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Ferrari the Race Experience - Análise

Visita a Maranello.

Para os fervorosos fãs do cavalo de Maranello é verdade que já lá vai uma temporada desde Ferrari 355 Challenge, um jogo situado algures entre uma experiência arcade reminiscente dos saudosos tempos do primitivo OutRun e um projeto pessoal ancorado numa condução mais realista tendo por base um dos mais belos modelos da Ferrari, o F355. Projeto estritamente pessoal de Yu Suzuki, viria a marcar uma fase nas arcades, posteriormente alargada à Sega Dreamcast para exploração a fundo no conforto do sofá. Um verdadeiro trabalho de devoção, com direito a elementos personalizados na versão arcade, onde não faltou a caixa de velocidades de 6 ranhuras dotada de um manípulo com bola de aço na ponta e o triplo ecrã para não deixar fugir a "acção" lateral. Tudo como mandava a lei.

Yu Suzuki quis fazer daquele jogo uma experiência tão assertiva quanto possível, embora compaginável com os moldes de uma produção arcade. De tal modo que acabou por comprar um desses sonhos que a Ferrari tão bem sabe fazer para assim recolher o máximo de informação. Sem mais espaço e orçamento para sequelas, F355 Challenge tornou-se num produto marcante do seu tempo, deixando uma particular saudade dos fãs que o jogaram nas arcades e posteriormente levaram as corridas para casa.

É por isso que encaramos com um espírito renovador, Ferrari the Race Experience da veterana Eutechnyx. Este modesto estúdio britânico já entregou outras produções baseadas na simulação automobilística como Supercar Challenge, Nascar the Game: 2011, entre outros. Aliás, esta experiência com a Ferrari começou por fazer parte de um exclusivo Nintendo Wii (Ferrari Challenge Trofeo Pirelli - acompanhado por Bruno Senna) que transitou em 2010 para a PS3 como título descarregável e fortalecido em opções. Mais carros, recentes e clássicos, mais pistas e modos adicionais de jogo, o conteúdo do jogo ficou bem mais consistente. Um ano depois a System 3 lança o jogo em formato físico, procurando mais uma vez seduzir os fãs através de uma marca que gera paixões e da qual é impossível não encontrar um carro que não valha por qualquer coisa de fascinante.

Sabemos de antemão que a Eutechnyx não é um estúdio particularmente abastado economicamente e que a maioria das suas produções acaba por formar uma espécie de segunda linha de um género que todos os anos é disputado por grandes produtoras detentoras de autênticos colossos. O "timming" do lançamento também não ajuda. O período natalício conhece sempre grandes apostas e sabe-se bem que a manta não estica. Contudo, os fãs e entusiastas de um bom "racing game" saberão estar atentos e se quiserem podem sair daqui satisfeitos desde que se preparem para um jogo que não transcende. Uma visita a Maranello seria bem melhor, claro está. Conduzir um modelo autêntico na pista de testes então nem se fala. De todo o modo, antes isto que nada.

O segredo está na quantidade de carros

Se F355 Challenge redundou num eficaz jogo de um só automóvel, Ferrari the Race Experience acomoda uma quantidade abissal de modelos saídos da fábrica de Maranello. Só lhe falta mesmo os fórmulas da Scuderia. Dos clássicos, passando pela sempre entusiasmante geração de noventa e já do novo milénio autênticos devoradores de asfalto como o Ferrari 599 XX ou o novo modelo endiabrado 458 Italia, é impossível não ficar tentado por conduzi-los a todos mal entramos no jogo.

Porém, a Eutechnyx, e bem, colocou um travão nessas intenções. Se querem chegar aos melhores carros terão de pular e se esforçar até os merecerem, isto é, vencendo provas em fins-de-semana disputados através de 2 mangas com direito a qualificação para definir com justiça a grelha de partida. 2 voltas rápidas chegam para provar a adaptação à pista

Saindo vitoriosos poderão encaminhar os créditos para outras competições desde que adquiram o veículo necessário. O modo carreira constitui o principal filão do jogo. Subdividido por agrupamentos como GT-Race, Road - GT e Classics, cada uma destas categorias dá acesso a um conjunto de campeonatos associados a modelos específicos. Para começar poderão escolher um modelo dos mais baratinhos. O F355 é uma boa opção mas logo que reunirem mais alguns créditos sentir-se-ão tentados a passar para modelos como 458 Italia, California, F50, entre outros ainda mais exigentes.

No modo carreira poderão disputar vários campeonatos em simultâneo. A gravação automática permite gerir os dados de forma eficaz assim que completarem as corridas. Por isso, tudo dependerá dos créditos em caixa para escolher onde competir. Naturalmente que os campeonatos mais interessantes estão à partida condicionados pela aquisição de modelos milionários, mas a seu tempo sempre chegarão às melhores provas.

Modo carreira dilatado

Contudo, as primeiras horas de jogo revelarão alguma monotonia. Os Ferrari menos potentes padecem de musculatura e o ruído emergente das mudanças, motor e pneus a derrapar é contrastante com a banda sonora normalmente proporcionada por estes roedores de asfalto. Chega a parecer um passeio, sem grande dificuldade. Podendo transformar o estilo de condução, algures entre o arcade e a simulação, nenhum dos dois é particularmente excitante enquanto não passarem aos carros de nível superior. Será, contudo, um bom tónico para os menos ocupados nestas andanças. Antes de entrarem no jogo propriamente dito poderão passar por um "trial" em Maranello, onde serão postos à prova e observados atentamente pelo vosso instrutor que vos dirá o que fazem bem e mal.

Umas voltas garantem a adaptação, mas começam por demonstrar que é um jogo que atinge depressa limites. A sensação de física dos veículos é normalmente satisfatória. Cumprindo o "timming" da aceleração e travagem marcados pela linha de trajetória entre verde e vermelho, temos reunidos os condimentos necessários para uma volta rápida. Porém, as sacudidelas do carro, especialmente da traseira quando estamos a negociar uma curva nos limites, são demasiado previsíveis e nunca sentimos uma violência da escorregadela.