilidade com que limpamos o sebo a uma patrulha de cyborgs. Apesar de terem má visão, detectam a nossa presença à custa do movimento e à mínima tentativa de fuga acabam com a nossa saúde.